Vidas Cruzadas Parte IV

Cap. 11 - Enrico

Aylla não era mais a mesma desde o acidente. Passou a ter medo de tudo, se tornou insegura, as vezes muito mais nervosa do que o normal e passou a se fechar para mim. Por mais que eu insistisse, ela sempre dizia estar tudo bem. E depois que terminou nosso noivado e reatou em seguida então, ela se transformou completamente. Não sei o que aconteceu naquela noite, mas fato é que, eu não a sentia como antes.

Tentei dar espaço e fingir que eu não notava para que não se irritasse mais, passei a ser ainda mais atencioso, dei um tempo para ver se ela se abriria comigo aos poucos, mas nada disso aconteceu. Nem mesmo na cama ela se entregava como antes. Várias vezes pedia para parar, pois estava com algum desconforto, mas sabia que não era aquilo. Sua mente estava longe naqueles momentos. Ela jamais havia reclamado antes, pois nossas transas eram sempre muito intensas e não havia problema, pelo contrário, ela procurava me satisfazer das maneiras mais loucas.

Passou a repetir várias vezes que mataria ou morreria por mim, que eu jamais duvidasse de seu amor e isso me deixou assustado, a ponto de não querer deixa-la sozinha nem um minuto sequer. Largava tudo o que estava fazendo constantemente e ia até ela. Presenciei várias vezes ela chegando do trabalho com cara de quem havia chorado muito, pois seu rosto e nariz vermelhos a denunciavam e quando eu perguntava, ela sempre tinha uma desculpa na ponta da língua. Como se eu fosse capaz de acreditar.

Cheguei a chamar Emma para uma conversa, pois eram como irmãs, mas a resposta foi a que eu imaginava. Ela não se abria com a amiga também, só falava que estava em crise existencial e que não queria mostrar isso para mim. Muitas vezes dizia que era sequela do acidente, que o médico falou que iria passar em algum momento, mas segundo o que perguntei, ela nem havia se consultado para saber.

Marcas estranhas começaram a aparecer em seu corpo. Desconfiei até mesmo que ela estaria se flagelando para se punir de algo, mas afastei essa ideia. Seria muita loucura, mesmo sabendo que tentou se matar no passado. Certo dia chegou com um vergão nas costas que mais parecia uma cintada e quando fui confronta-la, quase apanhei. Deu a desculpa esfarrapada que se machucou treinando, mas eu também era lutador e sabia que aquela não era uma marca de luta.

Saia de repente para atender cliente, até mesmo aos sábados e aquilo nunca havia acontecido antes.

Outra coisa muito estranha foi que, passou a frequentar demais a casa de Karim. Como se não quisesse deixar as crianças sozinhas com os pais. Ela os amava muito, sabia disso, mas passou a ser uma espécie de possessão. Perguntei se Karim não achava estranho e ele me disse que sim, mas que talvez ela quisesse suprir a falta de nosso filho nas crianças. Isso me cortou o coração, mas por ora não podíamos pensar em engravidar. Sabia que aquilo a feria muito, mas se dependesse de mim, não seríamos pais tão cedo. O medo de perde-la era maior do que a vontade de ser pai.

A flagrei várias vezes no banho se esfregando como se quisesse arrancar sua pele e chorava muito nesses momentos. Quantas vezes tive que, disfarçadamente entrar e acalma-la. Só assim ela parava com aquele flagelo.

Comecei a interrogar meus seguranças constantemente e todos eram unânimes em dizer que nunca saiam de perto dela. Mas que quando ela ia em uma determinada empresa, sempre chegava tensa e saia triste. Como se algo tivesse dado errado.

Claro que investiguei e cheguei até mesmo ir lá. Fui levado até a sala da presidência e conversei com um tal de Benjamin. Um senhor um tanto estranho, mas que não me passou nenhum tipo de ameaça. De qualquer forma, iria ficar de olho nele. Jamais permitiria que cliente nenhum a maltratasse. Mesmo sabendo que aquela baixinha daria conta dele se tentasse se meter a besta com ela.

Aylla sempre foi muito forte, porém nos últimos tempos vinha se definhando. Se tornou até mesmo apática e quase não parava em pé de tanto que havia emagrecido.