Cap. 34 - Aylla

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Pouco tempo depois minha mãe chegou e me pegou chorando na cama e Enrico chorando num canto do quarto. Por sua reação, soube que ela já sabia de tudo.

- Mãezinha como isso pode ter acontecido comigo. Eu fui amaldiçoada, não fui?

- Não diga isso nem de brincadeira, kizin.

- Então por que temos que passar por mais essa provação, será que já não paguei todos os meus pecados depois de tudo que me aconteceu?

- Nada do que você passou foi culpa sua, meu cordeiro. Nem mesmo esse bebezinho tem culpa de nada do que passaram, ele é tão inocente nessa história quanto você. Não o deixe pagar pelos pecados daquele miserável.

- Eu não posso ter esse filho, sabendo o que o provável pai dele fez comigo, não quero odiar essa criança por isso, mas é o que acontecerá se eu não por um fim nisso agora.

- Imagina então se ele for filho daquele homem ali. - Ela apontou para Enrico que chorava calado - Será uma benção para vocês, uma verdadeira vitória e você poderá estar jogando fora a chance de segurarem um bebezinho gerado do amor de vocês.

- Eu não quero correr esse risco, não posso ter esse filho.

- Você quem sabe filha. Vou estar ao seu lado, para o bem ou para o mal. Mas saiba que se optar em ceifar essa vida, Deus poderá não te dar uma segunda chance. Você perdeu dois bebês contra sua vontade e sabe o quanto sofreu com isso. Ele está sendo misericordioso e está te dando uma nova chance. Não se esqueça que você estará matando um ser inocente que não pediu para vir ao mundo.

- Eu também não pedi por esse bebê. Não esse e não agora. Quero um que tenha certeza ser do homem que eu amo e não que veio através das minhas lágrimas e da minha dor. Você não faz ideia do que passei nas mãos daquele endemoniado, anne. Foram surras e mais surras. Apanhei de chicote, de palmatória, fui eletrocutada, afogada, deixada no escuro total, com vozes de homens rindo e dizendo o que queriam fazer comigo. Coisas que até o diabo sentiria nojo. Então não me peça para amar e ter piedade dessa criança, ela veio através de sofrimento e não de amor. - Aquela altura, minhas lágrimas corriam em torrentes.

- Chega, Aylla. Não precisa falar mais nada, amor. Para de se lembrar disso. Já acabou. Eu estarei do seu lado até o fim. Estou bem aqui.- Enrico me abraçou e eu me agarrei a ele.

- Fica comigo grandão. Promete me apoiar? É tudo muito difícil.

- Eu estarei sempre com você Aylla, não se preocupe. Meryem se ela optou pelo aborto, não podemos ficar contra ela. Olha só para seu estado. Não vou obriga-la a nada.

- Mas Enrico, é errado o que farão!

- E tudo o que passamos, não foi errado? Merecíamos passar por toda essa penitência? Eu sei que não merecíamos. Não queremos que essa criança venha ao mundo sem o amor incondicional dos pais. Se Aylla não a quer, eu vou aceitar e apoiar até o fim sua decisão.

- Vocês é quem sabem, mas pensem no peso das mãos de Allah sobre vocês. Que ele os proteja, só me resta rezar para que vocês encontrem a paz depois disso tudo. Não será fácil, mas eu estarei esperando de braços abertos, mesmo não aceitando.

- Ele já pensou sobre nós, anne. Olha só para o que estamos passando, não nos restou mais nada.

- Não diga isso kizin. Deus te devolveu para nós não uma, mas três vezes. Você tem tudo. Só não enxergam isso porque estão olhando para o chão por tempo demais. Ergam a cabeça e comecem a vislumbrar o que Deus está trilhando para o futuro de vocês. Quem anda olhando para baixo, nunca verá o Sol brilhar. Vou deixar vocês agora, mas estarei lá fora para dar meu colo quando se arrependerem dessa decisão.

Vidas Cruzadas Parte IVOnde histórias criam vida. Descubra agora