Cap. 28 - Enrico

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Assim como eu o estava vigiando de perto, sabia que ele fazia o mesmo com todos, principalmente com ela. Se chegássemos perto de qualquer maneira, ele saberia. No dia que a resgatei na boate, conseguimos uma sósia que havíamos contratado de antemão para o caso de ser necessário e aquela noite foi muito necessário, pois os capangas de Thomas foram distraído suficiente para que eu a pegasse enquanto seguiam a falsa Aylla. Então todo tempo que eles pensaram que ela estava em casa triste e chorando, eu estava com ela na cabana. Mas não poderíamos demorar para voltar, pois se ele mandasse algum capanga ir conferir se estava tudo bem, poríamos tudo a perder. Inventamos uma desculpa para a falta de comunicação com o celular e ele aparentemente caiu feito um patinho em nossa história.

Mas não estava suportando aquela distância. Precisava senti-la e saber como de fato estava ou enlouqueceria. De repente uma sensação horrível tomou conta de mim e senti que algo poderia estar acontecendo a ela. Então chamei novamente a sósia e pedi que fingisse estar saindo do prédio e ir para a casa de uma amiga qualquer, mas se identificar como Aylla e sempre permanecer de costas para não ser descoberta. Aproveitei que baixaram guarda e fui até a garagem.

Quando entrei no apartamento, notei um silêncio mórbido nele todo. Aylla era movida a música e a falta dela me acendeu um sinal de alerta. Ruth me avisou que tinha que resolver um problema e ela estava sozinha. Também havia pedido que removesse todas as escutas, ele não teria mais acesso a ela e ao que acontecia em seu apartamento. Procurei por todos os cômodos e não a encontrei, porém quando fui até a varanda do quarto, ela estava sentada, encolhida num canto e segurava uma garrafa de vinho nas mãos. Percebi que estava mole e meu coração congelou quando olhei para o lado e vi vários comprimidos jogados pelo chão.

- Aylla, fala comigo. O que você fez? - Eu estava desesperado tentando saber quanto daqueles remédios ela havia tomado e já ia pega-la no colo para correr para o hospital quando ela, com a boca mole começou a falar.

- Oi grandão. Você me abandonou. Você foi embora. - Era visível que estava muito bêbada.

- Não te abandonei amor, estou aqui. O que você tomou pelo amor de Deus. Quantos comprimidos você ingeriu?

- Nenhum grandão, nenhum não.

- Não minta para mim. Quantos comprimidos você tomou?

- Eu queria morrer Enrico, mas eu sou fraca até para isso, sou uma inútil, uma burra. O Thomas tem tooodaaa razão. Eu sou uma impresstavell.

- Amor, recupere os sentidos, por favor. Eu estou aqui. Você tomou os remédios?

- Nenhunzinho sequer moreno alto e delicioso. Você é um sonho, porque se for, não quero acordar, você é tãoooo lindooo. Eu sou tão inútil.

- Não vou deixar você se matar assim. Vamos, vou te dar um banho e um café amargo.

- Mais amargo que minha vida? Duvido que conseguirá. Eu não estou aguentando ficar sem você. Volta pra casa Enrico? Fica comigo?

- Está acabando amor. Tenha só um pouquinho de paciência.

- Não, não e não. Cansei de brincar de Tom e Jerry. Pra mim chega.

- Vou te dar banho e depois conversamos. - A peguei no colo e só a coloquei no chão quando estava dentro do box. Ela queria tirar minha camisa de qualquer jeito, mas eu me esquivava. Não iria fazer nada com ela bêbada. - Vou cuidar de você. Vamos curar essa bebedeira.

- Você é minha cura, grandãooo. Me tira dessa tristeza, está difícil aguentar ela - ela começou a cantarolar uma música e chorava enquanto eu a lavava. - Tristeza... Por favor vá embora... Minha alma que chora.... Está vendo meu fim... Fez meu coração a sua morada, já é demais o meu penar. Quero voltar aquela vida de alegria... Quero de novo cantar... Estou em pedaços Enrico. Não dá mais pra juntar. Parei de dar banho em Aylla e Entrei de roupa e tudo debaixo do chuveiro. A trouxe para mim, sentando no chão e a segurando no colo.

Vidas Cruzadas Parte IVOnde histórias criam vida. Descubra agora