Fibra

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Paraná rumou diretamente para a área de fumantes, sabia que encontraria o amigo ali naquele horário. São Paulo estava no seu lugar de sempre com um cigarro na boca e uma caneca de café na mão divagando quando viu o menor passar pela porta à beira das lágrimas, se levantou e rapidamente foi ao seu encontro preocupado.

— Paraná! O que aconteceu?

O sulista não conseguia mais reprimir as emoções, não estava só triste, estava borbulhando de raiva também. Falou com todo o ódio que tinha na voz.

— O Sul. — Foi interrompido pelas próprias lágrimas e soluços.

— O que ele te fez meo? O cara chegou agora na empresa.... — Falou preocupado.

— Ele é um grosso! Bruto! Idiota! — Fitou intensamente nos olhos do paulista e colocou todo o peso do significado nas palavras. — Ele é mau. Uma pessoa ruim Paulo. Podre até a alma.

— Ele te falou alguma coisa?

O menor olhava firmemente para o sudestino, tinha os olhos marejados e a expressão completamente desagradada.

— Ele ficou com nojo de mim por que eu sou gay! — Falou baixo, mas com intensidade.

São Paulo arregalou os olhos finalmente entendendo a profundidade da desavença. Aquilo era sério. Se tinha uma coisa que Brasil não tolerava eram comportamentos daquele tipo, passível de demissão. Era uma acusação grave, principalmente em se tratando de alguém que mal conheciam. Falou cauteloso.

— Isso é uma acusação séria Paraná.... Você vai reportar isso?

O paranaense esfrega o braço no rosto, secando as lágrimas com força.

— Não.... — Falou um pouco incerto, logo organizando a mente e tomando a sua decisão. — Eu não vou dar esse gostinho de vitória pra ele! — Sua competitividade estava acesa.

Se dirigiu até o banco que o sudestino estava antes e sentou decidido, indicando para que o amigo fizesse o mesmo.

— Eu vou superar aquele filha da puta por excelência!

A expressão dele era preocupante, mas era melhor do que vê-lo chorando. SP apoiou a mão no ombro do sulista.

— Olha bem o que você vai fazer meo. Cê ainda não conhece ele direito.

— Mas eu já vi o suficiente! Já sei que tipo de homem que ele é. (...)

Apesar de todas as ofensas e revoltas o sudestino percebeu uma tristeza diferente no rosto do amigo. O interrompeu colocando a mão suavemente em sua perna.

— Paraná.... Por que você está tão revoltado? — O encarava com compaixão. — Cê mal conhece o Sul, se fosse qualquer outro você não estaria nem ligando, tacaria o foda-se e se afastaria....

Aquilo fez o menor parar de repente e seus olhos encheram de lágrimas de novo. Baixou a cabeça e começou a soluçar, não querendo admitir. Murmurou baixinho, embolado pelo choro, quase não deu para entender.

— E-eu acho que eu gosto dele....

São Paulo guardou o silêncio. Sentia a dor do amigo como se fosse sua. Sabia o que era gostar de alguém que ao mesmo tempo odiava e era odiado. Paraná chorava violentamente ao seu lado, passou o braço pelos ombros do amigo e o abraçou tentando consola-lo ao menos um pouco.

Longos minutos depois o menor conseguiu se acalmar. Ao menos parou de chorar. Ainda soluçava em busca de ar quando murmurou.

— A gente precisa voltar.... Já tomei demais do seu tempo.

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