—Por favor, se acalmem. O que estão falando não possui lógica alguma, muito menos são coerentes. O Pete fez exatamente o que? — Esses dois estavam bêbados, jogaram até de madrugada e estão alucinando? Peter cometeu homicídio? Não, isso é literalmente impossível. Não existe qualquer argumento que possa me convencer do contrário.
•°• ✾ •°•
Alguns minutos atrás...
Estava prestes a ir embora da escola, em direção a minha casa. Não havia combinado nada com Pete, Luke ou as meninas, portanto, decidi retirar esse dia para mim. Talvez passear um pouco, visitar o Central Park, apenas para relaxar e me divertir. No entanto, esses eram meus planos até ser abruptamente reconduzida à escola pelos dois, aos berros, mais especificamente até o terraço. Ambos permaneceram em silêncio até chegarmos lá.
•°• ✾ •°•
Voltando ao presente...
—Por favor, ouça-o. Pode ser difícil de compreender inicialmente, mas fará sentido. — Disse-me Luke, com uma seriedade mais intensa do que o habitual. Eu estava confusa, mas decidi que o melhor seria ouvi-lo, ao menos por enquanto.
—Está bem, continuem. — Concordei, ainda ponderando do sobre a situação.
—Desculpas por ter trazido a notícia trágica em primeiro lugar, porém, talvez eu possa me redimir — Falou Peter, sua voz estava ligeiramente trêmula e fraca. Seus olhos não se encontraram com os meus nem uma única vez. —Acredito que você se lembra do dia em que saímos à noite e eu lhe contei o que havia acontecido, correto? — Ele acrescentou.
—Sim, me lembro muito bem. Foi um dia inesquecível, sempre o guardarei comigo. — Respondi, com um sorriso suave na tentativa de animá-lo, ou mesmo fazê-lo olhar diretamente nos meus olhos.
—Pois bem...naquele dia, eu não fui completamente honesto, nem com você, nem comigo mesmo. Sei que pode parecer uma grande bobagem, uma invenção da minha cabeça, o que for, mas eu estava com medo de te contar e você nunca mais querer falar comigo... — Seu nariz começou a escorrer, a qualquer momento ele poderia começar a chorar e eu não queria vê-lo assim. Todavia, eu não conseguia esboçar qualquer reação, ainda não estava clara a situação e não tinha ideia do que fazer nesse estado.
—Ei, não se preocupe. Independente do que você quiser me contar, eu vou entender. Vá no seu ritmo, temos todo o tempo do mundo. — Falei, tentando manter a calma para não deixá-lo ainda mais nervoso ou preocupado.
—Quanto à história das Terras alternativas, é tudo verdade, isso eu te juro. Mas há duas coisas que escondi de você, uma foi por medo e a outra por ter considerado irrelevante, mas...já está na hora de você saber. Independente do que você achar, se quiser me agredir, nunca mais falar comigo, o que for, eu entendo e não há problema algum nisso. Enfim, vamos lá — Depois disso, ele fez uma pausa e respirou profundamente, como se estivesse buscando forças no mais profundo de sua alma. —O tempo fora daqui passou de uma maneira diferente para mim. Eu fiquei quase dois anos fora, longe de você, do Luke, da minha família. Todos os dias eu pensava em vocês, especialmente em você, May. Juro do fundo do meu coração. Entretanto...algo mais aconteceu no período em que estive fora — Ele fez outra pausa. —Como você bem sabe, agora eu posso me transformar em lobisomem, só que não lhe expliquei como isso ocorreu. Acho que finalmente você merece saber da verdade, de toda a verdade. Quando cheguei na primeira Terra, um lugar sombrio, onde a escuridão eterna reina, e existem apenas lobisomens, me deparei com um logo de cara, chamado Nate. É difícil explicar como ocorreu, mas começamos a correr pela floresta, estávamos sendo perseguidos. Pelo que ele disse, com meu sangue poderia ser criada uma cura, para, bem..."aquilo". Depois de fugirmos, acabamos em um impasse, Nate teve de lutar contra quem nos perseguia, seu nome era Rage. Bem, lá a transformação ocorre através da mordida, como as histórias de vampiros e creio que você já deve imaginar o que ocorreu. Após a mordida, a transformação se inicia. Uma substância estranha percorre todos os vasos sanguíneos do corpo, transformando o indivíduo em um assassino impiedoso. Não possuo uma memória precisa de ter causado mal a alguém, mas havia uma sensação. Ao despertar, percebi que havia ferido Nate, deixando uma cicatriz em seu rosto e matado Rage. A única incógnita que me persiste até hoje é como ele morreu...Nate havia me informado que a única maneira de matar um lobisomem naquela Terra era com prata, que já não existia mais. Obviamente, ao tomar conhecimento do que fiz, entrei em um estado de choque completo. Um desespero imenso tomou controle do meu corpo e desde então, martirizo-me todos os dias para nunca esquecer o mal que causei. Mas, mais importante do que isso, eu precisava seguir em frente, caso contrário, eu seria apenas isso: um assassino. — Um silêncio profundo se instaurou ao nosso redor. Luke mantinha a cabeça baixa, enquanto Peter, paralisado diante de mim, estava a chorar...Eu tinha muitas perguntas, dúvidas, medos e anseios.
