𝐑𝐈𝐂𝐇𝐀𝐑𝐃 𝐑Í𝐎𝐒
O barulho da banheira enchendo nunca foi tão alto nesse banheiro. Os respingos da água caindo no acrílico é o único barulho ecoando. Ayla está sentada na tampa do vaso, com uma toalha jogada sobre os ombros que eu mesmo coloquei. Ela não abriu a boca desde que saímos da sala, e o silêncio entre nós é quase ensurdecedor. Observo ela de relance enquanto ajusto a temperatura da água. É difícil ler suas expressões; o rosto está neutro, mas seus olhos, eles parecem distantes, talvez perdidos em pensamentos ou reflexões sobre o que acabou de acontecer.
Deixo a banheira encher um pouco mais antes de me aproximar dela. Meu instinto é perguntar se ela está bem, mas sei que as palavras podem ser inúteis agora. Em vez disso, coloco minha mão no ombro dela, um gesto que espero que transmita algum conforto sem a necessidade de palavras.
Finalmente, ela olha para mim, seus olhos encontrando os meus, e há uma fragilidade neles que eu raramente vejo.
– Pode entrar na banheira, a água está boa.
Ayla assente lentamente, deslizando a toalha dos ombros antes de se levantar. Observo enquanto ela entrar na banheira, o cuidado com que evita fazer movimentos bruscos, como se cada centímetro de sua pele ainda recordasse a intensidade do que acabou de suportar. Ela se acomoda, fechando os olhos por um momento ao sentir o alívio da água morna envolvendo seu corpo.
Me agacho ao lado da banheira, mantendo o silêncio enquanto ela se acalma. Há uma parte de mim que quer discutir, explicar, talvez até se desculpar, mas sei que este não é o momento. Por enquanto, estar aqui basta.
Observo Ayla enquanto seus olhos permanecem fechados, permitindo-me vê-la não como alguém em um jogo de poder, mas simplesmente como ela é, vulnerável e serena na água. Os contornos de seu rosto, suavizados pelo vapor parecem mais delicados agora, e uma mecha de cabelo cola em sua testa.
Notar essas pequenas mudanças nela me faz refletir sobre a complexidade de nossas interações, a intensidade que sempre buscamos um no outro e como, talvez, existam outras maneiras de nos conectarmos sem necessariamente recorrer à dor e ao desafio.
Enquanto a observo, uma onda de culpa me atravessa, pesando em meu peito mais do que esperava. O silêncio dela, normalmente uma provocação, hoje soa como uma repreensão silenciosa por tudo que provocamos um ao outro. Sem conseguir encarar esse reflexo de mim mesmo, saio silenciosamente do banheiro. Meus passos são abafados pelo tapete, e enquanto me afasto, sinto uma necessidade urgente de respirar ar fresco, de me distanciar do vapor e da intensidade que enche aquele espaço.
Na cozinha, me apoio contra a bancada, abrindo uma garrafa de água com movimentos mecânicos, quase desesperados. Bebo um longo gole, sentindo o líquido fresco descer, tentando aplacar não apenas minha sede física, mas o fogo que começa a arder dentro de mim. Cada gole parece insuficiente para extinguir a culpa que me queima por dentro, refletindo as chamas que Ayla teve que suportar.
Olho ao redor da cozinha silenciosa, cada objeto, cada detalhe parece acusar-me, lembrando-me de cada escolha que conduziu a esta noite. Meu reflexo no vidro da janela mostra um homem cansado, atormentado por seus próprios demônios, lutando para entender onde o desejo termina e a penitência começa.
– Richard... — a voz de Ayla me chamando me faz virar a cabeça em sua direção. – Você têm... Hum... Uma blusa, que você não usa mais... Só pra eu me vestir.
Minha garganta se aperta ao ouvir a hesitação em sua voz, o medo palpável que ela tenta disfarçar com uma pergunta tão simples. Assinto com a cabeça, caminhando rapidamente até meu quarto para pegar uma das minhas blusas. Escolho uma blusa de algodão macia que eu sei que não uso mais, mas que pode oferecer a ela algum conforto, ao menos físico.
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𝐀𝐌𝐎𝐑 𝐈𝐋𝐄𝐆𝐀𝐋. - 𝐑𝐈𝐂𝐇𝐀𝐑𝐃 𝐑Í𝐎𝐒.
Fanfiction𝘌𝘴𝘴𝘢 𝘩𝘪𝘴𝘵ó𝘳𝘪𝘢 é 𝘶𝘮 𝘋𝘈𝘙𝘒 𝘙𝘖𝘔𝘈𝘕𝘊𝘌! Em um mundo onde o futebol ultrapassa todos os limites, a detetive Ayla Montenegro se infiltra na vida de Richard Ríos, um jogador envolvido em apostas ilegais. Enquanto a verdade e a paixão...