Cap 20

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Jaime Beaumont

O meu dia hoje foi exclusivamente na empresa, tive várias reuniões, tanto na parte da manhã como pela parte da tarde, estou exausto e ainda faltam uns documentos bem importantes que necessitam ser assinados ainda hoje, mas não estou encontrando em lugar algum. Então imediatamente ligo para a Bete, a minha secretaria, e pergunto se ela não vos viu, porém, ela não os viu, agradeço e encerro a ligação, afundo mais na cadeira, tentando lembrar onde foi a última vez que peguei os tais documentos, após alguns minutos lembro que os levei para o hospital, e que os deixei na gaveta da minha mesa. Me levanto, pego as minhas chaves, celular e saio para ir buscar os documentos, ainda bem que não ficará tão longe daqui até o hospital.

Em menos de trinta minutos estou estacionado na garagem do hospital geral de Guarulhos, desço do carro e entro direta para o meu consultório, mas paro no mesmo instante ao lado da sala de enfermagem quando vejo a Mayara chorando, sem elas me verem, ficou ouvindo o que elas estão conversando, entretanto, a Samantha esta falando um pouco baixo demais, e a única coisa que da para escutar, é quando ela falar algo sobre denunciar. Logo me vem a mente que a Mayara possa ter sido assaltada, sem pensar direito entro na sala, elas param de falar assim que me veem, e a Mayara, vai logo dizendo que vai embora, porém, peço para conversamos por um minuto, de início Mayara se nega, mas por fim acaba aceitando, então, vamos até o meu consultório.

Não vou mentir, ver a Mayara chorando me incomodou bastante, e o meu desejo agora é abraçá-la forte e tirar dela o que tanto está afligindo, a ponto dela chorar compulsivamente. E é isso que faço, a envolvo com meus braços, apertando-a bem forte.

Estou com meus lábios encostados nos dela, mas não há beijo, não por falta de vontade, pois só Deus sabe o tanto que estou me controlando para não devorar sua boca gostosa, mas por não achar que seja o momento adequado para isso. Sua respiração, ofegante e irregular, só piora as coisas, aumentando mais o meu desejo. Me afasto dela, sem a soltar, e volto a questionar o que aconteceu que a fez chorar, porém, ela insiste em dizer que não é nada.

Mayara - Preciso ir, Jaime... já deu um minuto.

Jaime - Por que você não quer me falar o que está acontecendo?

Mayara - Porque não vai mudar nada...(Diz e sai porta fora, tento impedi-la, mas é inútil.)

Passo a mão pelo cabelo, exasperado, frustrado, por não conseguir descobrir nada, respiro fundo e resolvo ir atrás dela. No momento em que estou passando pela sala da enfermaria, vejo a Mayara desmaiar, por sorte a Samantha a segura antes que ela possa cair. Me aproximo rapidamente, a pego nos braços e a deito na maca.

Jaime - O que houve?

Samantha - Eu não sei... ela se despediu e, quando vi, ela já estava caindo.

Sem esperar, Samantha levanta um pouco as pernas da Mayara, isso faz com que o fluxo sanguíneo aumente, e ela recobrará os sentidos. Verifico seus sinais vitais e, quando vou afrouxar a sua blusa, a Samantha me impedi.

Samantha- Não é necessário?

Jaime - Claro que é, e você sabe disso.

Samantha- Dr. não precisa...

Mesmo a contra gosto da Samantha, desbotoou a blusa da Mayara, e fico sem reação com o que vejo, o pescoço da Mayara tem hematomas.

Jaime - Quem... quem fez isso? (Pergunto sem desviar o meu olhar)

Samantha - Eu não sei... (Diz, mas sei que está mentindo)

Após alguns segundos, a Mayara recobra a consciência e, ainda meio atordoada, pergunta o que aconteceu.

Samantha - May, você desmaiou...

Ela pisca algumas vezes, como se quisesse lembrar do que aconteceu, mas ao perceber que a sua blusa está um pouco aberta, fica meio que desesperada e rapidamente a fecha.

