Esperanças

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São Paulo arrastou Paraná para a área de fumantes. Era um local isolado e praticamente só ele que frequentava ali. E precisava de um cigarro, ou dois, depois daquele show de horrores. Fez o amigo sentar num dos bancos e sentou no outro, perpendicular. Acendeu o cigarro, deu um trago fundo segurou e soltou a fumaça para cima.

— Então....

— Tu viu aquilo? — O sulista ainda estava indignado.

— Pode apostar que eu vi. — SP não sabia se falavam dos insultos, do grito do Sul ou do soco no final. Mas não importava tudo era igualmente chocante.

— Ele vai na porra de um puteiro e tem nojo que eu gosto de homem!?

— Mas isso é verdade? — Murmurou pensativo.

— O que?

— O negócio do puteiro.

Paraná parou por um momento triste, pensando seriamente no assunto.

— Acho que sim.... Dá pra ver na cara dele e ele nunca negou. — Suspirou cansado. — Ele pode ser do jeito que é mas não tem cara de que mente.

— Verdade. — Murmurou rouco, tentava manter neutralidade na voz para ajudar o amigo a se acalmar e colocar as coisas pra fora. — Mas uma coisa ficou clara, ele tá passando por alguma coisa.

— Não sei o quanto eu acredito nisso Sampa. — Paraná apoiou o rosto nas mãos.

— Pra mim foi bem óbvio....

— Cê acha?

Deu de ombros.

— Até o Norte acha. Mas isso não é desculpa pra ser escroto daquele jeito.... — Pensou em silêncio por um momento. — A não ser.... — Se interrompeu, achou mais prudente não falar isso pro amigo. — N-nada não.

Será que o Sul estava em crise com a própria sexualidade e por isso reagia tão explosivamente assim? E era claro que suas desavenças estavam direcionadas a Paraná, não a si ou gays em geral. Mas não podia falar, era uma teoria muito louca e mal o conhecia para inferir aquilo.

Paraná respirou fundo.

— Eu só sei que eu não sei o quanto mais disso eu aguento....

— Eu fiquei pensando no que o Norte disse. — Puxou outro trago. — Que ele não era assim antes....

— Tu acredita?

— Não tenho motivos pra duvidar....

Ficaram em silêncio absorvendo a ideia.

— Isso é ruim. — O menor murmurou com os olhos marejados. — Isso me dá esperanças. — Confessou sentindo as lágrimas saírem. — Eu não quero ter esperanças. Eu não posso ter esperanças.

São Paulo apoiou a mão em seu ombro partilhando aquele sentimento. Via novamente o amigo chorar, aquilo lhe doía no coração, mas não tinha nada que pudesse fazer.


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Apesar de machucado e de ressaca Sul retorna para sua sala, não estava ali de brincadeira afinal, tinha que voltar a trabalhar.

— Meu Deus! Sul! — Catarina levantou imediatamente preocupada quando viu que ele pressionava uma trouxinha de gelo no rosto. — O que aconteceu?! Não me diga que-

— Não foi o nanico que fez isso guria. — O loiro já interrompeu aquela linha de pensamento. — Nem alcançaria. — Deu uma risada com a imaginação da cena. — Mas foi por causa dele que eu levei o soco. — Falou irritado de novo. Ela o olhava querendo mais explicação. — Foi o Norte. — Largava a bolsa de couro em sua mesa, junto com a cuia feita. Viu a mulher colocar ambas as mãos na boca. — Foi jogo limpo, então não faz essa cara que eu vou me sentir mal guria.

— M-mas como que isso aconteceu? — Ela estava extremamente confusa e tentava entender.

Rio Grande do Sul se sentava em sua cadeira com um grunhido.

— Catarina. — Falou mais autoritário chamando sua atenção. — É melhor tu não te meter.

— De novo isso?! Porque eu não posso saber dessas coisas?!

— Porque não é o nosso melhor lado! — Aumentou um pouco a voz fazendo-a recuar. — Não queremos mostrar isso pra ti.

— Como se o que eu já vejo seja muito bonito neh!

O loiro suspirou.

— Sim. Tem razão. Mas é bem pior que isso. Fique de fora.

Determinou e se virou para o computador indicando que não mais daria atenção à mulher. A loira bufou contrariada, enquanto não soubesse das coisas não conseguiria ajudar! O que era tão difícil assim de dizer poxa? Indagaria Paraná quando ele chegasse.

Quando finalmente o moreno deu as caras tinha o rosto de choro de novo. Catarina logo se levantou indo ao seu encontro.

— Paraná! — Lhe tocou a face com suavidade. — De novo isso.

O menor pegou sua mão a afastando de si e encarando afiado o gaúcho.

— De novo com essa cara? — Ironizou sorrindo de canto cruel, sabia que a culpa era sua. Alguma coisa naquela expressão atiçava e agradava o maior.

— Melhor isso do que ter apanhado. — Paraná sorria largo indicando a bochecha inchada dele.

— A culpa é tua.

— Muito bem merecido! — Virou a cara e saiu para sua mesa.

Decidiram deixar por isso mesmo. Já estavam cansados da confusão anterior. Catarina foi deixada no limbo sem saber o que se passava e o que deveria fazer ou falar.





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Esse cap ficou mais curtinho mas cortei onde fazia mais sentido, pra não embaralhar as ideias  ;x

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