Vamo fazer isso direitinho.

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ISABELLA MARTINI

— Acho que azul combina mais com você.— digo e vejo um sorriso se expandir nos lábios de Sainz.

— Não tenho tanta certeza.— Ele coça atrás de sua nuca retorcendo o sorriso em seus lábios incomodado com a ideia de contrato com Williams.

— Não é de todo o mal...— Penso um pouco sobre correr em um carro meia boca tendo Max Verstappen na melhor equipe e Lando no melhor carro. — Bom digamos que temos um grande abismo.

— Grande?— Rindo o moreno balança a cabeça e direciona seu rosto para o chão.— Ok, vamos mudar de assunto. Isso me da calafrios.

— Lando saiu tem quase 15 minutos e ainda não voltou.— A recepção do hotel estava relativamente tranquila nessa manhã. O sol atravessava as janelas de vidro, projetando manchas douradas no chão de mármore polido. Meu celular em minha mão treme com uma notificação, é ligeiramente eu confiro pela barra de notificação.

Estávamos ali, de pé, lado a lado, tentando ignorar a presença um do outro enquanto esperavam o Lando voltar do quarto. O silêncio entre nós se tornou espesso, quase sufocante, e sabe como é, era quase possível ver toda a história passar entre a gente em símbolo de infinito, carregado por uma história de desavenças que parecia impossível de superar, mas vamos levar em consideração que nada é impossível.

Com os braços cruzados e o pé batendo levemente no chão, mantive o olhar fixo na porta de entrada, como se implorasse silenciosamente para que o tempo passasse mais rápido. Carlos, encostado na parede, deslizava o dedo pela tela do celular, mas sua postura tensa denunciava que a minha simples proximidade o irritava, e bom não posso discordar eu estava exatamente da mesma forma.

As únicas palavras trocados por nós não passavam de farpas entre, e era quase inevitável.

— Será que ele vai demorar mais uma hora?— Solto, num tom ácido, sem sequer olhá-lo. — Se soubesse, teria ido sozinha.

O vejo sorrir de canto. Sendo sincera ao máximo seu sorriso provavelmente me irritava a níveis absurdos, eu o detestava. — Você pode ir. Não sei por que insistiu em vir, se detesta tanto a companhia.— Ele diz. Rouco e arrastado, junto com a porção de tédio sua voz passa por mim me estressando quase imediatamente.

Eu finalmente me virou para encará-lo, os olhos faiscando com a mesma irritação de sempre. —Acha que fiz isso por você? O mundo não gira ao seu redor, sabia?

Ele levantou as sobrancelhas, obviamente tentando não perder a paciência. — Olha, não sei o que você tem contra mim, mas estamos aqui pelo mesmo motivo. Talvez devêssemos tentar sobreviver a isso sem arrancar a cabeça um do outro, que tal? Isso é tão cansativo.— Seus braços se cruzam sincronizando com o som do elevador que se abre não tão longe dali.

Estreito os olhos, desconfiada. —Fácil para você falar. Sempre acha que está certo, não é?— Também cruzo os braços e o encaro fixamente.

Ele suspirou, esfregando a mão na nuca, e como ele mesmo havia dito, provavelmente estava cansado daquela troca infinita de alfinetadas, mas se ele não fazia questão de parar, porque eu deveria? —Eu só estou cansado, ok? Nem tudo precisa ser uma briga entre a gente.— Sainz se afasta, caminhando até o sofá que estava logo ali.

A confissão dele a pegou de surpresa. Pela primeira vez, o tom dele não era de provocação, mas de cansaço genuíno. Algo dentro dela vacilou. Talvez, afinal, ele não fosse o único responsável por aquele constante atrito entre os dois.

relaxo um pouco os ombros, desviando o olhar para o chão.— Posso ser sincera?— Sua cabeça se vira lentamente até mim.

— Adiante.— Me responde simples.

— Eu também estou cansada.

O silêncio que se seguiu não era mais sufocante, mas estranho, diferente. Era como se algo tivesse mudado sutilmente, uma pequena brecha no muro de hostilidade que ambos tinham erguido ao longo do tempo.

Sainz parecia acolher minhas palavras, aliviando a expressão. Ele levanta, e eu ouço alguns passos se aproximando. Ele dá um passo à frente, ainda cauteloso.

—Talvez... Ou melhor, a gente só... começou com o pé errado.— Ele falou mais devagar, medindo as palavras. —A gente está sempre tentando se irritar, mas talvez... talvez isso só esteja desgastando mais a gente. E é tão chato, cansei de dizer o quanto é cansativo, estressante e inútil, insuportável eu diria.

O observo por um segundo, avaliando o que ele dissera. Parte de mim queria continuar com as farpas, seguir a velha rotina que parecia confortável, ainda que dolorosa. Mas a outra parte, a que estava exausta, e que estava em constante acompanhamento, percebeu que ele tinha razão. E sim talvez estávamos se destruindo mutuamente, sem motivo real, quer dizer, tinha motivo, mas já havia perdido o sentido, nem Liam liga mais para isso. Meu pai estava certo, eu realmente não preciso conviver com essa suposição que preciso e tenho necessidade de fazer tudo ser sobre mim, pegando a culpa de tudo e tomando as dores para mim.

—Talvez.— Respondo, quase num murmúrio. —Talvez seja isso... Talvez seja só isso.

Havia algo de desarmante naquele momento. Nenhum dos dois sabia como agir, como se a ausência de provocações tivesse deixado um vazio entre eles. Mas, curiosamente, não era um vazio desconfortável. Na verdade, era quase... aliviador.

O olho de lado, pela primeira vez sem a barreira usual. — O importante é que você sabe que é irritante, né?

Ele riu suavemente, sem sarcasmo, algo mais verdadeiro. — Sim, mas você também não fica muito atrás.

Por mais que quisesse não pôde evitar um leve sorriso. Era estranho sorrir para ele, mas não tão ruim quanto imaginava. E, no fundo, havia uma leve sensação de que, por mais que tentassem negar, algo estava mudando entre eles. Não era mais apenas desprezo ou frustração.

Antes que pudessem dizer mais alguma coisa, ouvimos alguém pigarrear logo atrás de nós. — Vão ficar nisso o tempo inteiro?— Lando diz com um sorrindo em seu rosto, rodando a chave do carro em seu dedo.

Nós se afastamos, retomando nossas posturas habituais, mas havia uma nova compreensão no ar, algo que não existia antes. Talvez, no fundo, odiar-se já não fosse mais tão simples assim.

Durante aquele dia inteiro, por incrível que pareça não nos falamos mais, e se nós falávamos era indiretamente.

At Hing Speed- Carlos SainzOnde histórias criam vida. Descubra agora