Bolha de prudências

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Camila havia acabado de deixar a amiga em casa, como sempre fazia, de bom grado

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Camila havia acabado de deixar a amiga em casa, como sempre fazia, de bom grado. Gostava de passar o caminho todo conversando sobre vários assuntos com Josh e Aurora, até mesmo fazendo planos para o futuro. A companhia dos amigos era tudo o que sempre precisava. Se despediram com um aceno e risadas, almejando o dia seguinte para repetirem a dose.

Quando a morena adentrou sua sala, a primeira cena que viu foi de seu pai arrumado, terminando de ajeitar sua bolsa. Estava vestido com uma calça jeans escura e uma blusa de manga curta da mesma cor. Seus cabelos pretos cortados baixinho, com o rosto sempre centrado e uma barba crescendo.

Estava muito cedo para ele ir para o restaurante, pensou.

— Ja está indo para o restaurante? – perguntou, sem ao menos dizer um "boa tarde". Ela sabia que ele não a responderia.

— Apesar do restaurante ser meu, eu tenho responsabilidade, coisa que a senhorita também deveria ter. – e a garota suspirou, sabendo que uma hora ou hora, teriam essa conversa.

— Eu sinto muito, pai, mas...

— Não me interrompa quando eu estiver falando. – brigou, deixando a garota ainda mais indignada por não poder se defender. — Você vai fazer dezoito anos, terminar a escola e terá tarefas além do que ajudar seu pai no restaurante. Precisa crescer, ajudar sua mãe em casa e esquecer um pouco os amigos que não te acrescentam em nada. – seu tom de voz era alto e grosso, deixando a menina coagida, sentindo sua garganta arder em um choro que queria sair, mas prendia por não querer estar ainda mais vulnerável na frente dele. — Eu não a obriguei estar no restaurante, você se ofereceu. Agora cumpra seus deveres.

— Eu sempre ajudo a mamãe dentro de casa, arrumo tudo. Eu sempre fui pontual e estou disponível sempre que precisa de mim. O senhor como sempre sendo injusto comigo. – resmungou um pouco mais alto do que devia, segurando o choro. — Ela ficou no meu lugar por um dia e está fazendo essa tempestade em um copo d'água como se eu faltasse sempre.

— Precisa ter humildade para assumir os erros. – deferiu, acreditando que a mordomia da filha era apenas culpa do seu pai, avô da garota, que a mimava sempre que podia.

Aurora se jogou no sofá, afundando no forro macio, sentindo seus olhos marejados. Sabia que tinha errado em ter esquecido o horário e faltado ao restaurante, mas quem nunca cometeu um deslize? Era a primeira vez que isso acontecia, sempre cumpria com tudo o que seus pais quisessem que ela fizesse. Se sentia incompreendida e injustiçada. Porém, acostumada. Seu pai aproveitava qualquer brecha para jogar palavras em sua cara, aproveitando até mesmo seu momento de estresse em casa e no trabalho. Ela se sentia um saco de pancadas de reserva para caso não se agradassem com as situações corriqueiras do dia a dia, poderem descontarem nela.

Ela apenas respirou fundo e continuou no sofá, sem encarar o rosto de Fernando. Nem a sua mãe que era paranoica com o futuro que a filha teria, a tratava dessa forma. Na verdade, tinha um tempo que ela não se estressava com Cristina. A mãe só surtava quando a garota se envolvia com algum menino que não gostava.

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