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O filme de toda a vida de Mavi passou a tomar sua atenção, enquanto ela descansava suas costas contra os travesseiros da cama.

Foi como se tudo o que tivesse vivido fosse um sonho tão distante mas, ao mesmo tempo perto...

As dores que realmente poderiam ser curadas por seus pais, já não existiam mais. Portanto, as lembranças de quem ela era e como chegou até aquele momento, não cessaram tão cedo em sua consciência.

—... e pensar que a dois anos atrás, nesse mesmo horário, os meninos estavam dormindo enquanto eu pensava como seria o dia de amanhã... — murmurou ao silêncio do quarto, puxando seus joelhos ao peito —... se teríamos o que vender, qual seria o melhor horário... se o Genésio iria nos abraçar... — ela soluçou — Ai, meu Deus — suas mãos cobriram o rosto.

Mesmo sendo envolvida a tanto tempo pela atmosfera familiar, pelo o amor dos seus verdadeiros pais, e pessoas do mesmo sangue que o seu, tudo o que a jovem estava vivendo ainda lhe era irreal. Depois de todo aquele sofrimento nas ruas, ela tinha uma casa para ficar, ela não tinha que se preocupar com o alimento das crianças que mais amava.

Mavi chegou a dar uma pequena risada ao assimilar que todos aqueles pensamentos deviam ser por conta do seu casamento, que cada vez mais tornava-se perto. De forma alguma ela queria voltar atrás, ela realmente queria ir até o fim e poder estar ao lado de Adam como esposa.

Todo aquele sentimento a pegou de surpresa.

Toques do outro lado da porta a fez vidrar os olhos no umbral, e permitir com a voz baixa a entrada de quem havia batido. Paulo surgiu como uma luz que aos poucos adentrou no cômodo.

— O que faz aqui? — perguntou-lhe Mavi, dando espaço na cama.

— Eu tô sem sono... — contou ele, fechando a porta e indo ocupar o lugar ao lado da jovem.

Mavi o acolheu, sem deixar de dar beijos nos cabelos castanhos do garoto.

— Você está triste? — ele a perguntou, receoso.

—... porque eu estaria?

— Não sei... O Adam te fez alguma coisa?

— Não!

— Então porque você tá com os olhos baixos assim?

Ela o analisou rapidamente.

— Não é nada que você tenha que se preocupar.

— É demais quando muda o seu humor — decretou, cruzando os braços.

Mavi deu um sorriso de canto.

— Eu só estava pensando em casa.

—... na nossa casa?

— Na nossa casa.

Tanto na mente de um como o do outro, as memórias vividas e formadas na cabana e em cada lugar que passaram, vieram totalmente vividos — tão que, puderam sentir as sensações, os cheiros, e texturas.

— Mesmo que aqui é bom — comentou Paulo, deitando sua cabeça para trás — Nunca vai ser como lá.

—... sim... vivemos muitas coisas. E apesar de enfrentarmos tantas dificuldades, elas nunca foram maior do que o amor e a união da nossa família.

Paulo olhou brevemente para a mão de Mavi, entrelaçando à sua em seguida.

— Obrigado por ter ficado, Mavi. Obrigado por querer cuidar da gente e não ter nos entregado para o orfanato.

— Eu nunca iria permitir isso acontecer! Antes, eu iria para bem longe junto com vocês!

— E deixaria todos para trás?

Simplesmente, Você | Livro IIIOnde histórias criam vida. Descubra agora