Cap. 19 - Aylla

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Acordei antes de Enrico e fui preparar um café reforçado para nós. Ruth não viria de manhã, então aproveitei para exercitar meu lado chef de cozinha. Como um legitimo homem do interior, ele comia quase o equivalente a uma refeição logo pela manhã, então fiz muitas coisas que ele gostava de comer, inclusive gemada. Aquele homem era viril de um jeito que nunca vi e mantê-lo bem alimentado e vitaminado era uma tarefa constante em minha vida.

O dia anterior foi um verdadeiro martírio. Thomas tentou de todo jeito chegar até mim, mas Karim e Enrico me cercaram de todas as formas possíveis. Não pude ficar sozinha nem mesmo um minuto. O pavor tomou conta e imaginei mil situações pela qual ele poderia se vingar. No fim, resolvi afastar toda a angústia daquele dia me concentrando em meu amado. Ultimamente eu estava negligenciando nosso relacionamento e isso afetava a ambos. Queria aplacar aquela angústia e só ele poderia fazer isso. Deixaria para me preocupar com Thomas mais tarde, naquele momento eu só queria agradar ao meu grandão.

Fiz uma bandeja gigante e me dirigi até o quarto, mas antes de abrir a porta ouvi Enrico muito exaltado ao telefone.

- ... Calma Isa, não fica assim. Nós já estamos indo, em qual hospital você está?... Eles já foram atendidos?... Como assim UTI? Se acalma.

Eu sabia, aquele monstro tocou em meus sobrinhos, nas minhas crianças. Soltei a bandeja que carregava no chão e fui cambaleando para trás. Enrico correu até mim e me segurou antes que eu caísse no chão.

- O que... O que... Enrico, as crianças... O que aconteceu? - Eu sequer conseguia formular uma frase, tamanho meu desespero.

- Não sei ao certo. Parece que passaram mal e foram para no hospital. Vamos rápido pra lá, a Isa está desesperada.

- O que ela disse? O que houve pelo amor de Deus?

- Parece que sofreram algum tipo de intoxicação severa e foram internado às pressas.

- Você falou em UTI, os dois estão na UTI?

- Só o Nuri, o caso dele é mais grave. Fica calma amor.

- Calma? Eu estou desesperada. Vamos logo. - Me troquei o mais rápido possível e fomos para o hospital. Parecia que não chegávamos nunca, mesmo com Enrico correndo o máximo que podia.

Assim que entramos, avistei Isa e Karim abraçados e chorando muito.

- Como eles estão? - Enrico perguntou a Karim enquanto eu tentava consolar Isa.

- A Laura está bem, mas o Nuri foi levado para a UTI, estamos esperando, pois ninguém falou nada ainda.

- O que aconteceu, como eles foram adoecer assim, do nada?

- Eu não sei. Tomamos café normalmente e eles encontraram os primos na hora de ir para a escola. Fiquei conversando com a Natalie um pouco enquanto brincavam e quando estávamos à caminho da escola, notei que os dois estavam estranhos. Laura disse que estava enjoada e começou a vomitar do nada, mas o Nuri não reagia e estava letárgico. Mesmo chacoalhando ele, não acordava e corremos com eles para ca. Nuri estava ficando roxo quando entraram com ele para a emergência. Achei que tivesse engasgado com algo, mas não saiu nada quando fiz a manobra para desengasgo.

- E onde estava a babá deles?

- Ela foi resolver um problema pessoal de manhã e não tinha chegado ainda.

- Muito providencial - falei alto, mas para mim mesma.

Me sentei em um banco com Isa enquanto meu irmão estava desesperado, andando de um lado para o outro e socando as paredes enquanto conversava com Enrico. Os dois me olharam com certas estranheza e senti a necessidade de me encolher, porém me concentrei em minha cunhada que chorava sem parar.

Vidas Cruzadas Parte IVOnde histórias criam vida. Descubra agora