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𝐀𝐘𝐋𝐀 𝐌𝐎𝐍𝐓𝐄𝐍𝐄𝐆𝐑𝐎

Saí correndo e me tranquei no banheiro da delegacia. Eu ia fazer o que? Simplesmente não tem explicação. Vou falar o que pro Gustavo? "No meu contrato não tem nenhuma regra que me proibia de transar com ele"

Minhas mãos tremiam enquanto eu olhava meu reflexo no espelho embaçado. Respirei fundo, tentando me acalmar. A humilhação de ter aquelas imagens exibidas pra todos os meus colegas era sufocante. Tinha que haver uma maneira de contornar isso, de explicar que minha vida privada não deveria interferir na minha capacidade profissional.

– Ayla... — ouvi uma voz do outro lado da porta. Era Verônica, a voz firme e as unhas batendo na porta eram reconhecíveis. – Fica calma, a gente vai dar um jeito nisso.

– Não. A gente não vai. — minha voz falhou, traída pela emoção.

– Abre aqui, vamos falar sobre isso. Não podemos deixar isso te derrubar. Você é mais forte do que uma filmagem estúpida.

Lágrimas desciam pelo meu rosto enquanto eu me encostava na porta fria, ouvindo Verônica do lado de fora.

– Ayla, por favor. Não se tranque aí. — a insistência em sua voz era visível.

– Só me deixa um minuto, Ve... — murmurei, ainda sem forças pra encarar ninguém.

Ouvi passos se aproximando e uma nova voz se juntou ao coro do lado de fora.

– Ayla, sou eu, Carol. — sua voz era mais suave do que eu esperava. – Eu sei que as coisas ficaram estranhas entre nós, mas... eu realmente quero ajudar.

Fiquei em silêncio, o coração pesado demais para responder. As duas começaram a conversar baixinho do lado de fora, parecia mais uma troca de farpas, pude ouvir Verônica alterando o tom algumas vezes com a Carol. Após alguns minutos, a mesma falou novamente, sua voz carregada de sinceridade.

– Ayla, eu sei que errei com você, mas por favor, não deixe isso te quebrar. Você não merece ser tratada dessa forma, ninguém merece.

Respirei fundo, enxugando as lágrimas com as costas da mão.

– Eu não vou sair agora. — minha voz saiu abafada pelo choro, mas firme na decisão. –Eu vou ficar aqui até a delegacia esvaziar. Só vou sair quando não tiver mais ninguém.

Do outro lado da porta, pude ouvir uma delas suspirar, preocupada.

– Tudo bem, Ayla, nós vamos esperar. Não vamos deixar você sozinha. — a voz de Verônica carregava uma mistura de preocupação e respeito pela minha escolha.

– Obrigada...— murmurei, ainda apoiada contra a porta, sentindo a frieza do metal.

Meus olhos ainda ardiam pelas lágrimas, e o eco da minha respiração no pequeno espaço parecia ampliar minha angústia.

A decisão de me isolar até ter certeza de que a delegacia estaria vazia era minha tentativa de encontrar algum controle na situação caótica que se desdobrava ao meu redor.

Fiquei sozinha por horas, ouvindo o murmúrio ocasional do movimento do lado de fora. Cada passo, cada voz abafada, cada risada distante me fazia encolher. O tempo passava devagar, cada minuto esticado pela ansiedade e pelo medo. Não queria encarar os olhares, as perguntas, as acusações veladas que com certeza viriam.

𝐀𝐌𝐎𝐑 𝐈𝐋𝐄𝐆𝐀𝐋. - 𝐑𝐈𝐂𝐇𝐀𝐑𝐃 𝐑Í𝐎𝐒.Onde histórias criam vida. Descubra agora