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𝐀𝐘𝐋𝐀 𝐌𝐎𝐍𝐓𝐄𝐍𝐄𝐆𝐑𝐎

Avião | PAL x DEL VALE

A caminho do Equador, parte da delegação do Palmeiras está tensa para o jogo contra o Del Valle na libertadores. Estamos no avião, e Richard está ao meu lado, absorto em seu celular enquanto eu analiso o físico de cada jogador pelo iPad. A tensão entre nós ainda paira no ar, um silêncio pesado que preenche o espaço, mas também uma nova camada de cumplicidade, como se compartilhássemos um segredo que ninguém mais a bordo poderia entender.

Dou uma olhada discreta nele, notando como seus dedos deslizam rapidamente pela tela do celular, talvez no feed do Instagram ou checando mensagens importantes. Volto minha atenção para o iPad, passando os dedos pela tela para revisar os dados de desempenho dos jogadores. Cada vez que passo para o próximo, faço anotações mentais sobre quem pode precisar de atenção especial durante o treino ou depois do jogo.

É estranho estar aqui ao lado de Richard, sabendo tudo que sei agora, sentindo tudo que sinto. Me pergunto se ele está pensando no mesmo, se está tão dividido quanto eu entre a missão e os sentimentos que não deveríamos ter um pelo outro.

O zumbido constante do avião e o ocasional balançar pela turbulência me trazem de volta ao momento. Olho novamente para ele, que agora parece perceber meu olhar. Richard desbloqueia brevemente o contato visual do celular e me dá um pequeno sorriso, como se quisesse me encorajar ou talvez apenas reconhecer que, apesar de tudo, ainda estamos aqui juntos. Foco de novo nos jogadores, tentando colocar minha mente totalmente no trabalho, embora parte de mim continue alerta ao homem ao meu lado.

Depois de tudo que rolou ontem, Richard acabou dormindo na minha cama. A gente ficou conversando até capotar. Mesmo com a cabeça a mil por causa dos segredos e desconfianças, foi estranhamente bom ter ele ali, e as conversas fluiam leve, de papos bobos até coisas mais profundas. Eu estava meio apreensiva, com medo de dormir primeiro e ele mexer nas minhas coisas.

Mas, sabe como é, a exaustão do dia e o aconchego dele me venceram. O jeito que ele fazia carinho e falava baixinho me deixou numa paz que fazia tempo que eu não sentia. Acabei pegando no sono antes dele. Lá no fundo, eu queria acreditar que ele não ia aprontar nada, que naquela noite juntos, podia significar uma chance de mudança pra gente.

Quando acordei, ele ainda tava lá, dormindo do meu lado, com um sorrisinho. Fiquei um tempinho só olhando pra ele, pensando em todas as coisas que a gente poderia ser se as coisas fossem diferentes.

– Como tá aí? — ele pergunta, com o rosto perto demais do meu. – Estou 100% pro jogo?

Meu coração da uma leve acelerada pela proximidade do rosto dele no meu pescoço, cada palavra que ele solta, um vapor quente atinge minha pele.

– Nessa altura do campeonato, não tem ninguém 100%. — respondo, com o mesmo tom de voz baixo, já que aparentemente quase todo mundo dormiu.

– E você? — olho em sua direção, nossos narizes quase resvalam um no outro. – Está 100%? — toca minha mão machucada e enfaixada por ele mesmo.

– Mais ou menos. — admito, sentindo o calor da mão dele sobre a minha. A presença dele tão próxima faz com que eu sinta cada movimento, cada respiração. É um conforto estranho, considerando tudo.

Ele me olha fundo nos olhos, como se estivesse tentando ler minha mente, e dá um meio sorriso. Acho que ele sabe o efeito que tem sobre mim, e isso só faz meu coração bater mais rápido.

– Sabe, Ayla... — ele começa, sua voz um sussurro conspiratório.

Enquanto Richard se inclina para dizer algo mais, a cabeça do jogador Flaco surge entre nós de repente, interrompendo a nossa conversa com uma curiosidade impetuosa.

𝐀𝐌𝐎𝐑 𝐈𝐋𝐄𝐆𝐀𝐋. - 𝐑𝐈𝐂𝐇𝐀𝐑𝐃 𝐑Í𝐎𝐒.Onde histórias criam vida. Descubra agora