Vidas Cruzadas Parte IV

Cap. 22 - Aylla

No caminho, o silêncio se instalou entre nós, assim como a distância física. Enrico sempre me fazia carinhos pelo caminho, mas não naquele dia. Ali estava um Enrico que eu não conhecia. Um homem frio e calculista que de nada lembrava o homem por quem me apaixonei. Mas como culpa-lo? Eu estava destruindo nosso relacionamento com tantas mentiras e desculpas para tudo. A culpa era tão e somente minha de tudo estar desabando. E descobri que aquele era o plano de Thomas. Ele me fez voltar para Enrico somente para fazer destruir o amor dele por mim. Ele estava me matando aos poucos e sabia que meu ponto fraco era aquele homem. Sabia que se Enrico me odiasse, seria o meu fim e a vitória dele.

Passamos no hospital para ver as crianças e quase não os encontramos lá, pois receberam alta e Karim e Isa estavam terminando de troca-los para irem embora. Os dois se grudaram em nós e só conseguimos sair porque prometemos ir ve-los em casa. Todo aquele amor genuíno de meus sobrinhos me deixou um pouquinho mais animada, mas quando me deixou na porta da empresa, Enrico apenas me deu um beijo em minha têmpora e disse que passaria no final do expediente para me buscar.

Desde que o conheci, nunca nos tratamos tão friamente. Ele estava mais distante que nunca de mim e trabalhei o dia todo me arrastando e rezando para que Thomas não me ligasse. Mas quem me ligou foi Enrico, quase no final da tarde, avisando que teria que permanecer no hotel e que dormiria por lá, pois as reuniões não tinham hora para terminar.

Resolvi então dormir na casa da minha anne. Precisava de colo e só ela tinha o que eu queria.

- Oi meu passarinho, está tudo bem? Por que está aqui e cadê o Enrico?

- Se quiser posso ir embora. Não sabia que precisava avisar antes de vim ver minha mãe.

- Não é isso kizin, só estranhei por vim aqui sozinha, é só isso. Entre.

Entrei e me larguei em seu sofá, nem me importando com a dor na bunda. Ela se sentou ao meu lado e logo percebeu que algo não ia bem.

- Pode falar minha alma. O que está te afligindo? Eu te conheço e sei que as coisas não estão nada bem entre você e Enrico faz tempo. Desde o retorno daquele suikastçı (assassino) vocês não tem um minuto de paz. - Despejou de uma só vez.

- Aí anne, por que as coisas tem que ser tão difíceis? Por que não posso ter uma vida tranquila e sem graça como a maioria das pessoas? Estou tão cansada de tudo isso.

- Me conte o que está acontecendo filha, não poderei ajudar se não souber de toda verdade. O retorno daquele monstro está acabando com os nervos de todos, mas sei que você é a mais atingida, me fala, está escondendo algo de nós, minha cordeirinha?

- Mãezinha, estou vivendo suspensa desde que ele voltou, como se estivesse em inércia só esperando a bomba explodir. Estou cansada de viver assim. - Ela se aproximou e me abraçou. Me desarmando. Chorei em seus braços até que me acalmasse.

- Tem muito mais coisas nesse choro do que o simples medo de Thomas, filha. Fale para mim, o que está te destruindo dessa maneira?

-Acho que Enrico se cansou de tudo isso. Sinto que o estou perdendo. Está indiferente e muito frio.

- Não fale bobagens filha. Aquele homem te venera, ele jamais vai te deixar. Está lutando ao seu lado para conseguir pegar aquele crápula, como pode pensar isso?

- Eu sinto. Ele não vai aguentar muito mais tempo dentro dessa merda toda que o meti. Estou apavorada com a simples ideia de ficar sem ele e se isso acontecer mãe, vou enlouquecer. Tudo que faço nesta vida é por ele, mas não estou suportando mais. - Tive uma crise forte de choro e minha mãe correu fazer um copo de água com açúcar e trouxe sua colônia, espalhando por todo meu corpo. - Aos poucos fui me acalmando, mas soluçava sem parar de tanta angústia que sentia. O ar me faltou e tivemos que ir para o quintal, para que eu voltasse a respirar.