Jaime - Desculpe, mas precisei abrir um pouco para você respirar melhor... (Falo entre os dentes, já que meu corpo todo está tensionado de raiva).

Mayara- Você não tinha esse direito. (Fala e se levanta, mas para no instante em que sente uma tontura).

Jaime - Você ainda não está em condições de se levantar, então é melhor esperar um pouco...

Samantha - Amiga, o que aconteceu, que te fez desmaiar?

Mayara - Não sei dizer, Sam, mas acredito que seja, porque não comi nada desde ontem... (Diz baixinho)

Encaro a Mayara, com um olhar de repreensão, como ela ficou esse tempo todo sem se alimentar.

Jaime - Como você não se alimentou, vou receitar um soro com vitaminas. Assim que você tomar, poderá ir embora.

Mayara - Não precisa, já estou bem.

Samantha- May, o Dr. Jaime está certo.

Mayara - Não, Sam...(Diz encarando a amiga)

A Samantha nada responde, apenas assente que sim com a cabeça. Então, Mayara se levanta e, quando vai saindo com Samantha, lhe oferece uma carona, porém ela não aceita e diz que vai pedir um Uber. Assim que ela sai, olho sério para a Samantha e pergunto sobre as marcas no pescoço da sua amiga, mas ela se faz de desentendida.

Jaime - Você não vai me dizer que droga aconteceu com a Mayara?

Samantha- Não é da sua conta, Dr. Jaime, é melhor não se meter em algo que não lhe diz respeito.

Jaime- Foi o marido dela, não foi? Ela contou no nosso beijo e ele fez isso com ela?

Samantha- Dr. Jaime, por favor, não me faça perguntas que não posso responder.

Jaime - Eu apenas quero que me diga se aquelas marcas foram causadas pelo marido da Mayara?

Samantha - Eu não sei...

Jaime - Para de mentir, Samantha... que porra de amiga é você, que preferi omitir uma agressão ao invés de ajudar a própria amiga? (falo um pouco alterado, além da conta)

Samantha - Olhe aqui, Dr. Jaime, não venha contestar a minha amizade com a May, se não faço nada, é porque ela não quer, e mesmo odiando a sua decisão, tenho que aceitar.

Jaime - Foi por minha culpa, não foi, ele...(Paro, pois não consigo terminar a frase de tanta raiva que estou sentindo, só de imaginar que a Mayara sofreu violência doméstica, por minha culpa.)

Em nosso país, o índice de mulheres espancadas pelos parceiros é alarmante, chegando a 80%. Estima-se que 5 mulheres são violentadas a cada 2 minutos. Não é apenas uma agressão física, que chamamos de violência domestica, mas também a agressão psicológica, moral, patrimonial e a sexual. Na violência física, como todos já conhecemos, vem por meio de espancamento, um simples tapa, sufocamento, lesões com objetos cortantes, uso de arma, etc. A psicologia ocorre quando a mulher sofre ameaças, chantagem, algum tipo de humilhação, constrangimento além de muitas das vezes proibi elas de sair de casa, estudar, trabalhar, falar com amigas ou familiares. Depois vem a patrimonial, que ocorre quando a vítima tem seus bens ou objetos retidos, confiscados e às vezes até destruído. Para finalizar, temos a violência sexual, caracterizada quando o parceiro obriga a vítima a manter ou a participar do ato sexual não desejada pela mesma. Esta ação é realizada sempre através de intimidação, ameaça, coação ou uso da força.

Ando de um lado para o outro, furioso de tal maneira que acabei esquecendo do que vim fazer, não falo mais nada com a Samantha e retorno para o meu consultório, pego os documentos assino saio para a empresa, mas ainda com a minha cabeça a mil, por saber que a Mayara, a mulher que tanto desejo esta passando por isso.

UM MÉDICO CEO EM MINHA VIDA.Onde histórias criam vida. Descubra agora