Cap. 33 - Aylla

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Não aguentava mais ficar em hospital. Aquele lugar me dava calafrios, mas finalmente chegou o dia de ir embora. Natalie também estava de alta e veio até mim para saber como eu estava e para minha surpresa trouxe sua filhinha para eu conhecer. Ela era tão branquinha que a chamei de branca de neve.

- Ela é toda linda, Giulia. Quero pra mim - disse, segurando-a bem próximo ao meu peito e sentindo aquele cheiro delicioso de bebê.

- Deixa a Laura ouvir você falar isso, que vai ficar brava. - Dei um último cheirinho em sua cabecinha e a entreguei para a mãe. Me ajeitei na cama e respirei fundo, pois ainda sentia uma dor aguda no lugar em que havia levado o tiro. Tentava não demonstrar aquilo para Enrico, ou não me daria um minuto de sossego.

- É verdade. Aquela macaquinha é ciumenta igual a tia. Melhor não provoca-la - rimos.

- Como você está, Aylla. Com tudo isso?

- Ainda tentando associar o que passei com a realidade. É tudo muito surreal Giulia, as vezes parece que vi tudo por uma tela de cinema e o filme era de puro terror. Mas o importante é que a justiça será feita, finalmente. Só quero poder viver com tranquilidade daqui para frente. Mas cunhada, eu é quem deveria estar te visitando Giulia e não o contrário.

- Não liga para isso. Nossa família não é muito tradicionalista mesmo, nunca seguimos o padrão. O importante é que se recupere logo, Aylla. Agora terá que seguir em frente, mesmo não sendo fácil. Mas você vai tirar de letra. Já passou por tanta coisa e está aí. Temos que aprender a conviver com nossos pesares ou sucumbimos.

- É verdade. Depois de tudo, o que me resta é seguir em frente, seja da forma que for. Mas não é fácil. Aquele monstro me destruiu de tantas maneiras que não sei se um dia voltarei a ser o que eu era.

- Acredite em mim. Você vai passar um bom tempo remoendo e sentindo tudo na pele, mas vai aprender a conviver com esse trauma. Você sabe pelo que passei e ainda dói me lembrar de tudo, mas aprendi que não esquecer faz parte da minha história. O que faço é apenas deixar num canto, onde não atrapalhe a minha felicidade.

- Em algum momento eu vou conseguir olhar para trás sem medo de ser perseguida por ele, mas não consigo sentir segurança com ele por perto, Giulia. Cada vez que a maçaneta gira, meu coração disparar imaginando que possa ser ele entrando.

- Ele não voltará a te perseguir. Fica tranquila, os meninos cuidaram de tudo. Não se preocupe. A polícia tem provas demais contra ele.

- Espero mesmo, senão enlouquecerei de vez.

- Posso levar minhas meninas para casa? Tem dois garotões que não param de perguntar pela mãe e irmã. - Júlio entrou juntamente com Enrico e pegou a filha do colo da mãe. Nos despedimos e no mesmo instante senti falta da minha branca de neve.

- Como você está, pequena?

- Dolorida e sonolenta, mas ansiosa demais para irmos embora. - Tive muita sorte por aquela bala não ter atingido nenhum órgão vital ou poderia ter sido meu fim. O fato de Thomas estar longe também ajudou. Quando soube que ele estava com minhas sobrinhas, o desespero tomou conta de mim e não pensei em mais nada. Apenas em salva-las. Se algo acontecesse a uma delas, jamais me perdoaria. - Tudo que preciso é ir pra casa, tomar um bom e demorado banho de banheira com você, grandão.

- Em breve, eu prometo que iremos tomar esse banho e bem juntinhos. - Senti Enrico muito estranho desde o dia em que fui baleada. Estava muito calado e pensativo. Muitas vezes o peguei olhando para o nada, com um olhar perdido e mesmo perguntando várias vezes, ele só dizia que era ansiedade para irmos embora, porém o conhecia bem demais para acreditar naquela desculpa, mas preferi permanecer calada. Ele já tinha tantas coisas na cabeça. Não o incomodaria com minhas desconfianças.

Vidas Cruzadas Parte IVOnde histórias criam vida. Descubra agora