Parte 47

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  Laura

   - Que porra tá acontecendo aqui?

    Falei alternando o olhar entre Faccine e Roberto.

- Guarda, la principessa ha la bocca sporca. (Olha, a princesa tem a boca porca.)

    Encarei o homem que havia falado e ele sorria pra mim como se eu fosse um bicho exótico.

- Laura abaixa essas armas, a gente precisa conversar.

    Faccine se pronunciou pela primeira vez, olhei para Coringa esperando alguma reação de sua parte, mas ele continuava imóvel.

- Forza Joker, sistemala, non abbiamo tutto il giorno. (Vamos coringa, de um jeito nela, não temos o dia todo.)

   Coringa veio até mim lentamente e retirou as armas das minhas mãos.

- Quem são essas pessoas?

    Perguntei baixo para que apenas ele ouvisse.

- São do tribunal, por favor faça o que eles mandam.

    Seus olhos me suplicavam por isso e eu apenas concordei com a cabeça.

- Tudo certo, podemos ir agora?

     O outro homem que acompanhava Faccine finalmente se pronunciou, Coringa apenas fez que sim com a cabeça, caminhamos até eles e fomos até alguns carros que estavam estacionados, entrei em um com Coringa, Faccine e o cara italiano, já o resto foram em outros carros. Encostei a cabeça no ombro do Felipe e fechei meus olhos, não fazia ideia do que estava acontecendo, e ver o Roberto junto com eles me deixou com muito mais medo.

[...]

    Quatro horas depois desembarcamos em um heliporto na cidade de São Paulo, estávamos em um hotel muito chique pelo visto, já logo na descida me separaram de Felipe, ele foi por um lado e dois dos seguranças me acompanharam por outro caminho, descemos pelo elevador e saímos em um corredor enorme e ele me indicou uma porta, provavelmente de um quarto. Entrei sem dizer nada e ouvi a fechadura ser trancada em minhas costas, finalmente pude deixar as lágrimas que estavam presas rolarem livremente por meu rosto, eu estava sozinha, não sabia o que estava acontecendo, me separaram do meu irmão e o pior de tudo o PCC estava envolvido nessa história, eu só podia esperar o pior.

   Fiquei durante horas ali andando pra lá e pra cá sem saber o que fazer, se continuasse assim ia abrir um buraco no chão, ouvi a porta destrancar e Faccine passar por ela com uma sacola em mãos, ele deixou-a sobre a cama e veio até mim.

- Laura, que saudades de você.

   Falou tentando me tocar, mas eu recuei.

- O que está acontecendo Leonardo?

    Ele abaixou a cabeça e mordeu os lábios demonstrando nervosismo.

- Fala logo.

- Roberto te reivindicou para os outros do tribunal.

- COMO ASSIM? Já passamos por isso. - Me alterei passando as mãos na cabeça. - E outros, que outros, não era só você? 

- Somos em três, eu Pietro e Jean. Roberto entregou um teste de DNA pra eles, disse que Coringa te sequestrou.

- Mas eu não fiz aquele vídeo idiota?

- Não é bem assim, nós pensávamos que ele não era nada seu, mas ele é seu pai e você é herdeira do PCC.

- E se eu não quiser ir?

   Perguntei já com medo da resposta.

- Você não tem escolha.

- Porque vocês não o matam, ou... ou sei lá, deixem o Coringa matar, faça alguma coisa.

    Me sentei na cama deixando o desespero tomar conta de mim.

- Laura, presta atenção, nós pensamos em todas as possibilidades, até em fugir para o meio da mata amazônica eu pensei, mas não dá, não temos ordem para matar chefes, nem o Coringa e se fizermos isso você morre. 

 - E o que Roberto vai fazer comigo?

- Ele não pode te fazer mal, depois que ele te apresentar como herdeira eu vou pedir sua mão, o desejo dele sempre foi ser ligado a um dos chefes do tribunal.

- Tem certeza?

    Olhei pra ele tentando conter as lágrimas.

- Tenho, esse era o motivo por ele te manter com ele.

  Abaixei a cabeça e concordei com ele.

- Vem cá, vai ficar tudo bem.

    Senti seus braços arrodearem meu corpo e me permiti chorar ainda mais, isso precisava acabar, Roberto me tirou o direito de ter uma mãe, infernizou a vida do Coringa, não é justo ele ganhar.

- Escuta. - Faccine falou segurando meu rosto entre suas mãos. - Eu preciso que você tome um banho e vista a roupa que eu trouxe, vamos ter uma reunião daqui a pouco.

- E Felipe? Tenho medo dele fazer alguma besteira, não quero perdê-lo.

- Ele já está ciente, não se preocupe.

   Me levantei e fui em direção ao banheiro, tirei minha roupa e entrei embaixo daquela água quente deixando as lágrimas se misturarem com ela, não tinha forças para encarar esses bandidos e muito menos Roberto com seu sorriso sínico de vitória, mas era preciso, e eu ia lutar por mim e por meu irmão.

   Terminei de me vestir e me olhei no espelho, passei uma maquiagem leve para amenizar minha expressão abatida e ajeitei meus cabelos que estavam bagunçados, algum tempo depois os mesmos seguranças da outra hora veio me buscar, já era noite e fazia um pouco frio lá fora, ele me guiou até uma sala no fim do corredor abrindo a porta para que eu entrasse.

    Na sala estava eu, Faccine, Roberto, Felipe, Pietro e o tal do Pierre, Jean Pierre se não me engano, os seguranças ficaram todos do lado de fora e apenas nós seis nos encarávamos até Pietro quebrar o silêncio. 

- Molto bene, eccoci qui Roberto, la ragazza è lì come voleva. (Muito bem, cá estamos Roberto, a garota está aí como queria.)

- Pietro, em português, per favore.

   Faccine pediu ao tal Pietro que concordou com a cabeça.

- Roberto, agora você tem que cumprir com o trato, nada de confusões sem fundamento.

- Vocês deviam acabar com esse infeliz que sequestrou minha filha, isso sim.

    No mesmo instante olhei para Felipe que se mantinha calado, mas qualquer um percebia que ele estava no limite, e essa era a intenção de Roberto, fazer com que ele perca o controle e enfrente o tribunal.

- Não precisamos que ninguém diga o que devemos fazer, e outra, já sabemos da historinha de vocês, por isso chegamos em um acordo que todos saem ganhando. Laura vai ser devolvida ao PCC, e ela tem nossa total proteção, nada vai acontecer a ela, Joker continua com a vidinha dele e todos saem ganhando, hai capito?

 - E a minha opinião não conta nessa história toda?

    Falei indignada alternando meu olhar entre eles.

- Você é só uma pecinha sporco que apareceu para atrapalhar nossas vidas Laurinha, o que você prefere, ficar com seu irmãozinho e continuar esses conflitos inúteis e prejudiciais aos comandos? - Ele se aproximou de mim apontando o dedo em minha cara. - Pois saiba que o final dessa história será homenageado com o enterro de todos vocês, maledetta ragazza. 

   Sustentei seu olhar sem nem piscar, ele falava como se eu fosse um animal qualquer e isso me dava ódio.

- Finalizamos por aqui, Roberto, leve-a e lembrem-se, qualquer confusão entre os dois comandos por causa dessa coisinha não terá perdão, Pierre andiamo.




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