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O carro de Fernando foi estacionado em frente a sua garagem. Não iria colocar o carro para dentro. Não conseguiria. Não sabia nem mesmo como conseguiu dirigir naquele estado, totalmente em prantos. Ele ainda estava desacreditado que foi capaz de magoar sua mulher, após tantos anos juntos. Muito menos que ela o pegaria no pulo do gato. Se envolver com sua funcionária foi um dos erros mais graves que já cometera em toda a sua vida. De qualquer forma, não estava arrependido. Ele sabia muito bem no que estava se envolvendo. Porém, jamais queria magoar sua esposa. Pensava na crise que estavam passando, com ciúmes do patrão de Cristina, que a mesma falava sempre com tanto carinho e admiração.

Mesmo se sentindo um lixo de homem, não podia justificar seus atos. Ele havia a traído.

Sem ao menos trancar seu carro, as chaves em sua mão tremiam devido ao seu nervosismo. Sabia que ela estaria em casa, por não ser uma mulher agressiva. Cristina lidava com seus problemas de um jeito diferente.

Ela se isolava no momento de tensão, lidando com tudo totalmente dopada de calmantes.

Abriu a porta de casa, vendo seus sapatos no pé da escada. Fechou a porta e, do jeito que estava, correu escada acima. Levou a mão até a maçaneta da porta de seu quarto, sentindo que estava trancada. Caminhou até o quarto de Aurora, vendo que a mesma não se encontrava em casa.

Ficou aliviado ao saber que sua filha não estava sabendo de nada, pelo menos por enquanto.

— Cristina? – chamou na porta ao retornar para a frente de seu quarto, não obtendo respostas. — Meu amor? – sua voz fraca denunciava seu estado.

Cristina dormia calmamente devido ao remédio que tomou. Ela não ouvia nem os próprios pensamentos, tampouco sonhava. Era como se ela estivesse em um sono profundo de puro cansaço. Fernando abaixou para tentar olhar por debaixo da porta, sentindo em seu rosto apenas o ar gelado do ar condicionado que passava.

Ela não o responderia nem se quisesse.

Desceu as escadas, se sentando no sofá. Apoiou seus braços nos joelhos, passando as mãos trêmulas sobre seu rosto vermelho.

Ele não sabia o que faria dali em diante. Tinha ciência que sua mulher não o perdoaria, muito menos ele sabia se queria continuar com o casamento. Se sentia totalmente perdido.
Não sabia se voltava para o restaurante ou ficava esperando amanhecer.

— O que eu faço agora? – resmungou, indeciso.

Seu restaurante estava em boas mãos. Confiava em Sabrina para comanda-lo. Ele sentia que precisava ficar em casa, até mesmo para uma possível volta de Aurora. Não sabia nem onde sua filha estava.

Sua decisão foi permanecer em sua residência para quando Cristina acordasse. Sentia que era melhor do que ela não o encontrar em casa. Podia dormir no confortável sofá da sala. Isso se conseguisse dormir com o turbilhão de pensamentos. Conseguia ouvir todos os seus divertidamente gritando ao mesmo tempo sobre o que ele deveria ou não fazer.

Resolveu levantar e abrir uma das bebidas mais fortes de seu bar. Costumava bebericar algumas taças de vinho com Cristina, nada demais. Apenas para apreciarem a boa companhia um do outro.

Fernando estava se amaldiçoando por estar lembrando de todos os momentos que vivera ao lado de sua mulher. O amaldiçoava por não ter pensado nisso antes de ter agido feito um idiota.

— O que foi que eu fiz? – se perguntava em meio aos devaneios de preocupação.

E, pela primeira vez, pode sentir à vontade de chorar por todas as atitudes erradas que cometeu. E sabia que o arrependimento, naquela altura do campeonato, não serviria de nada.

