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Aurora olhava para a sua pizza abatida, enquanto sua mãe conversava com Camila e Josh sobre como foi sua vida na universidade. Não precisou ficar em um dormitório, por ter estudado próximo de casa, mas não deixou de ser cansativo. Precisou estudar e trabalhar, ainda que seus pais fossem da classe média, querendo ser independente desde sempre. Nesse sentido, Cristina entendia sua filha perfeitamente. Aurora tem um dinheiro guardado em conta que sua mãe naquela idade não tinha. Apesar de gostar de comprar o que gostava, grande parte do valor que recebia por trabalhar no restaurante era depositado em sua poupança para render juros. A vontade de alugar um apartamento ou casa para dividir com Camila estava de pés desde os seus doze anos de idade. A vontade de cursar Direito, também.

— Querida, não está com fome? – perguntou Cristina, tirando Aurora de seus devaneios. — Eu comprei doce de brigadeiro também, se preferir.

— Depois eu como. – resmungou, bebendo pelo menos o vinho em sua taça.

— Camila disse que tem algo para nos contar. Não quer me dizer nada?

Aurora a encarou nos olhos, engolindo em seco. O que mais tinha eram palavra a serem ditas, mas respirou fundo antes de ter qualquer ataque de surto devido a sua tristeza causada pela sua mãe. A noção da ausência de Christian que seria constante ainda dilacerava seu peito. 

— Camila, Josh e eu queremos estudar na universidade de Curitiba, a mesma que meu avô foi chamado para lecionar, após sua aposentadoria. - diz, bebericando o vinho de sua taça em seguida. 

— Tem certeza, querida? São Paulo tem diversas universidades federais. - Cristina se opôs, não querendo que sua única filha fosse para outro estado. — Pense com calma. 

— Posso decidir sozinha pelo menos onde quero estudar, ou prefere se meter? - a garota diz raivosa, respirando fundo outra vez. 

Para inicio de conversa, nem mesmo sob o mesmo ambiente Aurora queria ficar com sua mãe. Se sentia traída e todo o teatro de mãe preocupada a enojava. Camila, ao notar que Cristina explodiria a qualquer momento, se prontificou em abrir a boca e dizer o motivo de quererem estudar longe, ainda que houvesse não só um dedo, mas a mão inteira na ideia de ir para outro estado. 

— Aurora e eu prometemos estudar juntas desde os doze anos de idade, tia Cris. E eu venho pesquisando bastante o índice de estágios e nota para cursar moda. E, apesar do estado de São Paulo ter diversos desfiles de marcas famosas, a universidade federal de Curitiba tem um diferencial. Eles dão viagens com tudo pago para Paris para alguns cursantes de moda, e eu preciso disso. - seus olhos brilharam, sendo honesta em cada palavra, conseguindo se imaginar em uma viagem inspiradora. — Meus pais aprovaram a ideia, até por estar com Aurora. Eles confiam nela. 

Camila deu ênfase na sua última frase, sobre seus pais confiarem na melhor amiga de sua filha caçula. Cristina ouviu tudo atentamente, tentando ceder a hipótese de Aurora realmente passar anos com os seus avos paternos. E, antes que fosse concretizado, precisava falar com eles por telefone, talvez até mesmo os tendo em sua casa no final do ano, como costumavam fazer. 

— E quanto a você, Josh? 

— Aurora e Camila sempre me apoiaram, até mesmo quando eu disse que não queria fazer faculdade. E isso mudou, assim como minhas notas melhoraram quando passei a estudar com as duas. Tenho certeza que será uma experiencia e tanto, e estou animado. 

— E você, Aurora. Por qual motivo quer estudar em outro estado? - sua mãe insistiu, querendo saber a resposta de cada um. 

— Eu tenho dois. A senhora quer o obvio, ou o maquiado? - revirou os olhos. — Para ser honesta, vou subir para o meu quarto. - se levantou, sentindo-se um pouco tonta pelas taças de vinho que bebeu. 

Cristina fechou os olhos, cansada. Sentia-se exausta para lidar com os sentimentos de uma adolescente. Desde que se separou de Fernando, tudo desandou. Aurora não fala com o pai a semanas, agora não conseguia manter-se perto dela. Josh se levantou para ajudar a amiga, que começou a chorar baixinho ao se apoiar nos braços do rapaz. 

Camila e Cristina se entreolharam, e a mais velha confiava muito na melhor amiga da filha. 

