Quando as duas irmãs passaram para dentro da mansão, foram surpreendidas pelo o seu irmão, que aparentemente estava tenso.
— O que aconteceu, Ramón? — Vera indagou.
— Parece que viu um fantasma... — comentou Maria.
— Antes fosse um fantasma — respondeu ele, cabisbaixo.
Maria e Vera trocaram um olhar rápido. Maria aproximou-se do irmão sem muita dificuldade. Sentou ao lado, e esticou seus braços ao redor dos ombros dele.
-— O que foi, maninho? Diz pra gente.
— Nós somos suas irmãs, Ramón — acrescentou Vera, sentando em um dos braços do sofá.
—... talvez esse fato não me ajude tanto nesse momento.
Se antes elas estavam intrigadas, nada comparou-se aquela hora.
— Diz logo, Ramón...
— É algum problema com a Lúcia? — chutou Vera, sabendo perfeitamente que não seria nenhuma novidade caso ele confirmasse.
E realmente ele confirmou, com um aceno de cabeça.
— ai, pelo amor de Deus! — resmungou Maria, batendo suas mãos nas coxas — Vocês não estão vendo que estão velhos d?demais para ficar agindo feito criança?
Vera suspirou.
— Maria tem razão, Ramón. Vocês nunca se acertam!
— Vocês jogam essa culpa sempre pra cima de mim, não é?! - esbravejou ele, erguendo-se de uma vez — É como se apenas eu fosse o culpado!
— Que bom que reconhece isso.
Maria seu de ombros.
— E se reconhece, deveria colocar a si mesmo no seu lugar. Parar de procurar aonde você sabe que não vai achar nada!
— Claro, sempre sou eu o errado! Vocês já me odeiam desde cedo, e agora que a Lúcia sumiu e não apareceu até agora, vão me condenar até a morte caso ela não apareça!
— A LÚCIA SUMIU?! — as duas gritaram ao mesmo tempo, hesitantes.
— Como assim, Ramón?!
— Do que você tá falando?!
— Eu procurei ela por todos os cantos da casa e não a encontrei...
Maria e Vera trocaram um olhar desesperado, antes de dispararem pelas escadas na busca de encontrar o mais rápido possível a mulher. E caso não acabassem encontrando, Ramón já teria premeditado o seu próprio futuro.
Porém, não foi necessário correr mais quando se depararam com Lúcia erguendo suas malas para fora do quarto. Ela estava com uma roupa totalmente diferente do que havia usado pela manhã, era um casaco escuro por cima das roupas finas, os cabelos estavam soltos e os óculos para cima. Mesmo com toda a sua pressa para por os objetos para fora, ela ainda assim teve equilíbrio nos saltos altos.
Maria e Vera a olharam estáticas, murmurando coisas sem sentindo enquanto suas mãos abriram e fecharam ao mesmo tempo.
— Lúcia... o que você está fazendo? — questionou Maria, dando passos curtos na direção da mulher.
Ofegante, ela parou para responder.
— Hoje mesmo eu deixo essa mansão!
O anúncio pareceu esfriar todo o andar, por ser algo tão inesperado. Não estava premeditado para que fosse naquele momento, estaria tudo correto. Tinha algum motivo, e as duas irmãs tinham plena certeza disso.
— Mas por que, Lúcia? — indagou-lhe Vera.
— Eu ainda preciso explicar?
Maria deu um passo à frente.
— Talvez a sua própria explicação nos dê a oportunidade de te fazer enxergar o quanto é bobo pensar em ir agora!
— Não é bobo quando você faz uma atitude que será melhor para todos!
— Esse todos é apenas para você, então — argumentou Vera — Você sabe que todos que moram nessa casa, principalmente os funcionários em geral, gostam de você. Acha mesmo que iremos deixar você ir assim, sem mais ou menos?
— Vera tem razão, Lúcia...
— Nenhuma de vocês tem razão! Na verdade, nenhum da família de vocês. Eu vou embora por um bem mútuo, por um bem que não envolve apenas à mim! — ela declarou — Mas um bem, que... — suas palavras morreram quando seus olhos encontraram o real motivador da sua pressa para ir embora da mansão — Se em algum segundo vocês se perguntaram o porque do motivos, aí está — apontou com o queixo para trás das mulheres, que não necessitaram olhar pois já sabiam.
Ramón deu um passo, cerrando seus punhos.
— Não deixe essa mansão por minha causa, Lúcia. Eu te peço!
— Mas não é só por você que eu estou deixando!
— Ainda com o egoísmo de sempre...
— O que está acontecendo aqui? — interferiu Eduardo, surgindo na escada com suas mãos soltas ao lado do corpo.
Lúcia levou sua mão à testa, girando para o outro lado do corredor. Maria a seguiu.
— Será que pensar no bem do outro, também é egoísmo, Maria?
— Lúcia...
— Ele confessou que me ama — anunciou num sussurro — Disse coisas bonitas pra mim... mas coisas e outras perguntas que eu não vou poder responder agora... eu tenho medo, muito medo.
Maria a puxou para perto.
— Deve estar sendo difícil para você entender tudo e esse sentimento inesperado do meu irmão. É normal você querer recuar e ficar dentro do seu próprio mundo...
— Mas não é normal se condenar à ele pelo resto da sua vida — completou Vera, numa voz baixa ao aproximar-se delas.
— Nós entendemos bem, e faremos com que Ramón também entenda, que não é com ele que você quer viver pelo resto da sua vida.
— Não é que... — murmurou Lúcia — Por mais que ele aparente ser verdadeiro, e no fundo eu sinta uma paz boa vinda dele, eu tenho medo. Muito medo... eu não quero mais que o Ramón se machuque. E para que isso seja evitado eu tenho que ir embora.
— Não, não, não...
— Você pode superar tudo isso, ao lado dele! — argumentou Vera.
— Ele será compreensível e vai te entender.
— Mas até aonde ele vai me entender? Querendo ou não, o meu passado me assombra um pouco. Tem coisas que aconteceram e eu não posso apagar nem da minha vida, ou da dele...
Lúcia levou suas mãos aos olhos.
Não era apenas o medo de amar novamente, como o medo de ser amada depois do que viveu. A sua insegurança de ser escolhida por alguém, depois de tantos anos em um casamento que não pôde durar tanto tempo, abriu uma ferida dentro do seu coração, deixando para ela a verdade nua e crua.Ser amada depois de tantos anos, pareceu-lhe algo impossível. Ramón parecia estar disposto a mudar pelo o que sentia por ela, e quem sabe Deus poderia agir em sua vida. Mãos ao redor do rosto da mulher a fez soluçar. Em seguida, sua cabeça deitou no peito de quem não cogitou a abraçar com tanto carinho, depois da tensão em que viveram. Ela não recuou, e ao envés de afastar-se, aprofundou sua cabeça contra o peito dele. Achando ali mesmo, uma fuga para seus pensamentos que quase chegaram ao mais profundo do seu coração.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Simplesmente, Você | Livro III
RomanceDepois de tudo o que sofreram, passaram, e buscaram, levou-os a um caminho que mostrou que, mesmo que tentassem ficar longe um do outro isso não daria certo. Mas agora que a paz evidentemente reinava, dariam a chance a si mesmos de recomeçar suas h...