Por volta de 1670...
Acabei de emergir neste mundo como uma raposa de pequeno porte, adornada com uma pelagem alva, marcas rosadas em minha face e cinco caudas, todas terminando em um tom de rosa chiclete.
Durante muito tempo, vivi sozinha nesta floresta, inicialmente sem compreender completamente o meu propósito ou o meu lugar aqui. Com o passar dos anos, fui me autodescobrindo e, com isso, surgiram novos poderes. Obtive a habilidade de acelerar o florescimento das flores, tornar áreas mortas férteis novamente, reviver pequenas mudas e plantas mortas, além de curar ferimentos dos animais da floresta.
Em um dia qualquer, enquanto caminhava pela floresta, cercada por criaturas como esquilos, pássaros e outros, cheguei a um lugar que nunca havia visto antes. Uma cachoeira de beleza inigualável, com águas cristalinas que, após a queda, formavam um rio formidável e maravilhoso. Neste rio, havia uma pequena ponte para a travessia ao outro lado.
Aproximei-me calmamente das margens do rio para beber daquela água encantadora. Embora pudesse ser uma água como qualquer outra que existe neste planeta, aquela era diferente...especial, talvez. Purificava a alma e proporcionava uma sensação de leveza, era como uma fonte da juventude, deixando-me completamente revigorada.
De repente, percebi que uma jovem garota estava bem à minha frente, do outro lado da margem do rio, bebendo água, assim como eu. Isso me surpreendeu e decidi sair dali o mais rápido possível. Nenhum humano jamais havia me visto antes, e eu não sabia quais consequências isso poderia trazer para a floresta. Eu precisava manter a minha existência em absoluto sigilo, por mais solitário que fosse.
No entanto, o que eu não esperava acabou acontecendo. Ela atravessou a ponte e correu atrás de mim. Esquivei-me entre os galhos e as plantas da floresta, mas ela me seguia a todo custo, e eu não conseguia escapar de seu campo de visão.
Em um determinado momento, algo ocorreu com ela. Ela simplesmente desmaiou no meio do caminho. Fiquei comovida e levemente preocupada com ela, me aproximei e comecei a esfregar-me nela, na tentativa de acordá-la. Nada aconteceu, e ao ficar cara a cara com ela, notei que seu nariz estava sangrando. Talvez tivesse batido em algo e por isso desmaiou? De qualquer forma, no fim, decidi tentar usar minha habilidade de cura.
Felizmente, funcionou muito bem. Ela estava acordando lentamente e seu sangramento havia cessado. Comecei a me comunicar com ela, que obviamente se assustou e teve um pouco de medo e receio, mas aos poucos fomos nos entrosando e se tornando cada vez mais amigas. Ficou combinado entres nós que esse seria o nosso segredo e nosso ponto de encontro estava marcado como o rio cristalino, todo dia, ao meio-dia.
Em um dia qualquer, fui lá no mesmo horário, como já fazíamos há mais de dois anos. Todavia, fiquei esperando por horas...talvez até dias, minha noção de tempo se perdeu e ela não apareceu mais. Mesmo assim, continuei indo lá todo dia, mesmo horário, na esperança de que em algum momento ela voltasse.
Felizmente, após cerca de três semanas de ausência, ela reapareceu. Contudo, estava diferente, não parecia a mesma de antes. Sua pele estava pálida, seus olhos estavam repletos de olheiras, ela estava mais magra e usava roupas que não eram típicas para ela.
Naturalmente, questionei o que havia acontecido. Ela parecia relutante em compartilhar, mas acabou cedendo. Infelizmente, ela estava doente. Uma doença que era transmitida apenas entre as mulheres de sua família, passando de mãe para filha. Nenhuma mulher havia sobrevivido além dos vinte e cinco anos, razão pela qual sempre engravidavam cedo.
Ela tinha acabado de completar dezoito anos e já estava grávida, não lhe restava muito mais do que um ano de vida, então, naquele dia, decidimos fazer uma promessa. Eu estava disposta a proteger as futuras gerações de sua família de agora em diante, mesmo que não recebesse nada em troca. Achei justo, pois ela havia me tirado da escuridão e nunca revelara nosso segredo. Assim, um acordo foi selado.
Os anos se passaram, a tecnologia e, consequentemente, a medicina evoluíram e, por um milagre, conseguiram fazer com que essa doença se manifestasse de forma mais tardia. A tataravó de Violet conseguiu sobreviver até os quarenta e três anos, estabelecendo um novo recorde para a família.
Infelizmente, a mãe de Violet já havia falecido quando ela tinha apenas três meses de vida. Nenhum familiar queria cuidar dela, então decidi "adotá-la" como minha própria filha. Obviamente, eu não conseguia amamentar, então sempre buscava leite na cidade para alimentá-la.
Mais anos se passaram e ela cresceu forte e saudável. Em um belo e ensolarado dia, enquanto passeava pela floresta, encontrei-a no mesmo lugar onde vi a primeira garota dessa família muitos anos atrás. Isso trouxe à tona diversas memórias, deixando-me emocionada.
Me aproximei dela, mas, em vez de me apresentar como Kitsune, decidi me machucar propositalmente enquanto estava transformada em uma pequena garota. Comecei a chorar muito e logo ela me notou ali, vindo rapidamente para me socorrer.
Ela foi extremamente atenciosa e cuidadosa ao tratar meu ferimento. Mesmo no meio da floresta, ela conhecia algumas ervas e cogumelos mágicos capazes de curar um ferimento em instantes.
A partir daquele dia, comecei a visitá-la em sua casa, que havia sido abandonada por sua família. Ela demorou para apresentar sinais da doença...contudo, infelizmente, o dia chegou. Fazia aproximadamente um ano e meio que ela havia contraído a doença, lhe restava não muito tempo neste plano. Eu não queria me despedir dela, mas não sabia como ajudá-la, pelo menos, não até agora.
•°• ✾ •°•
—Foi uma longa história, mas acredito que funcionou adequadamente como um resumo. — Disse ao garoto.
—Você deve ter sofrido muita dor ao presenciar a partida de cada uma delas. — Ele respondeu, com a cabeça baixa, sua voz carregava um tom melancólico.
—Bem, sim. Isso sempre me aflige. Entretanto, sinto-me gratificada por ter conhecido e convivido com cada uma delas, elas permanecerão eternamente gravadas em meu coração. — Aparentemente, ele havia sido profundamente tocado pela história, tanto que começou a chorar, mas rapidamente enxugou suas lágrimas e se recompôs.
—Apenas uma dúvida. No final da história, há algo que me intrigou...Você mencionou que não sabia como ajudá-la, até o momento. O que você descobriu?
—Bem...
Me lembro de seus olhos azuis olhando nos meus
Como se nós tivéssemos nosso próprio clube secreto
Eu lembro de você dançando antes de dormir
E depois pulando em cima de mim para me acordar
Ronan (Taylor Swift)
Deve ter sido muito triste para a Uma ver todas essas vidas se esvaindo e não poder fazer nada...
O que será que ela pode ter descoberto de tão importante?
Vejo vocês amanhã!
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TODO FIM TEM UM COMEÇO (NEXUS) | VOLUME 1
MaceraVivendo uma vida pacata e normal, Peter Nelime é levado ao a um plano espiritual e descobre verdades a respeito de seu destino. Um Multiverso o aguarda, mas...será que ele estará pronto para correr riscos no caminho?