38- we are not stupid children.

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A sala estava tensa. A agente do conselho tutelar, uma mulher de expressão fechada e olhar crítico, observava Liam com uma mistura de desdém e curiosidade. Rebeca e Simone, estavam posicionadas em um canto, cada uma sentindo a pressão da situação de maneira diferente. Enquanto Rebeca tentava manter a calma, Simone estava prestes a explodir.

— Fala pra tia como é a vida aqui na casa de vocês? — a agente perguntou, forçando um sorriso que não alcançava seus olhos.

— Eu ganho o que com isso? — Liam disse desinteressado, cruzando os braços.

"Só fala se não é pior pra gente" Simone sussurrou do outro lado da sala

— Hmm... É melhor do que a vida que eu levava nos EUA — Liam respondeu, ainda com um tom desdenhoso.

— E como era a vida nos EUA? — a agente insistiu, inclinando-se um pouco para frente, como se quisesse pescar alguma fraqueza nas palavras dele.

— Sem gaça. Eu não saía de casa poque meu pai não deixava eu nem minha mamãe sair, e nem visitas a gente recebia — Liam falou, o olhar fixo na parede à sua frente.

Rebeca encarava a gente com raiva por estar fazendo o filho responder aquelas perguntas ridículas sobre um assunto que elas mal tocavam na frente dele.

— E o que você mais gosta da vida aqui em Paris? — insistiu a agente, determinada a encontrar algo que pudesse usar contra eles.

— Não é o fato de ser um país diferente; é que aqui a gente fez uma família que é a mesma em qualquer país que a gente vá — Liam respondeu com firmeza.

A agente franziu o cenho.

— Sua família é sua mãe e seu pai, certo?

Liam soltou uma risada sarcástica.

— Voxê tá vendo meu pai por aqui? — sua voz estava carregada de ironia

— Quem é sua família então? — a agente perguntou, claramente desconfortável com a resposta.

— Minhas mães: Rebeca e Simone; minha irmã Maria Elis; e minha vovó Rosa. — A afirmação de Liam fez o coração das mães aquecerem ao mesmo tempo em que as palavras da agente cortavam como faca.

— Mas Rebeca, Elis e a Rosa não fazem parte da sua família — ela disse com desprezo, fazendo Rebeca fechar os punhos e se levantar levemente. Mas Simone segurou seu braço firmemente.

— As mamães sempre ensinam pra gente o significado de "Ohana," você sabe qual é? — Liam perguntou, desafiador.

— Não sei — respondeu a agente, claramente irritada por não ter respostas para as perguntas do menino.

— Imaginei! Se soubesse não falaria essas coisas idiotas. Mas eu explico bem direitinho pra quem tem dificuldade de entender. "Ohana" quer dizer família. E família quer dizer nunca abandonar ou esquecer — Liam disse com uma clareza impressionante para uma criança de quatro anos. A agente ficou sem palavras por um momento.

Rebeca olhou para Simone com lágrimas nos olhos; ela sentia orgulho do filho por ser tão eloquente, mas também raiva pela situação humilhante em que estavam sendo colocados.

— Até que você tem uma dicção boa pra uma criança de quatro anos — disse a agente, tentando retomar o controle da conversa.

— Não, eu não tenho. Mas costumo falar certo quando estou com raiva — Liam respondeu com um sorriso travesso no rosto.

A agente respirou fundo antes de mudar de tática.

— Tá... Me diz, você não gostaria de ter seu próprio quarto? Sua casa é grande e tem bastante espaço pra cada um ter o seu.

Entre dores e amores- Rebeca Andrade e Simone Biles Onde histórias criam vida. Descubra agora