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Era de manhã. Cristina sentia todos os seus ossos doerem pela posição desconfortável que pegara no sono. Sua cabeça latejava por conta do choro da noite passada, junto ao estresse presenciado. Não conseguia nem descrever onde estava naquele momento. Apenas se levantou, esfregando os olhos com as mãos, dando um leve bocejo. Passou os olhos pelo quarto, podendo ver todas as roupas de cama sobre o piso. Chutou todo o tecido para o canto para que pudesse andar pelo próprio quarto. Em passos lentos, abriu a cortina do blindex que separava o quarto da varanda, podendo ver nitidamente a mesa posta feita para que recebesse seu marido. Tornou a fechar a cortina, querendo ignorar o que passou na noite passada. Caminhou até seu banheiro para que pudesse pegar seu roupão para cobrir seu corpo apenas com a roupa intima escolhida na noite passada. Encarou seu rosto no espelho e os lavou para retirar toda a maquiagem borrada, os resíduos que as lágrimas não lavaram. Penteou os cabelos e o prendeu para poder descer e tomar um copo d'água, mas, antes que pudesse destrancar a porta de seu quarto, a voz de Fernando soou por todo o cômodo.

— Eu sei que está acordada. – sua voz alta, um pouco arrastada como se estivesse embriagado. — Eu passei a noite toda nessa porta esperando por você.

Cristina sentiu todo o seu corpo remoer o que Fernando fez, lembrando de toda a cena presenciada no restaurante. Seus olhos voltaram a ficar marejados, não conseguindo controlar suas emoções. De toda forma, se sentia um pouco mais controlada. Optou por abrir a porta do quarto e descer, afinal, estava em sua casa.

Ao abrir a porta pode ter a perfeita visão de Fernando. Encontrava-se descalço, ainda vestindo a calça e a blusa de antes. Seus olhos fundos e vermelhos como se também tivesse passado a noite em claro, aos prantos.

— Me perdoa! – sua súplica não adiantaria.

— Perdoar você depois de descobrir que vai ser pai de um filho com outra mulher? – sua voz áspera fez com que doesse seu tímpano, remoendo mais uma vez o motivo de ter a magoado. — Você fez sua escolha e está livre para formar outra família.

Cristina disparou, retornando para dentro do quarto afim de respirar outros ares que não fosse o mesmo oxigênio de Fernando. Em passos pesados e largos, sentiu seu marido segui-la pelo pequeno cômodo.

Ele não iria deixá-la em paz.

— Eu pensei que estivesse com aquele homem, não estávamos mais ma mesma sintonia. – as desculpas esfarrapadas de Fernando a fez rir.

Queria saber de quem ele estava falando.

— Que homem? – Cristina perguntou, indignada com tamanha acusação.

Vivia para trabalhar e cuidar da filha saindo da adolescente e o tempo que sobrava vivia para ajudá-lo no restaurante.

— Seu novo chefe, Cristina. Nem de mim você fala com tanto carinho. – dizia, um pouco transtornado por passar a noite acordado pensando no que diria para ela, piorando toda a situação.

— Eu não vou nem discutir sobre isso, seu maluco. – bufou incrédula com o que acabou de ouvir.

Ela e Christian Romeno? Ele estava insanamente louco.

— Não invente desculpas por ter sido pego no flagra, seu ingrato de merda. – gritou, com vontade de soca-ló.

— Podemos começar de novo... – sua voz mais baixa, tentando lidar com aquilo de um jeito diferente.

— Podemos sim. – sorriu Cristina, caminhando próximo de seu corpo. — Você vai começar pegando todas as suas coisas dessa casa e sumindo da minha frente. A sua presença não é mais bem vinda por aqui. Eu quero o divórcio.

E, dizendo isso, o deixou sozinho no quarto, disparando escada abaixo para que pudesse beber uma água e se acalmar.

Ela estava decidida e nada mudaria sua opinião.

Doce AuroraOnde histórias criam vida. Descubra agora