Cap. 37 - Aylla

20 7 1
                                    

Não foi bem um sonho. Me pareceu mais uma visão, pois foi muito real. Ele aparecia em minha frente, todo sujo de lama, inclusive seu rosto. Ficava me olhando e me lembro de ficar sem reação, paralisada pelo medo. Eu disse que iríamos ficar juntos, por que você me traiu, sua cadela? Agora vou sozinho para lá, mas eu não quero ir! Me ajuda Aylla, é muito feio para onde vou, não me deixe ir para lá.

- Não posso Thomas. Você escolheu seu caminho, não posso passar de onde estou. - Me lembro de olhar para trás e ver um jardim muito bonito, cheio de rosas brancas. Um cheiro delicioso exalava delas e senti uma paz tão grande, mas quando olhava para ele, estava numa floresta muito escura, onde os galhos das árvores pareciam quererem pegá-lo.

- Mas eu não quero ir sozinho, me ajuda Aylla! AYLLAAA!!- Ele foi indo para trás, quase desaparecendo enquanto falava. Eu me mantinha no mesmo lugar e realmente, mesmo se tentasse, não poderia chegar até ele, pois olhei para baixo e havia um abismo entre nós e cada vez ele estava mais longe, até que sumiu entre as árvores gritando por meu nome. Eu sentia apenas uma brisa leve tocando em mim e aquela paz permaneceu. De repente, uma mão pequena alcançou a minha e sentir o seu calor. Era um menino e quando olhei em sua direção, ele abriu um lindo sorriso para mim e me puxou para trás. Agarrei aquela mão pequena e saímos andando, contornando aquele lindo e imenso roseiral.

Acordei e me sentei no sofá. A mesma sensação do sonho, me acompanhou em seguida. Parecia que um peso havia sido arrancado do meu peito.

- Você está bem amor? Já ia te levar pra cama.

- Estou. Estava sonhando com Thomas. Mas dessa vez foi diferente das outras.

- Isso é bom ou ruim?

- Pela primeira vez ele não me pegava. Estava indo para longe, sendo carregado por forças sobrenaturais. Ele está pagando pelo que me fez. O lugar dele é no inferno e não sei se um dia sairá de lá, mas agora é entre ele e o coisa ruim, pois eu estou em paz...

- Assim que se fala, meu amor. Mas vamos esquecer desse cara. Ele não merece mais ser lembrado.

Enrico me pegou no colo e terminamos nossa noite numa banheira cheia de sais, espuma e amor.

Acordamos no dia seguinte exaustos, mas como íamos viajar bem cedo, não deu para ficarmos na cama por muito tempo.

Magno nos levou ao aeroporto, mas passou direto da entrada do desembarque. Seguimos até um portão um pouco mais afastado e chegamos a um saguão praticamente vazio.

- Onde estamos? Não deveríamos ter descido lá atrás?

- Não pequena, deveríamos estar exatamente aqui. Olha para frente.

Olhei e vi um jatinho de última geração parado do lado de fora de onde estávamos. Depois de todos os procedimentos para sermos liberados, nos aproximamos e eu fiquei paralisada, admirando-o.

- É nosso.

- Como assim, nosso? Você disse que jamais compraria um. O que te fez mudar de ideia?

- Você, pequena. Não quero mais ter medo de lugares apertados ou fechados e só estando com você que conseguirei isso.

- Se depender de mim, nunca mais sentirá, vou me esforçar bastante para que se esqueça que está dentro de um avião todo fechado.

- Você não está ajudando muito agora.

- Desculpe amor. Podemos entrar? Estou ansiosa para ver por dentro. Afinal acho que dei o golpe do baú sem saber. De onde sai tanto dinheiro assim grandão? As vezes isso me assusta.

- Lá dentro eu te conto. Vamos entrar?

- Estou doida para conhecer. Vou poder mexer em tudo?

- Claro. Ele é teu. Se divirta. Desde que não queira invadir a cabine do piloto e fugir com ele, está tudo bem. - rimos.

Vidas Cruzadas Parte IVOnde histórias criam vida. Descubra agora