Cap. 21 - Aylla

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Fui até o café, quase grudada em dois seguranças que não fizeram a menor questão de se distanciarem de mim, mesmo com meus protestos. Peguei o café, salgadinhos e voltei para o quarto, quase carregada por aqueles dois gorilas. Quando voltei, Karim e Isa já tinha voltado e estavam mais calmos. Dei o café para Enrico, que se recusa a soltar Nuri e conversei um pouco com todos. Mas minha vontade, de verdade, era de entrar dentro de um pote de anestésico de tanto que meu traseiro latejava.

- Até quando as crianças ficarão aqui? - meu pai perguntou.

- Se tudo der certo com os exames, amanhã de manhã serão liberados. - Karim respondeu, mas vi que não tirava os olhos de mim.

- Que bom, graças a Deus não foi nada grave. - Poderia nem ter sido nada se eu tivesse conseguido sair e ter encontrado com aquele monstro.

- Você está bem Aylla, está tão abatida. - Meu irmão sempre prestando atenção nos detalhes não me deixou em paz.

- Estou ótima, obrigada Karim. Vou ficar melhor quando as crianças estiverem em casa.

- Se quiserem, podemos passar a noite aqui. - Natalie se ofereceu. Mas Isa disse que não precisaria, que poderíamos ir embora, pois o dia foi cansativo para todos.

- Aylla, você poderia passar na empresa e ver como está tudo por lá, por favor. Sai correndo e nem falei com ninguem.

- Claro que sim, checo tudo antes de ir para casa.

Ao entrar no carro, senti uma dor tão forte que até gemi ao sentir o banco tocar minha bunda, por sorte Enrico ainda estava dando a volta no carro para entrar e gemi alto até me acomodar como podia e fui apertando o banco do carro sem que Enrico percebesse.

- Você ouviu alguma coisa que eu falei? - Enrico pegou em minha mão, me tirando do transe em que me encontrava. Tentava me concentrar ao máximo para que a dor diminuísse, que nem percebi que ele falava comigo.

- Desculpe amor, estou com tanta dor de cabeça que nem te ouvi.

- E a perna, ainda dói muito?

- Bastante, está bem dolorida.

- Você não tem o menor senso de autopreservação, sabia? O médico te avisou mil vezes que é para você pegar leve com os saltos, mas não. Você tem que fazer uma caminhada no parque de salto alto. As vezes você parece uma criança.

- Você não vai começar a brigar agora, por favor. Estou com dor, irritada com toda essa merda de situação com as crianças e quero só descansar minha mente. Não começa com seus sermões porque não estou a fim de ouvir.

- E me diga quando quer ouvir? Aylla, você brinca com sua saúde como se não significasse nada. Nem seus remédios você tomaria direito se eu e a Ruth não pegássemos no teu pé. Eu só quero cuidar de você, já que é péssima nisso.

- Estou de saco cheio de ser dependente de remédios. Você sabe muito bem porquê.

- Isso eu até posso entender, mas se não quiser se cuidar por você, pense pelo menos em todo o sacrifício que eu faço para te manter bem. Já tentou se por no meu lugar?

- Desculpe, Enrico. Estou com a cabeça fervilhando hoje e não quero descontar em você. É melhor pararmos por aqui.

- Lá vamos nós de novo. Você só sabe se fechar quando te indago sobre qualquer coisa.

- Não me fechou não. Sempre falo sobre meus sentimentos com você.

- Não estou falando sobre sentimentos, Aylla. Os seus eu sei de cor. Me refiro aos seus tormentos.

Vidas Cruzadas Parte IVOnde histórias criam vida. Descubra agora