— Você e Josh sabiam? - Cristina pergunta, sabendo que a garota não mentiria. 

— Sim, não desde o início. Ela havia contato que encontrou um homem por acaso e se encantou por ele, mas que não era reciproco. Se tornou mais intenso após ela descobrir que ele era o seu chefe em uma reunião de negócios no restaurante do Fernando. - contou. — Aurora realmente está sofrendo, de um tempo para ela.

— E o Nicolas, também sabe? 

— Sabe que ela tem uma pessoa, mas não exatamente quem. 

— No aniversário dela, eles estavam juntos? - Cristina pergunta, mesmo que soubesse da resposta.

— Não posso contar tudo, tia Cris, somente ela. Espero que entenda. - Diz Camila, ciente de que são historias de sua amiga, e não dela. 

Não tem o direito de contar sobre o que não viveu, apesar de presenciar algumas vezes. Entendia perfeitamente os sentimentos de uma mãe, mas não concordava com tudo. Se levantou, também preferindo subir para o quarto e ficar com Aurora, enquanto Cristina refletia sobre os últimos acontecimentos. 

— Deixa que eu arrumo tudo, querida. Obrigada. - Cristina apenas disse ao ver que Camila começaria a recolher os copos.

— Quando tudo se acalmar, converse com ela, sem julgá-la. Tenho a certeza que tudo vai passar. - aconselhou, antes de subir as escadas e sumir das vistas de Cristina e de toda bagunça na sala. 

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 Era madrugada. Aurora despertou após um pesadelo. Retirou a coberta de seu corpo sem acordar Camila que dormia ao seu lado, nem Josh que desmaiara no colchão de solteiro em seu quarto. Pegou seu celular na escrivaninha ao lado da cama e se retirou, perdendo completamente o sono. Sentiu o chão frio em seus pés, e em seus braços desnudos, por ter ido dormir com um short curto de algodão e um dos blusões que se recusou devolver a Christian. Desceu as escadas devagar, até chegar na sala e se jogar no sofá. Poderia ligar a televisão, mas acordaria sua mãe, pela mesma ter o sono muito leve. Se contentou em ficar mexendo em seu celular, deitada no sofá até pegar no sono outra vez. Surgiu em seu celular um lembrete excedendo o limite de memória, sendo necessário que apagasse alguns arquivos, aplicativo ou fotos. Quis se castigar com as fotos, sabendo que tirou diversas de Romeno distraído, ou deles juntos. Passou longos minutos admirando uma que tiraram no dia do evento, o mesmo dia em que fora pedida em namoro. Não apagaria nenhuma foto com Christian, apenas algumas aleatórias que nem sabia que tinha na galeria. E, com isso, ficou bons minutos se sabotando, lembrando de cada momento que passaram juntos enquanto analisava as fotos com cuidado, amor, e muita saudade. 

O engraçado, é que Christian também despertara, sentindo tanta sede que se perguntou se voltou a ter dezoito anos outra vez. Sentia uma ressaca horrível decidindo se levantar para beber um copo d'água e se hidratar. Suas têmporas latejaram, e automaticamente massageou cada lado com os dedos, fortemente. Abriu a porta de seu quarto e suas vistas arderam com a claridade que vinha da sala e invadia o corredor. Marcos simplesmente dormira com a televisão ligada e o controle sobre o seu peito, enquanto um de seus braços se encontrava caído do sofa, encostando as pontas dos dedos no piso gélido. 

Romeno pegou o controle e desligou a TV, balançando o amigo para que o mesmo acordasse e fosse se deitar na cama, onde, certamente, é mais confortável. Marcos abriu os olhos ainda sonolento, meio assustado. Encarou Christian e se lembrou que não está em seu apartamento. O advogado apenas se levantou, sem nem mesmo falar com o amigo. Andou até o quarto de hospedes e, do jeito que estava, se jogou na cama. 

Christian, após beber água e tomar um comprimido para a dor de cabeça, retornou para a sala, guardando os pertences que a mãe de Aurora o devolvera. Colocou tudo devidamente dobrado na sacola, decidindo guardar. Não iria doar, nem jogar fora, manteria guardado em um compartimento por quanto tempo fosse necessário, ate reencontrar sua amada, devolvendo o que sempre foi seu, assim como seu corpo e alma, que jamais a esquecerá. 

Doce AuroraOnde histórias criam vida. Descubra agora