Revelações de Amor

147 18 8
                                    

Narrador: Os dias que se seguiram, foram um pouco angustiantes para a jornalista. Não parava de pensar na cantora, mas custava a acreditar que estava se apaixonando por uma mulher que ainda era oficialmente casada com um homem, que era artista (o que seria um pepino imenso na sua vida), que não sabia qual seria a reação dela ao lhe falar sobre esse sentimento (se é que ia falar) e ainda ser sua amiga! Que porra estava pensando?

- Eu não falei pra mim mesma que estava fechada ao amor? - dialogava consigo mesmo - porque esse sentimento confuso no meu coração agora? Está afim de detonar sua vida, Malu Verçosa?

Passou dias pensando sobre aquilo... poderia simplesmente se afastar dela e acabar com aquilo tudo, mas... não tinha coragem de não vê-la, de sentir seu cheiro toda vez que se abraçavam se cumprimentando, de ver seus olhinhos, de ver o movimento que ela fazia quando mexia nos cabelos... naqueles cachos lindos! Arriscaria sofrer, mas não daria um basta naquela amizade... deixaria o tempo se encarregar dos seus atos, mas não respondia por si naquele momento.

Com esse pensamento e já louca de saudades dela, resolveu ligar pra saber como ia a gravação do álbum novo:

- Dam? Te atrapalho? - falou receosa do outro lado da linha.

- Claro que não, meu bem - sorriu.

- Que bom - quando ouviu o meu bem, quase desfaleceu com o carinho - você está bem?

- Estou sim e você?

- Bem também... quer dizer, sentindo falta da sua companhia. Nunca mais marcamos nada!

- A agenda apertou um pouco, por isso, dei uma sumida. Mas o que você vai fazer no final de semana? Podemos marcar algo. O que acha?

- Não tenho compromisso não. Alguma sugestão de lugar?

- Eu vou ficar no estúdio aqui na minha casa, até à tardinha no sábado, poderia ser aqui agora?

- Claro que sim! Onde for mais confortável pra você - sorriu.

- Então, fechado meu bem! Vou preparar uma sobremesa dessa vez que é uma especialidade minha - se despediu e desligou o telefone.

Quando chegou o final de semana, Daniela já estava nas últimas músicas do ensaio, quando Malu chegou:

- Oiii - cumprimentou a cantora quando ela deu uma pausa - acho que cheguei cedo demais né?

- Oii, Malu! Claro que não, eu que me atrasei mesmo, mas só falta essa música e aí, subo pra me arrumar.

- Fica à vontade, Dam.

Malu ficou ali vendo a mulher cantar, mover o corpo, dar instruções como queria tal instrumento, tal voz... estava cada vez mais encantada com a figura linda à sua frente, quando foi tirada do transe pela própria, a avisando que já descia para o jantar.

Ao descer, a cantora usava uma roupa simples: um vestido rodado com uma sandália baixa. Malu, ao ver a cena, abriu um sorriso enorme... estava difícil disfarçar tudo o que estava se passando no seu corpo e na sua mente.

Jantaram e batiam um papo gostoso. Malu quis saber como andava a relação dela com o ex - marido:

- Nos falamos semana passada.

- E ele? Ainda continua querendo te reconquistar?

- Haha, e ele quer? Não sabia.

- Ué, pra ficar no seu pé, mandando mensagem, te ligando, querendo vir aqui te ver.

- Malu... a questão é que precisamos ainda mostrar pra todos que estamos casados, sabe? Então, mais cedo ou mais tarde, terei que ir com ele em algum evento, ele terá que vir aqui, essas coisas...

- Ah sim... - falou desanimada - posso te fazer uma pergunta?

- Quantas quiser - bebericou o vinho que tomavam depois do jantar.

- Você ainda o ama?

- Como assim? - repousou sua taça na mesinha de centro.

- Como assim - sorriu sem graça - tô perguntando se você ainda o ama, se sente algo por ele.

- Achei que já havia lhe falado sobre isso... - riu - também, são tantas coisas que falamos, que acabo trocando as ideias.

Enquanto Daniela não falava afinal se o amava ou não, Malu simplesmente estava se roendo de ansiedade por dentro. Tinha medo da resposta da outra, que parecia enrolar pra responder também:

- Mas sim, voltando... não, não o amo mais. Tudo o que tínhamos pra viver, vivemos e só restou um sentimento normal de fim de casamento.

Malu, quando ouviu aquilo, ficou tão eufórica, que abriu um largo sorriso, não deixando passar batido pela outra:

- Que foi, Malu? - estranhou a atitude da outra - parece que viu passarinho verde.

- E vi... está bem aqui na minha frente - ficou vermelha.

- Não entendi - pegou de volta seu vinho.

- Daniela... - tentava tomar coragem de se declarar, mas tinha tanto medo da reação da outra, mas essa era uma oportunidade excelente, não deixaria passar - você é encantadora - começou.

- Você também, Malu - sorriu carinhosamente - sou muito grata por sua amizade, não sei como ficaria - foi cortada pela outra.

- Eu não quero ser sua amiga - viu a cantora fazer uma cara de confusa - quer dizer, não quero ser só sua amiga.

- Continuo sem entender, Malu.

Malu não falou nada... estavam sentadas no sofá da sala sozinhas. Os empregados já estavam recolhidos e ali, a jornalista não pensou duas vezes em como explicar para a outra que a queria como mulher e não apenas como amiga. Num impulso, sem saber o que fazer direito, se aproximou mais dela e a beijou.
Um beijo calmo, como se fosse um selinho, onde a jornalista sabia do que estava fazendo, mas Daniela, não, tanto que mantinha a boca fechada, sem saber o que fazer, mas que não durou muito tempo, porque quando sentiu Malu se consertar e pegar no seu pescoço, abriu a boca, vendo Malu atacar os seus lábios. Nesse momento, se entregou e permitiu que a língua da outra adentrasse, fazendo seu corpo estremecer com o movimento. Malu, vendo a permissão, tirou de suas mãos a taça que segurava e passeou suas mãos nas costas da outra que correspondia com desejo ao beijo. Quando pararam pela falta de ar, se olharam, Daniela respirando descompassada, tentando entender o que tinha sido aquilo, verbalizou:

- O que foi isso, Malu?

- Me perdoe - falava sem graça - me perdoe! Mas não pude resistir mais...

- Eu estou confusa, não tô entendendo nada!

- É simples Daniela: eu estou apaixonada por você.

Em vez de falar alguma coisa, a cantora riu. Não podia acreditar naquilo que estava ouvindo. Quando se deu conta que a mulher à sua frente estava sem graça, se recompôs:

- Isso é brincadeira né?

- Porque seria Daniela? Por acaso, não posso me apaixonar pela mulher linda que você é?

- Malu!! Nós somos amigas!! Pra quê colocar isso agora?

- Por isso, não queria lhe falar nada... eu sou uma idiota mesmo - foi se levantando do sofá.

- Eiii, calma aí. Me desculpe se fui infantil rindo... é só porque - tentou se explicar - eu não esperava.

- Quer saber? Esquece! Eu vou indo - se levantou de vez e foi andando em direção à porta.

Daniela não teve reação. Estava paralisada sentada no sofá, tentando entender o que tinha acontecido. Nesse transe que estava, acabou deixando a amiga ir embora sem explicações para aquele maravilhoso beijo que recebeu.

Temporada das Flores 🌺 Onde histórias criam vida. Descubra agora