Como?

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Estava encostada no parapeito da escada, conversando com Lando. Não parecíamos estar sendo observados, então poderíamos conversar tranquilamente, e ficar totalmente à vontade para conversarmos oque quiséssemos. Estávamos discutindo a festa anterior, onde eu havia ficado com Arthur. As memórias da noite ainda estavam frescas em minha mente, mas o que me inquietava agora era o que Arthur poderia ter pensado ao me ver, mesmo que de relance, ficando com Lando nesta festa.

— Você acha que ele viu? — pergunto, tentando parecer despreocupada, mas com um leve toque de ansiedade.

Lando me olhou de lado, com um meio sorriso.

— E daí? O que importa o que ele pensa? — Lando deu de ombros. — Arthur não presta, e você sabe disso. Não deveria gastar seu tempo se preocupando com a opinião dele.

Ficou em silêncio por um momento, refletindo sobre as palavras de Lando. Ele sempre é direto, sem rodeios, o que de certa forma me acalma, já que sempre vai ser sincero, falando oque pensa. Ele tinha razão; Arthur era conhecido por ser imprevisível e irresponsável, e se ele tinha ou não visto algo, não deveria importar tanto assim.

— Talvez você esteja certo — Suspiro levemente e forço um sorriso.

— Claro que estou — Lando respondeu com um sorriso travesso. — Agora, esquece isso e aproveita a noite.

Eu assenti e terminou a conversa ali. Precisava de um tempo para pensar e esfriar a cabeça. Deixei Lando no bar e resolvi dar uma volta pelo jardim.

O apartamento no ultimo andar do prédio, tinha um jardim deslumbrante, que mais parecia um oásis elevado sobre as luzes cintilantes de Mônaco. Plantas exóticas cuidadosamente dispostas criavam um ambiente sofisticado e discreto. As luzes baixas, com tons dourados e âmbar, iluminavam sutilmente o espaço. O mar brilhava ao longe, visível entre as grades elegantes do terraço. O vento noturno, morno e perfumado pelo aroma das flores do jardim, era um convite para quem quisesse um momento de descanso da música alta e da agitação interna.

O vento suave bagunçava meus cabelos enquanto eu atravessava o corredor que dava para o jardim, até que, ao passar pela grande porta de vidro, vejo algo que me fez parar. Carlos estava ali, próximo a uma das grades que cercavam o jardim, e ao seu lado, Rebecca – oque me deixava um pouco curiosa, era o fato de não saber que ela estava na festa, ou melhor, como ela chegou aqui sem eu a ver.– Eles estavam próximos, sussurrando algo um para o outro, e, de repente, Rebecca riu, um som leve e melodioso, enquanto Carlos inclinava-se para ela, a mão dele roçando de leve o braço dela. O momento parecia íntimo, e algo dentro de mim revirou ao ver aquilo.

A confusão se instalou brevemente em minha mente. Por que isso me incomodava? Era Carlos. Não deveria me importar. Me endireito, ajustando a postura e decido que não daria importância. recobro minha pose confiante e atravesso o jardim com a cabeça erguida, como se não tivesse visto nada, fingindo que aquilo não me afetava, e é óbvio que não afetava.

Não olhar para eles mas escutar os estalos dos beijos calorosos me deixava desconfortável, e me pergunto porque ainda estava ali. Então não demoro, termino de beber todo o champanhe que estava em meu copo, vendo de longe um iate se aproximando da costas lotado de pessoas.

Dou uma última olhada. Vendo as mãos grandes de Carlos passarem pela cintura de Rebecca até a barra de sua calça preta.
Reviro os olhos ao ouvir pela última vez sua risada sem graça.

Volto para a sala, Lando me encontra de novo. E aparentemente ele percebeu que eu estava um pouco diferente –Era visível que aquilo havia me incomodado– Embora estivesse fazendo o máximo para tentar disfarçar.

— Tudo bem? — perguntou ele, curioso, bebendo um gole da sua bebida.

Dou de ombros, ainda fingindo indiferença.

— Tudo. Só dei uma volta pelo jardim.

Lando arqueou uma sobrancelha, visivelmente desconfiado.

— O que você viu?

Dou risada, um riso claramente forçado, e balanço a cabeça.

— Nada que importe.

Lando revirou os olhos, claramente não acreditando, mas deixou passar, sabendo que eu falaria quando quisesse. Nós trocamos mais algumas palavras antes de Lando ser puxado por outro Pierre para se aproximar dos rapazes que jogavam algo.

Enquanto eu voltava para o jardim, agora mais decidida junto a Kika e Carmen. Carlos aparece em nosso caminho. Com o olhar desafiador que conhecia tão bem. Respiro fundo, mantendo minha postura. O clima estava carregado, como sempre, mas agora algo a mais pairava no ar. Talvez fosse o desconforto de ter visto oque vi mais cedo.

— Está me seguindo? — Carlos perguntou, a voz rouca e provocativa, um sorriso de canto aparecendo.

levanto uma sobrancelha, mantendo o tom impassível.

— Seguindo? Não seja ridículo, Carlos. Eu só estou aqui tentando evitar perder meu tempo com gente que não vale a pena.

— Você vai ficar aí?— Kika para me olhando e Carmen se vira ao mesmo tempo.

— Vou já, vão na frente.— Elas dão de ombros e eu as vejo fazer a curva assim que atravessam a porta de vidro.

Cruzo os braços o encarando com desdém. Ele dá um passo para mais perto, também cruzando os braços, claramente se divertindo com o desafio.

— Ah, então é isso que você faz? Se afasta das pessoas que "não valem a pena"? Interessante... pensei que você gostasse de uma boa briga.

Uma risada sarcástica se solta, mas havia um toque de ironia em minha voz.

— Talvez eu tenha ficado cansada de lutar com gente que já perdeu faz tempo.

Carlos me olhou por um segundo a mais, o sorriso desaparecendo levemente. Ele parecia estar tentando decifrar algo, mas o ar rude  não cedia.

— Cuidado com o que você diz — ele murmurou, a voz mais baixa e intensa. — Às vezes, o que você finge não se importar acaba sendo exatamente o que mais te incomoda.

Eu não vacilei, segurando o olhar dele, embora por dentro estivesse me perguntando se ele estava certo.

— Oque quer dizer com isso?— Pergunto tentando sair por cima.— Acho que essas palavras se encaixam mais com você.

— Não teria tanta certeza, afinal, não sou eu que caço briguinha para inflar meu ego.— Um leve sorrisinho de canto se aparece nos lábios dele.

— Difícil, já que você sempre dá motivos. Estou seguindo enfrente sem esses desentendimentos, acredito que você também, mas aparentemente é mais difícil doque parece, parece me perseguir.— Tento passar por ele mas ele puxa fortemente meu braço me parando ao seu lado. Seu hálito quente se aproxima do meu ouvido, me fazendo arrepiar ao passar pelos diversos brincos.

— Tem alguma coisa te incomodando?— Sua voz rouco passa pelos meus ouvidos me dando um turbilhão de sensações diferentes.

— E se tiver? O que você tem haver com isso.— Me viro levemente, o encarando de mais perto. Encaro sem querer seus lábios e logo depois subo a visão para seus olhos, tentando não deixar os pensamentos intrusivos me consumirem.

— Então tá bom.— Ele solta meu braço, e sai me deixando sozinha no corredor.

At Hing Speed- Carlos SainzOnde histórias criam vida. Descubra agora