Ao inves de muros, construiremos pontes

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ISABELLA MARTINI

Mudei de quarto na primeira oportunidade que tive. Subi quase 3 andares, o mais longe possível.
Meu coração ainda não havia concordado, porém não o sentia leve, muito menos compreendido, e aquela angustia ainda estava comigo.

Ao em vez de sentir o alívio que imaginava, me sentia surda e pesada. A decisão de se afastar era o que eu claramente mais queria. Aquilo tudo parecia um carro acelerando sem controle em uma pista onde havia apenas curvas mas você sequer consegue enxerga onde elas se iniciam e onde terminam e então você apenas finge entender, deixando os pingos de chuva te cegarem ainda mais, dificultando ainda mais, porém você não vai deixar que vejam sua falta de experiência, muito menos sua vulnerabilidades quanto a isso, e quanto a isso, você apenas vai continuar, fingindo saber oque está fazendo, até que então dê certo.

Ainda assim, ali, sozinha no quarto, uma inquietação esmagava meu peito.

Olho em volta. O quarto era uma mistura de luzes apagadas e sombras longas. A janela aberta deixava uma brisa fria entrar, movimentando de leve as cortinas. A cama desfeita, as malas ainda fechadas. E aquilo me fazia pensar em como tudo aquilo parecia um pit-stop onde nada se encaixava, como se todas as peças tivessem sido tiradas e largadas sem ordem, sem propósito, porém oque me faltava era uma equipe e enfim poderia por tudo em ordem sem perder tempo e voltar para a corrida.

Em um respiro fundo, na esperança de que aquilo me acalmasse e acalmasse os meus próprios pensamentos. Eu tento incansavelmente me convencer de que tudo estava certo, que era isso o que deveria ser feito, e era questão de tempo. Mas a sensação de estar fora do lugar, com o motor rodando alto e sem direção, insistia em permanecer.

Exausta, sento na beira da cama e esfrego o rosto com as mãos. "Preciso me recompor", penso, mas aquilo pesava me fazendo repensar na decisão.

Pego o celular e abro em uma playlist calma, algo que costumava ouvir depois dos treinos para relaxar. A música trouxe um certo conforto, parando completamente meus pensamentos. Então eu me deito de costas na cama e fecho os olhos, deixando o som preencher o quarto e, lentamente, limpava aos  pouco a mente. E eu realmente queria que pela primeira vez em muito tempo, eu apenas parasse de correr mentalmente para qualquer lugar, fingindo das coisas e deixando meus impulsos descansarem um pouco. Aquilo era uma trégua.

E então, ali, no meio daquela quietude que eu tanto almejava, veio a percepção: a verdadeira liberdade, que se assimilava com minha constante vontade de ter razão de tudo, aquilo me fazia vangloriar minhas decisões e então voltar a uma linha reta, pensando que não havia erros e se houvesse eles já não me importavam mais. A sensação de leveza não viria de imediato. E eu sei bem que precisava de tempo para assimilar, entender, e até perdoar aquela parte de mim que ainda insistia em me perder.

Inspirou profundamente, a respiração agora mais lenta. O peso que carregava parecia, enfim, dar uma trégua. Respirei fundo antes de pegar o celular. Enviar uma mensagem para Lando não era fácil, considerando o tempo e a tensão que haviam se acumulado. Mas deixei o orgulho de lado e escrevi uma mensagem breve e sincera, explicando que precisava falar com ele.

Algumas horas depois, Lando me respondeu, aceitando se encontrar para conversar. Estávamos próximos da corrida, então combinamos de nos encontrar num pequeno café próximo ao autódromo.

Ao chegar, vi Lando sentado à mesa de canto, com os braços cruzados, o semblante sério. Ele levantou os olhos para me encarar, e percebi a mistura de sentimentos neles: mágoa, talvez raiva, mas também algo que eu queria acreditar ser saudade.

— Eai.— comecei, me sentando à sua frente. — Sei que temos muito a conversar e... quero ser honesta sobre tudo. Sobre mim e sobre o que houve com Carlos.

At Hing Speed- Carlos SainzOnde histórias criam vida. Descubra agora