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#CapitaoDevilFish

Nos dias em que o navio ficava à deriva, cercado pelo enorme Oceano Pacífico, não era possível se ver uma gaivota no céu, pois estavam longe demais de qualquer costa, ilha ou terra. E era quando acordava e encontrava-se em lugares assim que Jimin se sentia bem, se sentia em casa.

Sua mão enfaixada segurava o quão firme podia as malaguetas do timão e seus lumes miravam o horizonte sem fim, mas até ele devia admitir que vez ou outra seus olhos escapavam para Júlios, amarrado no alto do palo mayour, queimando sob o sol ardente com uma expressão sofrida na face, já na sua, só crescia um sorriso satisfeito. A tempos queria pôr especificamente aquele marinheiro lá.

Nunca se deu bem com Júlios, aquele homem não era tragável e repelia o capitão em minutos de convivência direta, sem contar na impertinente mania de superioridade, achando que podia mandar em algo, quando era um reles criado-de-bordo. Era inegável o fato do capitão tê-lo mantido nessa posição tão baixa pelo seu temperamento inadequado e impróprio para alguém em seu patamar.

Jerry até o indagou, assim que o viu pela manhã, quanto tempo pretendia o deixar naquela situação. E é óbvio que ele não o respondeu, afinal, também era óbvio que aquele marujo ficaria ali até quando o capitão achasse necessário.

Claro que sua vontade era de mantê-lo lá até que sua pele ressecasse e que seu corpo se tornasse apenas ossos, um lugar para as moscas pousarem e os urubus se alimentarem. Contudo, Jimin era um homem justo, justo e extremamente vingativo, seu sangue ainda fervia só de lembrar do hematoma nas costas já maltratadas de Jungkook, por isso o deixaria ao relento até que todas as feridas tenham sumido da derme gélida do tritão.

Seus olhos também observavam seus marinheiros abaixo, alguns limpavam o chão do convés, outros amarravam as cordas que prendiam as velas e aqueles como Taemin, que pegava os peixes trazidos a bordo pela rede enorme e os colocava em barris para venderem no primeiro porto que avistassem.

Ele aprendeu amar aquela vida calma, sem ouro, jóias e sangue em abundância. Mas não podia negar que sua alma clamava pelo passado, por se entregar aos seus impulsos mais sórdidos e violentos, se banhar em ganância e luxúria. Ser um dos piratas mais temidos e respeitados por todos os lugares que passasse, sempre junto de sua tripulação fiel e de seu amado Senjoo.

Sentia carência do amigo, do seu Espuma do Mar, daquela vida.

Mas agora não poderia voltar, havia feito uma promessa, essa que em muitos momentos se via tentando em descumprir.

- Capitão! Capitão Park! - Um grito meio esganiçado e completamente alegre chamou sua atenção para baixo, no convés, onde Taemin o berrava com a cabeça erguida para o alto, o procurando.

Em questão de instantes, deixou o leme nas mãos de Jerry e foi ouvir o que seu subordinado tinha a lhe dizer.

- Aconteceu alguma coisa? - perguntou assim que pôs os pés fora do último degrau que levava ao andar mais elevado da nau.

Jimin estava preocupado, noite passada o garoto o defendeu e se colocou em posição de briga. Estava com medo que alguns dos amigos de Júlios pudesse tentar feri-lo de alguma forma, afinal, aquele marujo era influente e por mais que o capitão exigisse algumas regras de convivência, não era sempre que a tripulação as cumpria.

Mas contra todos seus anseios, Taemin apenas sorriu grande e negou com a cabeça. O garoto estava tão radiante quanto o sol, eufórico o suficiente para sair nadando dali até a Europa.

- Na verdade, aconteceu algo sim. Eu consegui! - gritou todo alegre, pulando no mesmo lugar enquanto batia palma. Era realmente apenas uma criança, quando o olhava, Jimin via aquela pureza e inocência que não pertencia a vida que escolheu, as vezes se sentia culpado por estar tirando isso dele, mas tinha a consciência limpa por saber que se não fosse severo, outras pessoas poderiam machucá-lo de formas ainda mais cruéis.

Isca para peixeOnde histórias criam vida. Descubra agora