18- We are arriving

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Rebeca saiu do necrotério com o coração pesado, ainda ecoando as palavras que tinha acabado de ouvir. A ligação de Simone havia sido um pedido agonizante para que ela fosse reconhecer o corpo, mas a verdade é que o peso da responsabilidade a deixara paralisada. No fundo, ela sabia que não poderia deixar a amiga enfrentar aquela dor sozinha, mas a ideia de ver o que restava de Liam a consumia de terror.

Ao chegar ao necrotério, uma onda de ansiedade tomou conta dela. O ambiente era frio e sombrio, e cada passo que dava parecia ecoar em um corredor interminável. Quando finalmente foi chamada, Rebeca se preparou para o pior. Mas ao olhar para o corpo coberto por um lençol, uma sensação inesperada surgiu dentro dela. A mulher atrás da mesa olhou nos olhos de Rebeca e confirmou o que ela não queria acreditar.

...

A cada passo que dava em direção ao hotel, sua mente estava repleta de pensamentos sobre Simone e o quanto ela precisava dessa notícia. A imagem da amiga angustiada a motivava a acelerar o passo.

Ao entrar no quarto do hotel, Rebeca encontrou Simone sentada na cama, com os olhos perdidos no vazio. O silêncio entre elas era ensurdecedor, mas Rebeca sabia que precisava quebrá-lo.

-Simone- ela começou, sua voz trêmula

-não era o corpo de Liam.

As palavras pairaram no ar antes de Simone processar a informação. A expressão em seu rosto mudou lentamente, e em um instante, as lágrimas que antes eram de desespero se transformaram em um misto de alívio e tristeza. As duas se abraçaram com força, como se aquele gesto pudesse dissipar toda a dor acumulada.

-Estamos tão perdidas- disse Simone entre soluços, enquanto Rebeca acariciava suas costas, tentando transmitir conforto.

-A cada novo alarme falso, sinto que estamos vivendo um pesadelo.
Precisamos encontrar Liam. Não podemos permitir que esses momentos nos destruam assim. Precisamos de respostas.

Elas se afastaram um pouco para olhar nos olhos uma da outra. Embora o alívio estivesse presente, as cicatrizes emocionais ainda eram profundas. Simone estava mais calma agora, mas as palavras pareciam faltar. O peso da situação ainda as mantinha amarradas a uma realidade angustiante.

-Vamos descobrir onde ele está-Rebeca disse firmemente.

-Não podemos desistir.

Depois de se acalmarem um pouco, Simone e Rebeca decidiram ir até Elis, que estava sentada no canto do quarto, com as mãos trêmulas e os olhos arregalados. O ambiente estava carregado de tensão, e o desespero da menor era palpável. Ao se aproximarem, notaram que Elis estava concentrada em algo que desenhava freneticamente em um pedaço de papel.

-Ei... Lilica, tá tudo bem amor-chamou Simone suavemente, tentando não assustá-la

-O que você tem aí nesse papel vida?-Simone falava enquanto Rebeca observava atentamente

Elis se virou bruscamente, e suas mãos tremiam ainda mais ao mostrar o papel para as duas. Rebeca e Simone trocaram olhares confusos

-Isso é a bandeira do México amor?- perguntou Rebeca, pois era a única que conseguia ver algo nos desenhos da filha além de rabiscos.

Elis abriu a boca para falar, mas as palavras pareciam ter se perdido em sua garganta. A frustração na expressão dela era evidente. Ela olhou novamente para a bandeira, como se estivesse tentando encontrar uma forma de comunicar algo muito importante.

Então levantou-se e apontou para uma das milhares de fotos de Liam na parede

- Liam está no México?-perguntou Simone lentamente

Elis acenou com a cabeça, os olhos brilhando com uma mistura de medo e esperança. Ela pegou um lápis e começou a desenhar rapidamente ao redor da bandeira, fazendo linhas onduladas que representavam ondas do mar.

-Água... praia...-murmurou Rebeca ao perceber o que Elis estava tentando indicar.

Elis assentiu novamente. Ela logo pegou o papel e fez um gesto largo com as mãos, como se quisesse mostrar uma grande extensão de praia.

- O que mais você viu?- Simone perguntou intrigada

Elis começou a desenhar uma casa simples com janelas grandes e um telhado pontudo perto das ondas que ela havia desenhado anteriormente. Ela parecia cada vez mais envolvida na tarefa de transmitir sua visão.

-Uma casa... perto da água... isso é tudo o que você viu? Alguma coisa mais?- Rebeca perguntou

A expressão de Elis mudou para uma de angústia enquanto ela tentava recordar os detalhes do pesadelo que a atormentava. Ela fez um gesto como se alguém estivesse chamando por ela, mas logo depois cobriu os olhos com as mãos, como se estivesse tentando afastar uma memória perturbadora.

- calma bebê- disse Simone, a pegando no colo ainda com a folha e um lápis na mão.

Elis respirou fundo e começou a desenhar uma pessoa grande e assustadora. Ela olhou nos olhos das mulheres e acenou firmemente. As lágrimas começaram a escorregar pelo seu rosto

-é o papai dele?
Elis assentiu.

-Arrumem as malas. Nós vamos pro México.

Entre dores e amores- Rebeca Andrade e Simone Biles Onde histórias criam vida. Descubra agora