De vocês, há dois mil anos atrás

25 2 0
                                    

 "—Pode até parecer um exagero de minha parte, entretanto, acredito que esses dois não batem muito bem da cabeça." — Refleti naquele momento. Apesar das intrigas entre ambos, sentia-me contente. Consegui criar uma amizade no primeiro dia de aula e reencontrei uma pessoa extremamente especial para mim.

Admito que a história sobre o passado amoroso deles me deixou cauteloso e com o pé atrás, mas se houvesse a possibilidade de um relacionamento entre mim e ela, acredito que ele não se oporia.

O sinal soou, indicando o fim do intervalo. Estava na hora de retomarmos as salas de aula. Contudo, sentia-me relutante em me levantar...

—Você não vem? — Indagou Maya. Tanto ela quanto Luke já estavam de pé, caminhando para dentro da escola. Trocando olhares furiosos.

—Podem ir na frente, daqui a pouco já vou. — Respondi. Só desejava permanecer ali por mais alguns minutos. A sensação que experimentava ao ficar ali era tão agradável que me faltavam palavras para descrevê-la.

Após alguns poucos minutos, peguei minha lancheira e me levantei, caminhando em direção à sala de aula. No entanto, me sentia estranho, como se algo dentro de mim não estivesse certo. Meu estômago começou a se revirar, parecia estar quente. Minha visão tornou-se turva e meus olhos foram se fechando lentamente. A última coisa que me recordo daquele momento foi a queda da minha lancheira no chão e eu desmaiando ali no pátio, já vazio...

Não tinha certeza de quanto tempo havia passado e minha memória do momento antes de desabar no chão era escassa.

Agora, já não mais inconsciente, me encontrava em uma sala semelhante a de um hospital. Nesse instante, uma enxurrada de pensamentos inundou minha mente.

Estava repleto de dúvidas e questionamentos sobre o incidente recente. Por que eu havia desmaiado? Minha saúde parecia completamente normal hoje, não me ocorreu nada fora do comum, não senti nenhuma alteração interna e certamente não consumi nada que pudesse causar um mal-estar.

A sala estava vazia naquele momento, o que aumentava ainda mais minha perplexidade.

Memórias de eventos que nunca haviam ocorrido em minha vida surgiram em minhas lembranças, eu estava atônito, sem saber como processá-las. Como poderia ser possível isso? Certamente os vivenciei, mas nunca aconteceram e sequer seriam possíveis?

•°• ✾ •°•

Memórias do cérebro de Peter...

Tudo estava desfocado e difícil de distinguir. Minha capacidade de visão está severamente comprometida. Gradualmente, de alguma forma, ela foi se aprimorando, me permitindo discernir claramente minhas mãos, braços, pernas, pés e demais partes do corpo. No entanto, eu não possuía controle sobre eles. Meu corpo se movia por uma ação espontânea da qual eu não detinha qualquer domínio.

—Sabemos que é difícil assimilar tudo. Contudo, você precisa se tornar mais resiliente. E deve carregar este fardo consigo, pois para se tornar o mais forte, é necessário ser forte o tempo inteiro e ainda mais que os demais. — Ouvi uma voz masculina me dirigindo a palavra. Consegui visualizar sua silhueta, mas ela estava completamente desfocada, era como se eu estivesse observando em uma qualidade inferior de tela, a sessenta pixels por segundo ou menos.

—Você acredita que se seguirmos por esse caminho...tudo culminará em um estado de paz para todos? — Aparentemente, isso foi proferido por mim. Eu sentia meus lábios se tocando e minha face se movimentando.

—Como mencionei anteriormente, para isso se tornar uma realidade é necessário que você seja o mais forte dentre todos. Este é um caminho unidirecional, onde você estará perpetuamente sozinho, sem poder contar com a ajuda de ninguém, nem mesmo nos momentos mais desafiadores. E para qualquer deslize que ocorrer, ele estará à espreita, pronto para atacar." — Ouvi ele dizer, não podendo fazer nada. Não consegui compreender coisa alguma do que ele estava tentando comunicar, mas parecia que o outro "eu" entendia a situação complexa.

TODO FIM TEM UM COMEÇO (NEXUS) | VOLUME 1Onde histórias criam vida. Descubra agora