Cap. 25 - Aylla

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Acordei desnorteada e com uma dor de cabeça insuportável. A claridade de onde eu estava me cegava e não conseguia me situar. Onde eu estaria, afinal? Olhei para mim e notei que não estava com a mesma roupa da noite anterior e sim com uma camisola minha que havia ficado na caba... Eu estava na cabana de Enrico? Como havia ido parar lá?

Me sentei na cama, olhando em volta, mas tudo rodou e apenas abaixei a cabeça, tentando fazer meu cérebro pegar no tranco. Ouvi a porta se abrindo e esperei pelo pior. Thomas havia me encontrado na boate e descoberto sobre nosso esconderijo. Recuei na cama, mas para minha completa surpresa, um moreno alto, sem camisa e usando uma bermuda folgada entrou segurando uma bandeja de café da manhã com várias coisas nela. Era Enrico. Meu Enrico.

- Bom dia, pequena? - Eu olhava perplexa e sem piscar para aquela imagem. Imaginando estar em um transe ou ainda sob o efeito do álcool. Ele se abaixou, deixou a bandeja na mesa de cabeceira da cama e se aproximou, me dando um beijo na testa. Aquele simples toque reverberou por todo meu corpo e senti como se uma descarga elétrica tivesse me despertado daquele pesadelo que estava vivendo sem sua presença.

- Como vim parar aqui? O que você está fazendo aqui? - Nem conseguia colocar em ordem os pensamentos para que pudesse elaborar uma frase. Tudo estava muito confuso.

- Vim trazer seu café. Coma e depois conversamos.

- Enrico, o que está acontecendo? - estava confusa demais e sem entender nada.

- Vou te explicar tudo, mas preciso que tome seu café. Tenho que dar seus remédios com urgência.

- Você me deixou, então por que está aqui? Eu estou sob efeito de drogas? Estou alucinando? - Ele pegou minhas mãos e as colocou eu seu rosto. Pude sentir a textura de sua barba e o calor de sua pele. Senti como se tivesse emergido das profundezas do mar. A sensação de senti-lo era tão forte que comecei a supitar. Me levantei às pressas e cambaleando e esvazie meu estômago no banheiro. Enrico se pôs atrás de mim e segurou meus cabelos.

- Lá vamos nós outra vez - ele disse num tom brincalhão e leve.

Depois de escovar meus dentes e lavar meu rosto, voltamos para o quarto com ele me apoiando. Sentia uma vertigem descomunal e iria ao chão se me soltasse. Nos sentamos na cama e eu deitei a cabeça em seu peito, sentindo seu coração bater tão descompassado quanto o meu. Ele fazia carinho em meus cabelos e rosto e eu acariciava seu peitoral durinho bem em cima de onde ele havia feito a tatuagem do nosso anjo. Permanecemos naquela posição por um tempo, até que minhas lágrimas começaram a cair juntamente com as dele. Me sentia aliviada e segura, ao mesmo tempo em que estava frustrada por ter sofrido tanto enquanto ele se manteve ausente quando mais precisei. Decidi romper aquele silêncio e me sentei para olhar em seus olhos.

- Por que me trouxe aqui depois de ter me abandonado? Por que está fazendo isso comigo?

- Vou te explicar tudo, mas primeiro coma, pequena.

- Não me chame de pequena. Não cole meus pedaços para quebrar de novo depois. Comi o pão que o diabo amassou por dias. Você me humilhou e depois vem me chamar de pequena? Eu quero ir embora Enrico. Não vou permitir que me torture mais.

- Se você se acalmar, posso te contar tudo. Mas antes tome seus remédios.

- Pro inferno com esses remédios. Eu não quero nada Enrico, só ir embora.

- Não vou te deixar sair assim.

- E vai me manter aqui contra minha vontade?

- Não vou fazer isso. Mas eu quero apenas que me escute. É só isso que te peço.

Me sentei na poltrona em posição de alerta e ele se aproximou com os comprimidos e um copo de suco de romã. Ele sabia atingir meu ponto fraco. Olhei para sua mão com os remédios e para ele e os tomei, seguido de meio copo daquele suco delicioso.

Vidas Cruzadas Parte IVOnde histórias criam vida. Descubra agora