Entre dores e amores- Rebeca Andrade e Simone Biles

17- The pain I never felt

A noite foi turbulenta, marcada por um turbilhão de emoções e sustos. Elis acordava assustada de tempos em tempos, seus olhos arregalados e cheios de medo, como se estivesse presa em um pesadelo que não conseguia escapar. Simone e Rebeca, observavam a menina com preocupação, sem entender o que se passava em sua mente. A pequena não falava, uma barreira que parecia intransponível, e isso apenas aumentava a angústia que já pairava no ar.

Por algum motivo, Elis não desgrudava dos braços de Simone. Era como se a presença da mulher fosse seu único porto seguro em meio à tempestade emocional que enfrentavam. Mas cada vez que Rebeca tentava se afastar, mesmo que para ir ao banheiro, era como acender um fogo de ansiedade na menina; as lágrimas brotavam de seus olhos e o desespero a dominava. O coração de Simone se apertava ao ver a fragilidade da criança, e ela fazia questão de envolvê-la em seus braços sempre que possível, oferecendo o conforto que Elis tanto precisava.

A noite passou lentamente, entre os sussurros de consolo e os abraços apertados. O ambiente estava impregnado de uma tensão palpável, e cada movimento era feito com delicadeza para não perturbar o sono agitado da menina. Quando finalmente amanheceu, o sol já estava alto no céu; ao abrirem os olhos, perceberam que era quase meio-dia. O cansaço se acumulava nos rostos delas - um reflexo da vigília silenciosa e da preocupação constante.

Com o passar das horas, as três tentavam retomar alguma normalidade naquele lugar marcado pela angústia e pela incerteza. Rebeca pediu um almoço simples para elas, enquanto Simone tentava entreter Elis com brincadeiras suaves e histórias inventadas. Mas mesmo essas tentativas eram frequentemente interrompidas por momentos de silêncio profundo, tanto de Simone e principalmente de Elis, onde as lembranças pareciam invadir cada canto daquele lugar.

Elis ainda permanecia em seu mundo silencioso, mas havia algo nela - uma fragilidade misturada com uma força silenciosa - que tocava o coração de Simone. A cada sorriso tímido ou olhar curioso direcionado à mulher, Simone sentia um fio de esperança se entrelaçar no meio daquela dor avassaladora.

No entanto, à medida que o dia avançava e as horas passavam lentamente, um telefonema inesperado interrompeu a rotina já tão frágil. O toque do celular ecoou pela casa silenciosa, fazendo com que Simone se sobressaltasse. Com um aperto no coração, ela atendeu a ligação.

Do outro lado da linha, a voz do policial era grave e direta: "Simone? Precisamos que você venha ao necrotério para reconhecer um corpo." As palavras foram como um golpe seco na alma dela. O mundo parou por um instante; a esperança que ainda pulsava dentro dela foi subitamente substituída por um desespero profundo.

Simone sentiu as pernas fraquejarem enquanto a realidade começava a se desdobrar diante dela - o medo de perder Liam agora parecia mais próximo do que nunca. Ela olhou para Elis, ainda agarrada aos seus braços, e soube que precisava ser forte não apenas por si mesma, mas também por aquela criança tão vulnerável ao seu lado. A jornada estava longe de terminar; havia muito mais a enfrentar antes que pudessem encontrar paz novamente.

Simone teve uma queda de pressão repentina e, em um instante, desmaiou no chão. A cena foi aterrorizante para Elis, que assistia tudo. A pequena começou a ter uma crise de pânico, seu coração acelerando enquanto a mente tentava processar a avalanche de emoções. Era muita coisa para uma criança de apenas três anos suportar. Desesperada, ela correu até o banheiro, onde sua mãe ainda terminava o banho.

" mamãe!", tentava gritar, mas as palavras pareciam presas em sua garganta. As tentativas foram em vão; a voz não saía, sufocada pelo medo. A angústia se apoderou dela, Rebeca começou a se preocupar. Ela não conseguia entender o que Elis estava tentando lhe mostrar, e essa confusão a deixou ainda mais ansiosa.

Com um impulso desesperado, Elis pegou a mão da mãe e a guiou até a sala. A conexão entre elas era forte e inabalável. Assim que Rebeca entrou no ambiente e viu Simone caída no chão, tudo fez sentido. O pânico tomou conta dela; a cena era devastadora.

Rebeca se aproximou rapidamente de Simone, tentando reanimá-la com toques suaves e palavras de conforto. O tempo parecia se arrastar enquanto ela lutava para trazer a mulher de volta à consciência. Finalmente, após alguns momentos que pareceram eternos, Simone começou a reagir. Quando os olhos dela se abriram lentamente, um choro profundo irrompeu de seu peito. Era um choro forte, repleto de dor e desespero - um grito silencioso pela perda que se aproximava.

"não consigo ir ao necrotério," Simone conseguiu murmurar entre as lágrimas quando finalmente Rebeca se sentou no chão só seu lado. Suas palavras eram carregadas de uma fragilidade desesperadora; o peso da realidade era insuportável para ela.

Rebeca sentiu seu coração apertar ao ouvir aquelas palavras. Ela também não queria ir; seu coração doía como se tivesse perdido uma parte de si mesma com cada pensamento sobre o que estava por vir. Mas em nenhum momento negou à amiga o que ela precisava enfrentar - naquele momento, quem estava perdendo um filho era Simone, não ela.

Enquanto as duas mulheres lidavam com suas dores internas, Elis havia corrido para um cantinho da cama e se encolhido no chão. Ela balançava seu corpinho pequeno como se estivesse tentando se regular em meio ao caos emocional que as cercava. As lágrimas escorriam pelo rosto da menina como uma cachoeira descontrolada; sua inocência não conseguia compreender completamente o que estava acontecendo ao seu redor.

A cena era dolorosa: três almas perdidas em meio à dor e ao desespero, cada uma lidando com sua própria batalha enquanto tentavam encontrar forças umas nas outras. O silêncio pesado na sala só era quebrado pelos soluços de Simone e pelos gritos silenciosos de Elis - um lembrete constante do amor profundo que unia aquelas três vidas em meio à tragédia.