Ela adormeceu logo em seguida. O medicamento era bem forte pelo visto, mas eu não sai de perto dela. O médico entrou novamente para me passar alguns procedimentos de rotina em casos como o dela e avisou que a polícia estava aguardando para tomar nosso depoimento.
- Eles tiveram muita sorte. Por muito pouco a bala não atingiu o útero.
- Ela ficará bem, doutor? Esse calmante não prejudica o bebê?
- Fique tranquilo, demos a dose mínima, ele ficará bem. Pelo que notei pelas marcas em seu corpo, ela passou algum tempo internada antes, estou certo?
- Sim, está. Ela sofreu um acidente há alguns meses e perdemos um filho. Ela estava grávida de quase cinco meses.
- Me lembro desse caso. Ela foi a moça da embolia? A moça que sobreviveu mesmo sem chances de sobreviver?
- Creio que seja. A história dela ficou famosa em muitos lugares. Os médicos a desenganaram várias vezes, mesmo assim ela sobreviveu.
- Então essa pode ser a segunda chance de vocês. Esse bebezinho sobreviveu a um DIU, a uma bala e pelo que me relatou, a vários traumas ocasionados por algum tipo de tortura. É um verdadeiro guerreiro.
- Os dois são, doutor. Aylla passou por coisas nos últimos meses que poucas pessoas aguentariam. Mas está aqui. Não sei o que faremos a respeito dessa gravidez, mas faremos juntos.
- Não sei desde quando o que me relatou vem acontecendo, mas tem certeza que não quer mesmo saber o tempo de gestação, talvez esse filho seja seu?
- Ainda não. Vou descobrir com ela. Ainda preciso digerir essa notícia. Preciso saber dela o que faremos.
- Como quiser. Os deixarei a sós e volto mais tarde.
Ele saiu e eu me colei a ela. Beijava seu rosto, suas mãos, sua cabeça e chorava de alívio. Ela poderia ter sido tirada de mim. Aquele maldito quase conseguiu e senti todo o peso do mundo em minhas costas. Estava nervoso, angustiado, esgotado emocionalmente e revoltado com a vida. Eu havia torturado e matado um homem que, embora fosse um desgraçado, ainda assim era um ser humano. Para piorar, minha mulher estava novamente em um hospital, ferida e grávida. E o pai poderia nem ser eu. Saber daquela notícia me deixou muito confuso e com os sentimentos bagunçados. Queria estar radiante com a certeza de que seria pai, mas depois das fotos que recebi, onde Aylla aparentemente estava fazendo sexo com Thomas, minha dúvida só aumentava. As fotos eram montagens, mas ele poderia ter feito e não ter gravado. Ela havia me dito que ele a drogava e dizia que a estuprava naquelas condições para que não fosse arranhado ou que ela tentasse mata-lo. Mas nem ela mesma se lembrava disso. E não tinha certeza se realmente era verdade. De repente senti uma ânsia insuportável e esvazie meu estômago no banheiro. Por sorte havia escova de dentes lá. Quando voltei para o quarto, Aylla estava acordando e gemia ao tentar se levantar.
- Onde você foi. Pedi para não me deixar sozinha.
- Só estava no banheiro. Não sai de perto de você, amor. Como se sente?
- Como a noiva do Chuck. Toda costurada. Agora tenho mais uma cicatriz. Logo vou entrar para o Guiness.
- Não seja exagerada. Dessa vez foi só uns pontinhos. Quase nem dá para ver. - Brinquei tentando amenizar aquela tensão, mas Aylla estava séria e tensa demais.
- O que fizeram com Thomas?
- Entregamos ele para os policiais. Agora é com a justiça.
- Ele não ficará preso por muito tempo, sabem disso. Esse miserável vai acabar com a gente.
- Dessa vez não, pequena. Agora podemos dormir tranquilos, finalmente.
- Como pode ter tanta certeza, Enrico? Ele sempre dá um jeito de se safar.
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Vidas Cruzadas Parte IV
Romance🌹 Não há remédio para o amor, a não ser amar mais 🌹 O amor de Enrico é posto à prova quando Aylla se fecha em suas feridas e tenta a todo custo protegê-lo. Esse amor não poderá ser vivido plenamente até que consigam se livrar do mal que os asso...