Coringa
- Caralho Coringa, se controla.
Joguei uma das cadeiras do balcão contra os armários fazendo voar cacos de pratos para todo lado.
- POR QUE VOCÊS DEXARAM ELE LEVAR MINHA IRMÃ PORRA?
- Tu sabe que não dava, é pra segurança dela.
- Segurança o caralho. O que cê acha que ele vai fazer com ela porra?
- NADA, ele não vai fazer nada se você se controlar, eu já te passei a visão de qual é o plano.
Me joguei no sofá me sentindo um fracassado, eu já estava de volta a minha casa e já fazia mais de 24 horas que a Laura está com PCC.
Faccine falava aquilo mais tenho certeza de que ele estava tentando se convencer a si próprio.
- Se liga Coringa, vai dar tudo certo, Roberto não vai pisar fora, ele só quer o comando.- Tá, e depois que ele fazer parte disso tudo aí, quem vai parar esse filha da puta?
- Você vai ter que aprender a conviver com isso, ou escolhe estre essa sua vingança e a vida da Laura.
Respirei fundo afundando as costas de vez no sofá e colocando as mãos no rosto.
- Oi, tudo bem por aqui?
Carla chegou na sala olhando tudo ao redor parecendo preocupada.
- Coringa só está um pouco nervoso, mas ele vai se controlar, não é Coringa?
- Olhei minha mulher ali na minha frente com os olhos todo inchado de chorar e me lembrei do dia da invasão, ela tinha ido fazer um exame de gravidez, mas até agora não me falou nada. Desde que cheguei ela apenas perguntou sobre Laura, Faccine contou o que tinha acontecido e ali eu a vi desabar, foi difícil acalmá-la e agora quem estava surtando era eu.
- Vai ficar tudo bem amor, vem aqui. - Falei estendendo a mão para ela trazendo-a para meu colo. - Tá melhor?
- Estou sim... é eu preciso te contar uma coisa, sei que não é o momento, mas eu tenho que contar.- Eu acho que essa é minha deixa.
- NÃO! -Faccine ia se retirar, mas Carla não deixou, talvez estivesse com medo da minha reação. - Fica, por favor.
- O que houve?
Perguntei mesmo sabendo a resposta.
- Lá vai, já tem uns dias que estou passando mal, Laura começou a desconfiar e me obrigou a fazer um exame e eu estou grávida.
A sala ficou em total silencio por alguns instantes até ser quebrado por Faccine.
- Porra Carla, pensei que fosse algo grave.
- Mas é. - Falou, mexendo as mãos de forma frenética. - Olha a situação em que estamos, está tudo errado.
- Amor, ei, calma, calma. - Segurei seu rosto entre minhas mãos. - Esse é o momento certo, tá tudo certo, eu vou cuidar de vocês.
Seus olhos se encheram de lagrimas e ela me abraçou apertando quase que me sufocando eu diria. Mas é isso ai, eu ia ser pai nessa porra, e faria o possível e o impossível para proteger minha família em meio a esse caos.
Laura
Olhava o morro pela janela do quarto em que estava, Paraisópolis, zona sul de São Paulo, era aqui que Roberto iria me apresentar a facção como herdeira.
Terminei de beber o whisky que estava no copo e sai do quarto procurando a cozinha, deixei o copo sobre a pia e comecei a explorar a casa, desde que cheguei não sai do quarto e muito menos vi alguém.
Passei por uma sala muito bem arrumada e decorada com objetos caros, observei os detalhes daquele lugar e o quão luxuoso era, pelo visto eles gostavam muito de ostentação por aqui, percebi uma porta já no início do corredor, ela estava entreaberta, me aproximei terminando de abri-la me deparando com Roberto, ele estava anotando algumas coisas, mas parou o que estava fazendo assim que me viu.
- Laura, o que faz aqui?
Engoli em seco perdendo a voz por alguns instantes, era a primeira vez que eu estava frente a frente com meu "pai", de alguma forma isso mexeu comigo.
- Eu... só estou olhando a casa pra passar o tempo.
- Senta ai, bora trocar uma ideia.
Me sentei em sua frente ainda meio receosa, mas a curiosidade era maior dentro de mim.
- Eu tenho uma pergunta.
- Pois não, faça.
- Por que nunca me contou que era meu pai?
- Não tinha o porquê você saber.
- Como assim? Eu ia ser sua prisioneira para sempre?
Perguntei arqueando a sobrancelha.
- Claro que não Laura, só estava esperando o momento certo.
- Certo pra que? Tá na cara que não era pra ser um pai.
- Eu nunca quis ser pai, você foi um dano colateral.
- Então por que não deixou que o Talibã me matasse, não seria melhor?
Alterei a voz começando a ficar nervosa, sua postura era de puro deboche e seu olhar transmitia maldade.
- Ah Laurinha, você é minha sementinha do mal, o fruto de uma traição, não podia deixar isso morrer. Olha o estrago que você causou, desestabilizou o emocionado do seu irmão, até o idiota do Faccine faz de tudo por você.
Limpei as lagrimas teimosas que insistiam em cair engolindo o gosto amargo da decepção, era óbvio que eu não esperava um momento pai e filha, mas nunca imaginei que Roberto poderia ser tão sujo assim.
- Eu tenho nojo de você.
Me levantei apontando o dedo e sua cara.
- Acredite Laura, nada do que você sente me importa.
- Saiba que eu também não me importo com você, depois dessa união ao tribunal eu nunca mais quero te ver.
Me virei para sair dali mais sua fala me fez parar no lugar.
- Então sugiro que arranque os olhos da cara, pois eu e Pierre temos muito o que fazer.
Olhei confusa em sua direção e um sorriso perverso se formou em seus lábios.
- Pierre!? Do que você está falando?
- Achou mesmo que se casaria com Faccine? Realmente Laura, você é uma tola.
- Eu não vou fazer o que você quer.
- Pela vidinha do seu irmão eu acho que vai sim.
- Você não pode fazer nada contra Coringa, existe regras, ética do crime, você fez um juramento esqueceu?
Ele se aproximou de mim segurando firme meu maxilar.
- O mesmo que você quebrou, foda-se ética ou qualquer papo de união, eu sou as regras eu sou o crime, você já me atrapalhou uma vez, na segunda eu vou fazer uma chacina, e eu prometo te deixar por último, pra tu sentir a morte de um por um que morrer por sua culpa.
Fui jogada contra a parede e senti a dor em minhas costas pelo impacto, me levantei recuperando o folego aos poucos e sai daquela sala o mais rápido possível, eu não esperava por isso, nunca imaginei que o outro membro do tribunal fosse condescendente ao Roberto. Subi as escadas depressa e as lagrimas rolavam livre em meu rosto, eu precisava de uma saída, tinha que ter um jeito, abri a porta do meu quarto com tudo, mas fui surpreendida ao me deparar com alguém me esperando.
- Olá, futura esposa.
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Paz Justiça e Liberdade
General FictionLaura uma menina órfão de mãe e abandonada pelo pai, foi criada por seu tio Roberto, um dos chefes do Primeiro Comando da Capital. Obrigada a cursar medicina contra sua vontade para trabalhar em uma penitenciaria dando apoio aos membros da facção...