Temporada das Flores 🌺

Acasos

Narrador: Daniela ficou olhando a tela do celular esperando parar de chamar. Não atendeu a chamada da outra. Já tinha visto a mensagem e resolveu não responder. Apesar de amá-la, ficou pensando nas coisas que sua mãe havia lhe dito sobre sua carreira. Por um lado, talvez nem devesse ter continuado aquele relacionamento mesmo. A pouparia de muitas coisas. É isso! Passaria uma borracha naquilo tudo e viveria sua vida. Foi só um acidente de percurso mesmo.

Quando a chamada caiu na caixa de mensagem depois de tocar bastante, Malu se odiou pela tentativa:

- Daniela vive com aquele celular perto...

- O importante é que você tentou, minha irmã! Se ela não quis te atender, é porque não deve te amar tanto assim!

- Não deveria ter ligado ou mandado mensagem... - jogou o aparelho em cima da mesa.

- Seja positiva, talvez ela não tenha visto mesmo.

- Você sabe o que é o pior? Ficar com isso na cabeça que ela não viu e que a qualquer momento ela vai responder.

- Talvez seja isso mesmo, talvez ela não tenha visto!

- Não quero me enganar, Zilma. Acho que agora, com o silêncio dela, acabou de vez.

- Parte pra outra minha irmã... você é uma pessoa maravilhosa e merece ser feliz!!

- Eu nunca devia ter me aproximado dela... - estava morrendo com o arrependimento que corroía seu ser!

- Há coisas na vida que servem como um aprendizado, veja por esse lado.

- Não vejo aprendizado nenhum!

- Mas tem... talvez agora, você melhore esse ciúme que você tem em seus relacionamentos.

- O único aprendizado é pra eu não me envolver mais com artistas! Só isso!

Finalizaram a noite e Zilma deixou sua irmã sozinha novamente.

Como poderiam ser tão orgulhosas a esse ponto? Porque não conversavam e tentavam se entender? Será que o amor não era o suficiente pra ambas? O destino só poderia estar brincando com elas! Não entendiam porque uma foi colocada no caminho da outra, pra no final ficarem separadas! Mas já havia chegado o final? Acho que não...

Daniela foi tirada do ensaio com o seu celular tocando. Era Marcos. Ainda não tinha conseguido finalizar o contrato com ele. Atendeu:

- Oi.

- Boa tarde, amore! Como você está?

- Diz logo o que você quer, Marcos.

- Preciso ir à Salvador. Posso te ver? Quer dizer, é uma viagem de negócio e você vai precisar estar ao meu lado.

- Tem outro jeito? Mas faça um jeito de ficar no hotel e não aqui em casa.

- Imaginei e não vou questionar, apesar de não concordar!

- Eu fico feliz! Quando você vem?

- Na sexta à noite e o evento é no sábado.

- Ok, me diga o local e te encontro lá!

- É da Rede Bahia. Vamos conversar com o diretor, com a editora chefe de lá e com um dos CEOS para fechar sobre uma publicidade.

- Com a editora chefe? Malu Verçosa?

- Ela mesmo, aquela que foi casada um tempo com aquela sua assessora.

- Eu preciso realmente ir? Não vejo porque da minha presença! - já estava nervosa.

- A exceção da Malu, todos levarão suas esposas, não vejo porque você não ir. E você já os conhece, será melhor o papo.

Daniela não disse nada, mas teria que ir. Finalmente veria a amada, mas estava odiando ser naquelas condições. E estava com medo de vê-la novamente. Todo esse tempo que estão separadas, não se viram mais e agora... não tinha pra onde escapar. Mais ainda assim, tentaria convencer o ex a ficar em casa, inventaria alguma coisa. Não queria encontrar com ela.

Malu já sabia quem era o publicitário que iriam jantar. Quando foi avisada do nome dele, quase teve um treco, mas não tinha jeito, era a editora chefe e executiva do jornal, então, teria que ir mesmo. Estava pedindo a Deus que ele não levasse a cantora. Também tava morta de vergonha pela tentativa que tinha feito e que a outra não tinha respondido.

No sábado, Marcos apareceu na casa da cantora para busca-la. Tinham se falado na sexta e o outro insistiu que ela fosse. Não teve escapatórias. Foi!
Ao chegar no restaurante, todos já estavam lá. Só faltavam eles. Daniela tinha ido com um vestido preto e uma sandália alta, a deixando mais charmosa ainda. Estava de braço dado com o ex, fingindo que eram um casal de verdade:

- Boa noite, boa noite - o publicitário cumprimentou a todos.

- Boa noite - Daniela se limitou a dizer.

Malu estava extasiada com a visão da cantora... ela estava linda! Estava nervosa, dava pra perceber. Quando chegou, não olhou nos seus olhos. Isso a matou! O jantar não tinha nem começado, mas ela já queria que ele terminasse depois daquilo.

Em boa parte da noite, Daniela sequer abriu a boca. Jantou e poucas vezes comentou uma coisa ou outra. Não conseguia nem olhar em direção à jornalista. Que situação constrangedora! Depois de tudo que tinham vivido, se reencontrarem desse jeito.

Quando já estava finalizando a reunião, Daniela pediu licença pra ir ao banheiro. Malu não resistiu e foi atrás com a desculpa de retocar a maquiagem:

- Você está bem? - disse quando chegou ao banheiro onde só tinha elas duas.

- Estou - foi seca.

- Eu te liguei, mandei mensagem... - a olhava pelo espelho, já que a outra lavava a mão.

- Não tínhamos e nem temos mais nada à falar - fechou a torneira.

- Imaginei...  - parou por um momento - eu sinto tanto a sua falta.

- Não começa, Malu. Esquece a nossa história.

- Como posso esquecer a mulher que amo? - chegou perto dela que se desvencilhou pegando um papel pra enxugar a mão - Me ensina, porque eu não sei mais o que fazer - a abraçou por trás.

Daniela não respondeu e nem teve iniciativa de sair daquele abraço.

- Que saudade do seu cheiro doce - fungou seu pescoço.

- Pare... acabou - mas já estava inebriada.

- Diz então olhando nos meus olhos que você não me ama mais... que não sente minha falta, que não me quer - falou a virando de frente devagar - diz - passou o nariz nos seus lábios.

- Eu não tenho que lhe provar nada - viu que Malu estava prestes a lhe beijar, mas saiu do seu cerco porque ouviu alguém chegando no banheiro.

- Boa noite - a pessoa que entrou falou.

Daniela aproveitou e saiu do local, deixando a outra totalmente sem reação para continuar qualquer coisa que fosse. Enxugou suas mãos e voltou à mesa finalizando a reunião e indo pra casa com a sensação que poderia ter tido uma oportunidade com a cantora, se o intruso não tivesse chegado ao banheiro.

No outro dia, a jornalista lhe mandou mensagens, ligou, mas ela não respondeu. Estava convicta que não daria mais chances a aquele amor. Estava focada nos seus shows e no seu projeto e só isso que importava. Inclusive, tinha uma participação em uma gravação de dvd de um cantor novo naquelas áreas: Pablo. Se concentraria em gravar a música que faria participação e no final da outra semana já estava novamente fazendo o que gostava: cantar.