Desolado

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— Paraná? — São Paulo estalava os dedos diante do rosto do sulista, preocupado. — Paraná, responde meo!

Viu seus olhos vagamente voltarem para si e encherem de água devagar até caírem lágrimas por seu rosto desolado. Uma vez que começou, mais e mais lágrimas rolavam para baixo num choro absolutamente silencioso e despedaçado. Um pouco mais e o menor começou a soluçar descontroladamente, foi aí que o paulista o abraçou e apertou sua cabeça contra o peito sentindo os solavancos de sua respiração errônea.

Não tinha o que ser dito. Seu coração estava esmigalhado. Olhou em volta, levara o melhor amigo para a área de fumantes, abençoado local sempre vazio. São Paulo se certificou de fechar adequadamente a porta, só uma outra pessoa usava o ambiente e ele provavelmente não viria aquele horário, pelo menos torcia por isso.

Apertou mais o amigo contra si, era o que podia fazer. Ficaram daquele jeito por bastante tempo, até o sol se pôr e o ar esfriar, precisavam ir embora. São Paulo olhou novamente para o menor, ele não estava em condições de fazer nada, muito menos dirigir e ficar sozinho em casa. Suspirou triste.

— Paraná? — Falou suavemente. Não teve resposta, mas continuou mesmo assim. — Vamos pra casa?

Ouviu um pequeno fungar do sulista, quase acreditava ter visto um mover positivo de cabeça. Teria que servir. Afastou o paranaense de si devagar e enfim fitou seu rosto. Estava inchado, vermelho e completamente sujo de lágrimas e qualquer outro fluido que saia dele, não que fosse importante no momento.

— Eu preciso pegar a chave do meu carro e depois a gente pode ir. Quer ir lavar o rosto ou prefere ficar aqui?

Paraná parecia aéreo, seu corpo não aguentava mais tanto choro, nem sua mente tanta tristeza.

— Banheiro. — Murmurou baixinho.

— Quer que eu vá junto? — Mudou de ideia, é claro que iria junto! — Vamos lá.

Nem explicou muito, simplesmente o ajudou a se levantar e o apoiou as costas guiando-o para o local. Se certificou de ir no mais afastado de todos, o que menos precisavam era de gente enxerida fazendo perguntas e olhando enviesado.

O paulista sabia que ele estava mal porque nem fingir conseguia e o menor era bom nisso. Entristeceu junto com o melhor amigo, não tinha ideia que sua paixão era tão profunda assim pelo gaúcho. E aquele panaca escolheu outro! E homem ainda! Que era a "grande barreira" entre os dois. Argh!

Sua vontade era de ir lá e tirar satisfação com o barbudo, mas Paraná não ia querer isso, acho. Parou um momento pensando no assunto. Enfim, ele não estava em condições de decidir agora.

Auxiliou o sulista a lavar o rosto e lhe estendeu o papel para que se secasse. Assim que acabou deixou o menor sentado num dos bancos no corredor.

— Meu, eu vou na minha sala pegar a chave. Já volto. — Manteve as instruções claras e simples. — Me espera aqui.

Recebeu um pequeno assentir de cabeça. Sem perder tempo São Paulo correu de volta para sua mesa. Arrumava suas coisas quando foi interrompido.

— Tá de caô Paulinho? Cê só voltou agora meixsmo é?

Merda.

— Sim. — Curto e grosso, nem lhe dirigiu o olhar. — E já vou embora.

— Coé menó? Pelo menos acabou o que tinha pra fazer hoje?

— Não. — Pegou sua pasta com o laptop e alguns documentos e se virou energético para a saída. Viu irritado o carioca ocupando a porta com um sorrisinho sacana no rosto. — Sai. — Mandou, não estava com tempo para aquilo.

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