Entre Grades e Sentimentos: Caminhos Traçados

Capítulo 47

"Quem foi Zulema Zahir?"

"Hoje sonhei com você, Zulema. Foi tão real que por um instante esqueci que você já não está aqui. Senti sua presença, forte como sempre foi, preenchendo os espaços vazios ao meu redor. Quando acordei, uma certeza tomou conta de mim: nossa filha precisa saber quem você foi, e eu farei questão de contar tudo, em cada detalhe.

Você nunca será esquecida.

Zulema Zahir, a mulher que muitos temeram, foi também a pessoa que me ensinou o que significa amar sem medidas. A sua fama a fazia ser temida, eu sei, marcada por uma força quase indomável, uma coragem que beirava o impossível e uma determinação que fazia até o mais forte recuar. Mas, Zulema, era muito mais do que isso.

O mundo a via como a prisioneira mais perigosa, mas eu conheci o seu coração, aquele que ela guardava tão bem, tão escondido. Atrás de cada decisão dura e cada ação arriscada, havia uma mulher que carregava dores que poucos entenderiam. Filha, sua mãe foi moldada pelas cicatrizes da vida, mas nunca deixou que elas apagassem a luz que ainda brilhava em seu interior.

Zulema era intensa, teimosa, mas acima de tudo apaixonada. Quando amava, amava até o fim. Lutava por quem importava, mesmo que isso a levasse a lugares sombrios. Foi essa força que nos manteve vivas tantas vezes, e é dela que você, minha querida filha, também herdará a garra para enfrentar o mundo.

Sempre vou lembrar da Zulema que me fazia sorrir com seu humor ácido, mesmo nos momentos mais difíceis, da mulher que planejava a liberdade como quem planeja um futuro melhor, não só para si, mas para quem amava. Filha, sua mãe provavelmente me mataria se soubesse que lhe contei isso, mas você era uma das pouquíssimas pessoas nesse mundo que recebia um olhar de ternura que ninguém imaginaria, como seus olhos brilhavam deixando claro o quanto sua mãe esperava que tivesse a chance de viver longe de todo o caos.

Você saberá que Zulema era muito mais do que as histórias que os outros contam. Que apesar da vida cruel, tinha um coração capaz de amar profundamente, mesmo quando parecia impossível. Sua mãe era imperfeita, mas linda em sua mais complexa perfeita imperfeição.

Filha, prometo que farei tudo que estiver ao meu alcance para que você cresça conhecendo a mulher extraordinária que foi sua mãe. Sua mãe, mesmo com todas as falhas e vitórias, foi a razão pela qual tantas vezes lutei para continuar..."

Uma gota grossa de lágrima caiu sobre a folha de papel, borrando parte do texto. Macarena estava tão focada em transcrever tudo o que sentia, presa na bolha segura de lembranças criada por seus próprios pensamentos que sequer notou o momento que começou a chorar. A loira secou rapidamente as lágrimas, suspirando em cansaço ao se dar por vencida, não importava o quanto tentasse colocar seu coração no processo, nunca seria capaz de por em palavras o quanto Zulema era única naquele mundo.

Frustrada, Macarena amassou a folha de papel, a jogando em qualquer canto da cela junto com as demais.

O som abafado dos passos e do portão se fechando ecoava pelos corredores, mas Macarena já não reagia a eles. Desde o enterro de Zulema, a prisão parecia diferente. Cada dia era uma luta para equilibrar dor, memória e a necessidade de sobreviver. As paredes da sua nova cela eram testemunhas de um luto silencioso, carregado de lembranças que teimavam em se instalar nos cantos mais escuros de sua mente.

A decisão de mudar de cela, apesar de sua resistência inicial, não foi apenas um pedido. Foi uma necessidade. Ali, no espaço que antes pertencia a Zulema, Macarena encontrou um misto de consolo e tortura. A cama, os lençóis com o perfume que o tempo ainda não havia sido capaz de apagar, o escorpião desenhado na parede, tudo carregava a presença daquela que, apesar de sua natureza imprevisível e selvagem, sempre a protegeu.