49-Daddy?

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Os sonhos realmente estavam começando a perturbar a família, mas elas não tinham culpa das crianças terem um dom. Esse "dom", que deveria ser uma bênção, se transformou em um fardo pesado. As noites eram marcadas por gritos e choros, enquanto Liam e Elis se debatiam em pesadelos que  as mães não conseguiam fazer nada. Como explicar o que era um "boa noite cinderela" para uma criança de quatro anos? E como falar sobre algo tão terrível quanto um estupro para uma criança de três aninhos? A mente deles não conseguia processar essas informações, e a dor da impotência os envolvia como uma neblina densa.

A sensação horrível que sentiam ao acordar era indescritível. Quando tentavam contar pras mães sobre os sonhos, as palavras pareciam escorregar entre os dedos, e as lágrimas brotavam involuntariamente. O desespero tomava conta, pois não havia como explicar o porquê daquela angústia. Eram muitas coisas ao mesmo tempo, um turbilhão de emoções que desafiava qualquer lógica, e era assim que eles sabiam que o ato que aconteceu no sonho foi errado.

A sorte é que estavam no Brasil, e o consultório da doutora Melissa não era longe da casa de Rebeca. Elas sabiam que precisavam de ajuda urgentemente. O dia estava cheio de compromissos inadiáveis: um almoço com Luciano e depois uma visita ao salão da festa junto com Flávia. Essas obrigações pareciam triviais diante da tempestade emocional que enfrentavam, mas sabiam que se não as cumprissem, voltariam para Paris com questões ainda mais pesadas no coração.

As coisas estavam tão difíceis que tiveram que procurar ajuda externa, tanto para o casal tanto para as crianças. Rebeca dirigia com as mãos trêmulas, as crianças choravam sem parar, Simone estava inquieta não conseguia ficar parada por único segundo.

No consultório, a doutora Melissa sempre teve a família como prioridade. Ela entendia as dificuldades pelas quais estavam passando e sabia o quanto Liam e Elis eram pequenos para suportar tanto peso. Em menos de duas horas, ela conseguiu acalmar os quatro. Com empatia e técnicas cuidadosas, fez com que os pequenos se sentissem seguros, mas a solução veio com um pequeno sacrifício da parte delas: ceder as chupetas. Era uma pequena barganha pela paz momentânea.

Aquele dia ainda não terminara; havia muito a enfrentar ainda, mas pelo menos agora tinham um pouco de alívio. A esperança começou a fluir entre eles como um fio tênue de luz em meio à escuridão dos pesadelos.

13:15 - Adega Santiago

O ambiente estava envolto em um aroma de pratos sofisticados e vinhos finos, enquanto as paredes de pedra e madeira criavam uma atmosfera acolhedora. Rebeca, com os olhos arregalados, fixava-se no cardápio como se estivesse decifrando um enigma.

—Olha o valor de um prato aqui — exclamou Simone, gesticulando dramaticamente.

— Eu não ia falar nada, mas como a Simone já falou... — Luciano interrompeu, balançando a cabeça em descrença, os olhos fixos na lista de preços.

— Mommy, eu quero camarão rosa! — Liam gritou, seu olhar brilhando com a expectativa.

— Quero bife à milanesa, mommy! — acrescentou Elis, fazendo uma carinha que só poderia ser descrita como adorável.

— Aí não, vida. O combinado é sempre o mesmo: você paga o que a gente consome e eu pago o das crianças. Mas eu me recuso a pagar R$88,00 em um pedaço de bife e R$127,00 em quatro unidades de camarão. — A indignação na voz dela era palpável.

— Tô achando que vou ficar na água da casa mesmo — Luciano murmurou, tentando parecer despreocupado.

Rebeca cruzou os braços e fez uma expressão pensativa.
—Eu sei que sou exagerada no quesito gastar dinheiro, mas realmente não dá! No centro vende espetinho a cinco reais e vem mais coisa do que esses pratos que no mínimo têm que ter sido preparados com garfo de ouro para tá valendo isso tudo. — Ela balançou a cabeça com uma mistura de frustração e humor.

Entre dores e amores- Rebeca Andrade e Simone Biles Onde histórias criam vida. Descubra agora