Cap. 40 - Enrico

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— Não faça muitos força amor, logo chegaremos. Tente se controlar.

   — Me controlar como, Enrico? Tem um bebê gigante querendo sair por uma abertura minúscula. Como posso ter calma!!

   — Mas era para ele nascer daqui dois dias, não entendi o que aconteceu, não está na hora ainda!

   — Vou falar isso para ele. Olha, Daniel, sua cesárea é daqui dois dias, então durma até lá. Vai a merda, Enrico? Ahhhh, como isso doiiii!!

   — Nunca tive um filho antes, não sei como funciona essas coisas amor, estava tudo programado, será que fizemos algo de errado?

   — Trepamos como se o mundo fosse acabar, isso deve ter induzido o parto. Então agora cala a boca e só dirige este carro. Estou com dor, nervosa, ansiosa e com fome. Então dirija esse carro e rápido. Ahhh, mas que porra de dor do CARALHOOOO!!

   — Aylla, o bebê pode ouvir tudo, tente se controlar. — Ela me olhou como se fosse me esganar e preferi ficar quieto. Era bem melhor.

   Aylla entrou em trabalho de parto  dois dias antes da cesárea programada pelo doutor Michel. O nosso bebê era enorme e quis vir ao mundo  no seu tempo.

   Estava deitado na sacada com uma taça de vinho na mão depois de termos feito amor, quando ouvi o grito de Aylla vindo da cozinha, junto com um barulho estridente de algo se quebrando. Dei um pulo, jogando a taça longe e corri até ela.

   — Porra, merda, caceteee!!

   — O que aconteceu pequena, você se cortou?

   — Não!! Minha bolsa estourou, Enrico e agora?

   — Você tem um milhão de bolsas pequena, me deixa ver se consigo consertar.

   — Não essa bolsa, a bolsa...

   — A bolsa... Bolsa? A do bebê, é isso?

   — É essa mesmo, olha pro chão, a bolsa estourou. Preciso colocar uma roupa, pega pra mim. Ahhhh! — Aylla gemeu e segurou o pé da barriga.

   — Como vou saber que roupa, Não sei qual você separou para ir pro hospital? — Eu parecia uma barata tonta de tão nervoso que estava. Nem o curso de gestante que fizemos me preparou para aquele momento. Perdi completamente a noção de tudo com meu desespero e olha que eu era muito centrado e controlado. Mas descobri que, com um filho vindo ao mundo, todo e qualquer senso simplesmente desaparece.

   — Amor, olha pra mim, se concentra. — Olhei para ela que apertava minhas mãos com muita força. — Nós vamos ter um bebê, então não de chilique ou eu vou te socar, mesmo sentindo dor. Só me ajuda a chegar ao quarto. — Olhei para baixo e o chão estava todo molhado e com cacos de vidro, será que aquilo era normal?

   — Isso no chão está certo? Parece que um cano estourou. Nós vídeos que vimos não era tanto líquido que saia.

   — É isso mesmo que acontece, agora me leve para o quarto, senão levará um tapa. — A peguei no colo com cuidado para não pisar naqueles cacos de vidro e corri até o quarto. Aylla estava enorme. Mesmo sendo miúda, havia engordado quase quinze quilos na gravidez e andar para ela estava sendo um sacrifício. Levamos muitas broncas do doutor Michel, pois eu não conseguia controla-la e acabava comendo junto de tanta ansiedade. Parte de seu ganho de peso era culpa do nosso filho, pois o menino, como dizia o médico, era um gigante. Na verdade, era como se um cão fila tivesse engravidado um beagle.

   Ajudei Aylla a por uma roupa, mas não parava de tremer. Peguei rapidamente as malas que ela havíamos deixado separadas e a apressei para ir logo. Ela se sentou na cama com uma expressão de muita dor, mas em seguida começou a rir, do nada.

Vidas Cruzadas Parte IVOnde histórias criam vida. Descubra agora