Isca para peixe

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Após uma batalha a noite se torna mais fria, o vento congela e o ar pesa,  a fome se torna mais ardida e a ferida mais corrosiva. Noites pós batalha são longas, só se pode descansar o corpo, pois a mente se contorce como um ventre ferido, ferve em agonia e transforma cada doce sonho em agonia.

Nessas noites Jimin nunca dormia.

A cada batalha perdida sua mente se recusava a adormecer, amava a glória de uma luta e o sentimento de vida que provinha delas, mas quando seu povo sofria mais do que a situação permitiria, seu corpo sofria em mártir. Foram anos vendo a noite dar lugar ao dia, vendo o sol nascer e a lua morrer, mas em todos esses anos sempre teve companhia.

Quando não podia dormir ia ao encontro de Senjoo, que apesar de não ter problema algum de sono, se sentava ao seu lado e ali repousava. Quando ele morreu foi como se toda sua esperança, alegria e conforto tivesse desaparecido e se decomposto no oceano junto de seu cadáver, porém o mar é bom e piedoso, ele lhe tirou um irmão, mas o presenteou com uma alma tão pura quanto, deu-lhe o amor, a esperança e a alegria novamente.

Seus sentimentos eram tão fluidos e intensos quanto aquelas águas, tão leves quanto a criatura que ali nadava livre e abundante.

Quando a noite caiu naquele dia, todos foram descansar, sem se preocupar com qualquer ataque surpresa ou invasão. Suas almas clamavam pelo sono, pela comida, pelo aconchego de uma fogueira amistosa. Enquanto repousavam, Jimin e Jungkook pegaram uma escale e foram em direção ao mar em busca de alimento.

Era fácil conseguir acesso ao mar, não haviam guardas naquele lado da costa pois ela pertencia a si, certo que na situação atual sua posse estaria em discussão, mas ainda era sua. Enquanto remava para acompanhar o tritão que nadava alegremente ao seu lado, sua mente se perdia em futuros planos, queria reunir sua tripulação novamente, recuperar seu navio e trazer de volta o nome Domínio do Demônio as bocas apavoradas das pessoas, desejava a vida que tinha, queria mostra-la a Taemin como era navegar de verdade, mostrá-lo com Senjoo passou os anos mais incríveis de sua vida, mostrar ao povo que restou do Beco que ele podia trazer os dias de gloria novamente.

Apesar de seu desejo ser profundo, não tinha perspectivas de futuro, se sentia velho, cansado. Havia algo em seu âmago dizendo alto que estava perto do fim, que esses problemas que enfrentava seria sanados, e apesar disso não se via mais capitaneando o Espuma do Mar.

Isso o frustrava.

Após remar por certo tempo a fera do mar finalmente parou de nadar e segurou o barquinho junto. Já estavam longe o suficiente para verem como uma miragem a terra de onde partiram, não havia luz que brilhasse sobre eles além da lua, luz esta tão fria, tão límpida e forte que o homem podia ver a verdadeira pele da sereia, aquelas escamas finas e celestiais cintilavam por todo seu corpo úmido, seu rosto, já não tão humanoide, o encantava com sua beleza e singularidade.

Jungkook era perfeito em sua verdadeira casca, era tão livre e feliz no mar, como se pudesse flutuar em sentimentos calorosos.

O amava, não saberia explicar como um homem poderia se apaixonar por uma criatura marinha sem que ela o enfeitiça-se, mas ele o amava e continuaria amando mesmo que não pudesse andar, mesmo que não pudesse falar, amava sua alma por completo.

Era um sentimento invasivo e cálido, quando olhava aqueles olhos mar, abundantes em eterno movimento o chamando para mergulhar, sentia que poderia se afogar e se afogava cada vez que a besta sorria, a cada gesto que fazia e a cada palavra que dizia.

Sentiu-se morrer quando esteve longe e sentia-se a beira da morte quando o tocava, seu peito palpitava em paixão e sua alma se apaziguava em amor.

O amava como nunca amou ninguém.