Está tudo bem?

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Paraná acordou com o barulho de notificação de mensagem no celular. Já tinha sido desperto pelo alarme de todo dia, ao qual desativou e voltou a dormir exausto.

O quarto estava escuro, portanto olhou para a luz muito forte de seu celular espremendo os olhos.


"Paraná. Está tudo bem? Tu saiu tão cedo ontem..."


Catarina parecia preocupada. A mera lembrança dela e consequentemente da sala de trabalho e daquele que não devia ser mencionado trouxe lágrimas aos olhos do sulista.

Desligou a tela e grunhiu não tinha vontade de fazer nada, literalmente. Nem respirar se pudesse. Prendeu o fôlego e sentiu a água escorrer por suas bochechas. Virou para o lado angustiado, não aguentava mais chorar. Só queria que aquilo passasse. Que parasse de sentir tanta tristeza. Seu corpo o obrigou a engolir oxigênio. Pelo jeito não seria hoje.

Sabia que estava hospedado com São Paulo apesar de ter memórias confusas e até apagadas pela dor, reconhecia o cheiro de cigarro do ambiente, ele não o deixaria ficar sozinho por um tempo. Sentiu um soluçar brotar em seu peito. Não merecia tal amizade. Estava dando trabalho. Muito trabalho. Não queria ser um peso pro sudestino.

Se revirou na cama angustiado até ter uma bola de cobertores bem apertados em volta de si. Quase se sufocava com tanto pano. Seria até bom se acontecesse.

Ouviu batidas na porta mas não deu resposta, o rangido da dobradiça denunciou que SP entrara mesmo assim. Ele ficou em silêncio por um momento, qualquer cumprimento parecia errado. "Bom dia" ou " Tudo bem? " estavam absolutamente fora de questão.

— Paraná? Acordou? — Falou preocupado para o emaranhado de cobertores em cima da cama. Se aproximou devagar e sentou na beirada do colchão. — Eu vou precisar ir na empresa rapidinho. — Tocou onde achou ser a cabeça escondida do menor. — Pedir uns dias de férias pra você e ajeitar tudo pra home-office. Tudo bem? — Mordeu a boca por ter falado o que se combinou de não falar. — Quer que eu pegue alguma coisa lá pra você?

Viu o paranaense lentamente espiar para fora, deixando boa parte do rosto ainda escondida. Tinha os olhos marejado e profundas olheiras. Fungou e assentiu mudo. Ao menos estava lhe respondendo. São Paulo suspirou discretamente. Não estava acostumado a lidar com aquele tipo de situação, era mais fácil acalma-lo quando estava com raiva do que quando estava triste daquele jeito.

— Tá com fome? — Não esperou resposta. — Tem pão e manteiga na geladeira e a cafeteira é só apertar o botão verde. Já está ligada. — Deu mais afagos na cabeça do sulista. — Volto pro almoço. — Pegou o celular e conferiu o horário. — Dá menos de duas horas. Cê vai ficar bem né?

O menor só respondeu por causa da preocupação estampado na cara alheia. Tentou falar mas sua garganta estava doída e inchada de tanto chorar, desistiu. No lugar assentiu com a cabeça o encarando seriamente nos olhos. Parece que funcionou pois os ombros do paulista relaxaram um pouco.

— Me empresta o celular. — Estendeu a mão. — Eu vou enviar um pedido pra mim mesmo dizendo que você quer as férias. Deve ser suficiente pro Rio aprovar. — Murmurou mais para si mesmo que para o outro.

Paraná se revirou de novo dentro do embolado de cobertores e voltou a lhe encarar triste entregando o celular já desbloqueado. Rapidamente o sudestino pega o aparelho e faz o que pediu. Foi inevitável de ver que a última conversa foi com Santa Catarina e ela lhe perguntava o que estava acontecendo. Realmente seria mais fácil se ela soubesse mesmo. Suspirou e olhou para o melhor amigo. Miserável do jeito que estava ele não parecia ter energia para lidar com aquilo.

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