Luke levantou a cabeça e me olhou diretamente, acenando em direção a Peter. Acredito que ele gostaria que dissesse algo, mas o quê? Eu não sabia o que dizer, responder, nada! Minha mente estava simplesmente em branco.
—Eu...gostaria de dizer que entendo, Pete, de verdade. Mas, eu nunca vivi isso para saber. Deve ser difícil carregar um peso tão grande. Porém...peço e espero que entenda, mas eu preciso de um tempo para processar tudo isso. Foram muitas informações de uma vez, não sei nem ao menos como reagir de frente a essa situação.
—Tudo bem...Leve o tempo que for necessário. — Disse, soluçando, enquanto enxugava as lágrimas.
Logo me retirei dali, durante toda essa conversa não enxerguei os olhos dele uma vez sequer. Isso ficou em minha mente, sem entender o porquê...
Sem que eu percebesse, Luke veio atrás de mim.
—Você poderia ter sido um pouco mais empática, não acha? — Falou, com uma expressão um pouco fechada, e as mãos nos bolsos da bermuda, enquanto descíamos as escadas.
—E o que queria que eu respondesse? Não sei se você sabe, mas matar é um crime. Seja em outra Terra ou onde for. Não é algo fácil de processar!
—Claro que não é fácil, mas pare e pense. Se não é fácil para nós, imagine para ele. Teve de carregar esse fardo por dois anos sem contar para ninguém. Não estou pedindo para você aceitar como algo incrível, de se admirar, apenas que tenha mais empatia por isso...por ele. Quando ele me revelou a situação anteriormente, eu também fiquei em estado de choque, mas sabe o que eu fiz? O abracei. Como disse, para ele deve ser um fardo insuportável de carregar. Ter as mãos manchadas de sangue não é algo admirável e acredito que nunca será, contudo, a única coisa que estou lhe pedindo é para tentar compreendê-lo. Leve o tempo que for necessário, como ele disse, mas não o abandone ou ignore, você é muito especial para ele. Odeio admitir isso, mas...sinceramente, temo o que possa acontecer caso vocês acabem se distanciando permanentemente.
—Obviamente, compreendo que seja difícil para ele, mas considere a minha perspectiva também! Estávamos à beira de um relacionamento, e agora? O que você espera que eu faça? Prometo que vou refletir seriamente sobre isso, mas não posso garantir qual será o meu posicionamento, negativo ou positivo.
—Me desculpa por dizer isso, mas se você decidir afastar-se dele, será a maior demonstração de egoísmo e a atitude mais ridícula que já presenciei.
—Egoísta? Ridícula? Você não tem a menor ideia do que estou sentindo! Do que se passa na minha mente neste momento! Agora eu me lembro do motivo pelo qual terminamos. Tenha uma boa tarde, Luke, e peço que não me procure mais hoje.
Não é fácil amarmos um ao outro
Mas quando nossos dedos se entrelaçam
Não posso negar
Não posso negar que você vale a pena
Porque depois de todo esse tempo
Eu ainda estou a fim de você
Still Into You (Paramore)
O amor não é tão fácil quanto imaginamos...
Será que a Maya realmente tomou a atitude certa ao sair daquele modo?
Vejo vocês amanhã!
VOCÊ ESTÁ LENDO
TODO FIM TEM UM COMEÇO (NEXUS) | VOLUME 1
AventuraVivendo uma vida pacata e normal, Peter Nelime é levado ao a um plano espiritual e descobre verdades a respeito de seu destino. Um Multiverso o aguarda, mas...será que ele estará pronto para correr riscos no caminho?