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Cristina bufava em revolta por estar passando pela pior fase de um jovem quando se é mãe. E a sua, Marília, identificou que o erro não é somente de Aurora. Os pais da garota se envolveram em muitas situações desastrosas, influenciando o comportamento nada adequado da neta, com a mistura de uma personalidade forte em busca de independência. Quando notou que a filha iria atrás da garota, segurou em seu braço para impedi-la.

— Falarei com ela. – balbuciou, fazendo-a se sentar para se acalmar.

Todos em volta da mesa permaneceram em silêncio sobre o que aconteceu. Fernando permaneceu ao lado da sua atual mulher, não a deixando sozinha e tentando conforta-la após o que foi dito ao seu respeito. Aurora estava fora de si, pensava. No entanto, não podia dizer nada para a filha, por não ser nenhum exemplo naquele momento. Marília foi para a área externa, vendo a neta no banco de balanço que puseram na enorme árvore que está ali desde quando construíram a casa, anos atrás. Se sentou ao seu lado e pode ver lágrimas em seu rosto, assim como o celular em sua mão, com uma foto da garota e um homem. Estavam juntos, abraçados e sorrindo largamente.

— É ele, querida? – questiona, recebendo um "sim" como resposta, baixo, como um murmúrio. — É bem bonitão. – o elogia, vendo agora um sorriso esboçar em seus lábios.

— A senhora não sabe o quanto. – confirma, com os olhos brilhando. — Desculpa por ter me exaltado. Minha mãe me tira do sério as vezes.

— Não é a mim que precisa pedir desculpas, Aurora. Você e sua mãe precisam conversar francamente uma com a outra.

Aurora suspira com o que sua avó disse, concordando internamente com suas palavras. Ainda assim não se sente confortável em conversar verdadeiramente com sua mãe, sendo que ela jamais a entenderia e continuaria com as tentativas de lhe dizer o que deve ou não fazer da vida. É cansativo.

— Mamãe me cansa com as regras e tentativas de me fazer viver o que ela quer. E o que realmente quero fica vagando por aí, até eu me ver livre dela. – desabafa. — Ela sempre foi assim tão mandona e autoritária? Aliás, ela contou que me deu dois tapas na cara? – riu sarcasticamente.

— Contou, e se sente arrependida por isso.

Aurora deu de ombros, não querendo as suas malditas desculpas. Não tem como voltar atrás pelo o que fez. Está feito e pronto. Marília se sente passando pela mesma coisa que Cristina, no entanto, voltando no tempo quando sua filha era uma adolescente, ainda mais nova que Aurora. 

— Quando sua mãe tinha aproximadamente a sua idade, também se apaixonou por um rapaz mais velho que ela. - contou, chamando a atenção da neta. —  O garoto tinha vinte e cinco anos, e Cristina apenas dezesseis. Lembro que Gregório ficou possesso, a obrigando a terminar o namoro, pelo fato dele ser mais velho e filho de um amigo próximo de seu avo. - ainda que tenha ficado embasbacada, Aurora permaneceu em silencio, apenas ouvindo. — Gregório conhecia as histórias sobre este menino, que não parava com uma namorada, e tinha certeza que com Cristina seria diferente. Ela terminou com ele, e ficou desamparada. 

— Ela nunca me contou isso. - resmunga Aurora, tendo a certeza que sua mãe nunca fora sua amiga. — E por que está me contando isso agora? 

— As duas seguiram pelo mesmo caminho, e talvez seja por isso que sua mãe esteja lhe tratando desta forma, não a ouvindo. 

— Mas a senhora disse que ela terminou. - retruca, sem entender. 

— Terminou apenas por alguns dias. Cristina e o rapaz voltaram escondido, até o dia que ela se entregou para ele e me contou semanas depois. - Aurora arregalou os olhos, desacreditada que sua mãe também foi rebelde e desobedeceu os pais, assim como ela. — Cristina estava desesperada, pois o suposto namorado parou de falar com ela. Vivia chorando pelos cantos, não queria comer e mal abria a boca para falar dentro de casa. Até que um dia, Leandro, lembrei o nome dele, apareceu namorando uma mulher de sua idade, exibindo-a por aí. Foi quando Cristina se deu conta de que...

— Meu pai estava certo. - a voz de Cristina soou atras delas. — Meu pai me avisou que era um erro e que eu sairia magoada disso tudo. Eu não o ouvi, e realmente me magoei. - contou a mãe de Aurora, olhando nos olhos da filha. 

— E a senhora acha que Christian também só quer me usar? - perguntou, rindo em seguida ao lembrar de todas as vezes que dormiram juntos. — Ele poderia ter feito isso, mas não fez. O sítio que ficamos no meu aniversário? Ele comprou so para que eu fizesse a festa do jeito que eu queria. As noites que dormi fora? Ele me levou para jantar, me deu flores, joias, e me amou. E sabe o dia do grande evento da Insurence? - Aurora se levanta do banco, ficando cara a cara com Cristina. — Ele me levou para ver e alimentar os cavalos, me elogiou, e me pediu em namoro lá, enquanto eu apenas me sentia acolhida e amada.

— E vem mentindo para mim todo esse tempo, Aurora? Como pode? 

Pela primeira vez a garota viu sua mãe com os olhos marejados, onde lágrimas escorreram por suas bochechas.

— Assim como me excluiu de tudo o que acontecia dentro de casa. Assim como nunca me apoiou quando o papai brigava e me colocava de castigo por nada. - desabafou. — Sempre estive presente em tudo na vida dos dois, e ainda assim não me enxergavam, a não ser quando eu errava em algo. Nunca pude realmente confiar em vocês, então porque dizer a verdade e o que vinha acontecendo na minha vida? Quando eu queria reclamar, ou contar algo bom no meu dia, o único que estava ao meu lado, além dos meus amigos, era Christian. 

— Aurora, me desculpe...

— Não preciso de desculpas, mãe. Não sou mais a menininha que chorava com medo do escuro. E sei que nada do que eu fale será o suficiente para acreditar em mim e nos meus sentimentos. - respirou fundo se segurando para não chorar. — Eu amo o Christian, e sei que ele não é um traidor como o papai, ou um aproveitador como o Leandro. Ele é integro, cavalheiro, romântico e muito respeitador.  Mas, quero que fique tranquila, pois não irei correndo atrás dele. - Aurora diz olhando para a sua avó em seguida. — E não é pela senhora, e sim pela minha avó. Respeitarei a sua decisão, mesmo que me doa a alma. Só quero que se lembre: a história só está se repetindo porque você tem mágoa com o que lhe aconteceu.

A garota deixou sua mãe chorando, assim como sua avó que ficou observando tudo calada. Andou em passos largos, subindo as escadas e indo até o quarto. Trocou de roupa e colocou seu pijama, se jogando na cama. Com o celular em mãos, clicou na mensagem que Christian a encaminhou, pronta para responde-lo. 

"Não é um adeus. O vejo em breve, e quando acontecer serei sua até o fim de meus dias."

Doce AuroraOnde histórias criam vida. Descubra agora