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𝐀𝐘𝐋𝐀 𝐌𝐎𝐍𝐓𝐄𝐍𝐄𝐆𝐑𝐎

O silêncio no carro é ensurdecedor, o barulho do motor e das manobras que Richard faz são os únicos sons que escuto. Estou com tanta coisa presa, que não consigo nem chorar. Meus pensamentos giram em torno de tudo o que aconteceu, a confusão, a raiva, a frustração, tudo misturado em um turbilhão de emoções.

Finalmente, não aguento mais o silêncio.

– Será que você pode me deixar em casa? — pergunto, entreolhando pra ele.

Richard me ignora, nem olha pra mim. O maxilar dele está travado e as mãos apertam com tanta força o volante que as veias sobem pelo braço.

– Richard, me escuta! — insisto, tentando não elevar a voz, mas a frustração é evidente. – Será que dá pra me responder?

– Eu não vou te levar pra sua casa nesse estado. Não vou deixar você sozinha. — ele responde, ainda não me olhando.

– Eu sei me cuidar, Richard. Não vou fazer nada. — digo, tentando manter a calma.

– Ah é? E aquele murro que você deu no espelho da última vez? — ele rebate, finalmente me lançando um olhar rápido antes de voltar a encarar a estrada. – E as outras crises de raiva?

– Todas causadas por sua causa. Você é o meu gatilho, Richard. — solto, a voz carregada de mágoa. – Eu fico assim porque não aguento mais as suas merdas, suas mentiras e esses segredos.

Ele aperta ainda mais o volante, o maxilar travado.

– Não sou eu quem está mentindo aqui. — ele retruca, a voz baixa e cheia de tensão. – Eu não pedi pra Nicole aparecer do nada e causar essa confusão.

– Não é sobre a Nicole! — grito, a raiva finalmente transbordando. – É sobre tudo! Sobre as mentiras, os segredos, a maneira como você me faz sentir. É insuportável, Richard.

Richard não me responde mais, só solta um suspiro alto. As palavras estão na ponta da minha língua, e não consigo mais segurá-las.

– Você me lembra do meu pai. — solto, a voz tremendo de emoção. – Do jeito que ele tratava minha mãe. Mentiras, segredos, meias-verdades. Ele sempre tinha uma desculpa, uma razão para não ser honesto. E isso acabou destruindo ela. Destruindo nossa família.

Richard aperta o volante, os nós dos dedos brancos, mas não diz nada. Ele sabe que não há defesa para isso, que essa comparação é uma faca cravada no peito.

– Eu não quero acabar como ela. — continuo, as lágrimas finalmente escorrendo pelo meu rosto. – Eu não quero me sentir presa, sufocada por uma vida de mentiras. Eu quero a verdade, Richard. Preciso saber que posso confiar em você. Mas cada vez que algo acontece, me afasta mais. Me faz sentir como se eu estivesse revivendo aquele pesadelo de novo.

– Ayla, eu... Eu nunca quis te fazer sentir assim. Nunca quis te machucar. — a voz dele está rouca, quase um sussurro.

Eu respiro fundo, tentando manter a calma, mas a raiva e a frustração estão fervendo dentro de mim.

– Você sabe por que eu virei policial? — pergunto, minha voz tingida de amargura. – Porque meu pai vivia desmerecendo a mim e minha mãe. Ele dizia que éramos fracas, incapazes de fazer qualquer coisa significativa. Eu queria provar pra ele, e pra minha mãe, que podia sim fazer algo onde estaria cercada por homens machistas. Queria mostrar que era forte.

Richard me olha de relance, mas continua em silêncio, absorvendo cada palavra.

– Mas acabou que ele estava certo, no fim. — minha voz quebra um pouco, a dor evidente. – Perdi tudo por causa de homens que se envolveram na minha vida. Por tentar ser forte em um mundo onde homens como Gustavo, você e ele fazem as regras. Tudo o que conquistei, tudo pelo que lutei, foi desmoronado por causa de segredos, manipulações e... você.

𝐀𝐌𝐎𝐑 𝐈𝐋𝐄𝐆𝐀𝐋. - 𝐑𝐈𝐂𝐇𝐀𝐑𝐃 𝐑Í𝐎𝐒.Onde histórias criam vida. Descubra agora