Faccine
- Anda filha da puta, fala alguma coisa. VAI CARALHO!
O cara magrinho gritou com a Laura e eu saquei minha pistola na hora apontando pra ele.
- Abaixa tua bola aí meu parceiro.
- O irmão Faccine vai querer pagar de doido agora?
- BASTA! - Pietro gritou e todos se calaram. - Ragazza, responda o que pretende fazer?
- Acha mesmo que eu tenho cara de quem vai comandar facção? Pensa bem, é os negócios de vocês que vai estar em minhas mãos.
- Vai ramelar agora né patricinha, papo de fuder, mete marcha nessa porra.
- BASTA RD, EU JÁ DISSE BASTA! Não vamos complicar as coisas, eu já tenho muitos problemas pra resolver, se a ragazza é herdeira ela tem direito de passar o comando pra quem ela quiser.
Todos olhamos para Laura e ela encarava RD com um olhar mortal, sinceramente eu não conhecia esse lado dela, era como se a qualquer momento ela fosse atacá-lo.
- Então, aqui está todos os parceiros do seu pai, é só escolher um.
Um silêncio tomou conta do lugar, e uma tensão ficou no ar.
- Eu escolho o RD.
Todos se entreolharam surpresos e Laura caminhou lentamente até o RD, vi que ele hesitou, mas manteve a pose, ela passou a mão lentamente em seu rosto falando no seu ouvido, eu pude ouvir pois estava próximo aos dois e pronto para qualquer movimento errado da parte dele.
- Eu entrego o comando nas tuas mãos, só pra ter o prazer de ver meu irmão te matar na primeira oportunidade que tu pagar de doido.
Ela se afastou e todos começaram a se cumprimentar finalizando a reunião, eu realmente não esperava que Pietro nos ajudaria poupando a vida da Laura, mas aquele problema já tinha se estendido demais, estava afetando os negócios da organização e atrasando os lucros, de alguma forma a morte do Roberto foi bem-vista por ele, afinal nós não podíamos dar um fim naquilo, mas Laura sim, ela tinha o aval de herdeira.
Alguns minutos depois todos os presentes na sala haviam se retirado restando apenas nós dois, me aproximei dela que estava parada em frente ao corpo do Roberto, o palco era um pouco mais alto do chão, o sangue ainda escorria pela parede pingando próximo aos seus pés.
- Eu não tive outra escolha.
- Tá tudo bem.
- Não Leonardo, não está tudo bem, esse monte de carne morta é meu pai.
- Laura...
- Ele me obrigou a isso, quando eu entrei na sala em que ele estava, por um segundo cheguei a pensar que veria alguma fagulha que seja de amor ou de arrependimento. - Ela se virou de frente pra mim e seus olhos estavam repletos de lágrimas. - Mas eu sou só a sementinha do mal.
- Não fala isso, por favor.
Me aproximei de seu corpo e ela desabou de vez, seus soluços eram altos e sua respiração irregular, seria uma luta pra apagar mais uma desgraça que decaiu sobre alguém inocente.
[...]
Depois de muito custo consegui tirar a Laura daquele lugar, foram 4 horas de viagem até o Rio, perguntei se ela queria ficar no meu apartamento, mas ela disse que só queria seu irmão.
Enquanto eu dirigia, ela se mantinha calada e com a cabeça escorada no vidro, eu imagino quantas coisas deviam estar passando em sua mente, e o pior de tudo era eu não saber do que Roberto estava tramando e ver que ela tomou uma decisão perigosa sozinha apenas para não me colocar em risco.
- Ei. - Falei colocando a mão em sua perna pressionando levemente. - Você está tudo bem?
- Sim, só um pouco confusa.
Eu ia dizer algo mais fui surpreendido com vários carros na entrada do morro, tinha muitos homens armados e pareciam bem agitados, estacionei o carro mas pra dentro do beco próximo a eles e nós dois descemos tentando entender o que estava acontecendo, cheguei em um dos caras que estava ali e perguntei qual o motivo da bagunça.
- O Coringão tá pilhado, reuniu geral pra buscar a irmã dele, papo de guerra tá ligado?
Acabei sorrindo com a audácia do Coringa, realmente o cara era maluco, peguei na mão da Laura passando no meio daquele monte de traficantes e entramos em uma das salinhas que ficava no pé do morro, do corredor já dava pra ouvir os gritos dele de dentro da sala.
- SEIS ENTENDEU ESSA PORRA? NÃO INTERRESA QUEM ESTIVER LÁ, VAI ENTRAR TUDO NA BALA.
Encostei na porta olhando pra ele, seu rosto estava abatido e seu semblante transtornado.
- Eu só acho que você não tem permissão para entrar em território alheio.
Falei alto para que todos ouvissem, MK e França também estavam presentes, e no mesmo instante me olharam, Coringa arregalou os olhos e se manteve imóvel.
- Vai passar por cima de ordem minha?
- Faccine? Você... minha irmã...
- Tá tudo bem Felipe, a sementinha do mal ainda está aqui.
Laura falou saindo de trás de mim, suas palavras me tocaram de alguma forma, essa era uma mágoa que estava a consumindo e isso doía em mim.
- Laura? Eu... eu pensei que...
E mais uma vez presenciei meu amigo chorando, não sei dizer se era desespero, aflição ou apenas alívio em saber que nada tinha acontecido a ela, os dois se abraçaram e Laura se aninhou em seus braços como uma criança amedrontada.
Os demais presentes na sala foram saindo aos poucos, pedi para França dispensar a todos que estavam lá fora e dizer que tudo estava resolvido vindo de uma ordem direto do tribunal.
- Manda o papo, o que aconteceu? Os caras chegou dizendo que a Laura fechou o 157. Táva preparado pra meter marcha, ia destruir aquela porra.
- Foi isso mesmo que aconteceu, eu assumi o posto de herdeira e matei o Roberto.
- Tu pirou de vez Laura?
- Não tive outra escolha Felipe.
- E agora?
Ele perguntou mais pra mim do que pra ela.
- Tá tudo certo Coringa, o PCC tem um novo no comando, Laura passou pro RD, ela continua como sua responsabilidade e tudo volta ao lugar agora.
- Pera ai, como que o tribunal engoliu essa sem meter o loco?
- Roberto já tinha passado dos limites, ele estava tramando casar a Laura com o Pierre na intenção de fazer o que quiser dentro do comando, quando isso foi exposto Pietro desconsiderou totalmente a afronta da Laura.
- Quem me dera ter a oportunidade de pôr as mãos naquele rato, eu ia espremer ele pelos meus dedos.
Coringa falou passando as mãos nos cabelos atordoado.
- Acabou Felipe, ele está morto, considere sua mãe vingada.
Laura falou respirando fundo tentando se manter firme, o que me parecia difícil naquele momento.
- Nossa mãe meu amor, nossa mãe.
Ele falou segurando seu rosto entre as mãos.
- Porra, eu nem consigo imaginar você sozinha no meio daqueles lobos.
- Eu estou aqui agora, me leva pra casa, por favor? Eu só quero esquecer tudo isso.
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Paz Justiça e Liberdade
General FictionLaura uma menina órfão de mãe e abandonada pelo pai, foi criada por seu tio Roberto, um dos chefes do Primeiro Comando da Capital. Obrigada a cursar medicina contra sua vontade para trabalhar em uma penitenciaria dando apoio aos membros da facção...