Mon cherie

92 8 3
                                    

O apartamento estava vazio naquela manhã chuvosa, e o som suave da água batendo nas janelas era a única coisa que quebrava o silêncio. Estava sentada no sofá da varanda com Connor, deitado ao meu lado, de barriga para cima, o pequeno cachorrinho respirava calmamente, suas orelhas caídas sobre o sofá e seu focinho erguido, estava enrolado como uma bolinha, o pelo marrom brilhando suavemente à luz fraca que entrava pelas grandes janelas. O cheiro de café fresco pairava no ar, um conforto silencioso em meio à solidão. As luzes do apartamento estavam apagadas, exceto pela claridade cinzenta do dia chuvoso, que iluminava os móveis modernos e minimalistas do espaço.

Horas antes, Liam tinha acordado cedo, como de costume, os cabelos bagunçados e a expressão meio sonolenta enquanto caminhava pela sala. Ele estava prestes a viajar, e eu queria que o café da manhã fosse, ao menos, algo que deixasse uma boa lembrança antes da partida. A cozinha estava com o cheiro reconfortante de café fresco, e eu preparei algumas torradas para nós dois enquanto trocávamos poucas palavras. O clima entre nós era sempre leve, sem complicações, o que tornava as despedidas mais suportáveis. Quando Liam saiu, dando um último aceno casual antes de pegar a mala e desaparecer pela porta, o apartamento pareceu um pouco maior e mais vazio.

A cidade estava tranquila, envolta em uma bruma úmida. A chuva caía constante, tingindo de cinza as ruas abaixo. O parque em frente ao prédio, que geralmente estava cheio de pessoas passeando com seus cães ou correndo nas manhãs ensolaradas, agora estava vazio, exceto pelas árvores, que balançavam suavemente sob o vento frio. Eu observava tudo da varanda, sentindo uma familiar melancolia no ar. Era como se o mundo lá fora estivesse em sintonia com meu estado interior.

Por um momento, fecho os olhos, inspirando o aroma do café que descansava em minha xícara. O apartamento silencioso parecia vasto, um reflexo de minha própria solitude. As escolhas que posso ter feito ao longo do tempo — muitas delas sem perceber, quase por instinto — me levaram a um lugar de poucos amigos. Não era como se não desejasse conexão, mas era difícil, sendo quem sou. Minha personalidade complicada sempre trouxe desafios, e agora, na terapia, talvez estivesse começando a enxergar isso com mais clareza. Era uma jornada lenta e desconfortável, mas necessária. Eu sabia que mudar essa forma de ver as coisas e de se relacionar com os outros era o único caminho, por mais árduo que fosse.

No silêncio daquele apartamento, com Connor adormecido ao meu lado e a chuva do lado de fora, ela pensava em como a solidão, que antes parecia inevitável, agora começava a ser uma escolha que poderia transformar. Estava tentando, aos poucos, encontrar uma nova maneira de existir no mundo, sem deixar que o peso das decisões passadas definisse meu futuro.

A mente estava uma completa loucura, adoraria poder apagar, adicionar ou organizar em pastas tudo aquilo, mas talvez seja impossível.
Quando Liam esta viajando, e eu normalmente me sentia assim, sua falta era sempre persistente, a sua risada pela manhã, o cheiro de seus biscoito preferidos, que sempre eram queimados. Todos os carros ao meu dispor, era chato não ouvir sua voz estridente e gananciosa enquanto gritava com alguém em seu celular. Tedioso eu diria, não ter que ouvi-lo falar sobre a milhões de funções que tem um carro de fórmula 1.

Meu celular fazia tempo que não dava sinal, o que me faz pensar que havia faltado internet, porém era apenas porque ninguém havia mandou mensagem.

Uma notificação me chama atenção, era a primeira do dia, já que eu havia acordado a pouco tempo e ainda era 8 da manhã.

"Oi"
"Deixei minha carteira aí quarta-feira"
"Acredita que só lembrei agora?"
"Posso ir pegar?"

Sainz, engraçado ele ter esquecido algo tão importante, o pior não é nem isso, é ter esquecido e só ter lembrado 2 depois.

At Hing Speed- Carlos SainzOnde histórias criam vida. Descubra agora