Rebeca estava sentada no chão do banheiro, a frieza do azulejo contrastando com o calor que emanava de seu corpo. As coxas estavam ensanguentadas, não apenas pelos arranhões que ela mesma fizera, mas pela dor que se entranhava em sua alma. Seu rosto era um reflexo de sua angústia: inchado, vermelho e marcado por lágrimas que nunca pareciam ter fim. O banheiro, antes um espaço de refúgio, agora se tornara um cenário de desespero, com estilhaços de espelho espalhados pelo chão, como fragmentos de sua própria vida despedaçada.
Simone, exausta e abatida, mal conseguia acreditar no que via. Mesmo sem forças, ela se levantou da cama, cada passo uma luta contra o peso do mundo que parecia esmagá-la. Seu próprio reflexo era triste; os olhos fundos e sem brilho , marcas profundas em seus braços feito por suas unhas eram evidências de uma batalha interna que ela não sabia como vencer, as pernas bambas que teimavam em não querer se mover... Tudo doía, e não era apenas dor física, seu coração estava magoado.
Quando finalmente abriu a porta do banheiro, seus olhares se cruzaram e a conexão foi instantânea, como se todo o tempo perdido entre elas evaporasse em um segundo. O silêncio pesado foi quebrado pelo choro incontrolável que irrompeu de ambas. Era um lamento coletivo, uma sinfonia de dor e arrependimento.
— Desculpa... — Rebeca murmurou, as palavras quase inaudíveis entre os soluços. O peso da culpa esmagava seu peito, e cada letra saía como se rasgasse sua garganta.
Simone sentiu um nó se formar em seu estômago. Ela queria correr até Rebeca, abraçá-la forte e fazer com que toda aquela dor desaparecesse em um segundo. Mas algo a detinha; talvez fosse o medo do que poderia acontecer a seguir.
— Vem aqui, levanta... A gente não pode ficar nesse estado, Rebeca — Simone tentou falar com firmeza, mas sua voz estava embargada pelo choro contido. Era uma súplica mais do que uma ordem.
O ambiente continuava pesado; as paredes pareciam se fechar ao redor delas enquanto a tensão crescia. Rebeca hesitou por um momento, olhando para o chão coberto de estilhaços que refletiam suas emoções mais profundas: raiva, tristeza e um desejo desesperado por reconciliação.
— Eu não sei se consigo... — disse Rebeca entre lágrimas.
Simone respirou fundo, tentando encontrar as palavras certas em meio ao turbilhão emocional que sentia. Ela sabia que aquele momento era crucial; era a chance delas se reconectarem ou deixarem tudo desmoronar para sempre.
— Olha pra mim — Simone pediu suavemente, aproximando-se lentamente. Ela queria mostrar a Rebeca que ainda havia esperança entre elas; que mesmo na escuridão havia uma luz esperando para ser encontrada.
Rebeca levantou os olhos lentamente; cada movimento era como escalar uma montanha cheia de espinhos. Quando finalmente encontrou o olhar de Simone, algo mudou dentro dela. As lágrimas ainda escorriam pelo seu rosto, mas havia algo mais agora: uma centelha de compreensão.
— Eu sinto tanto... — disse Rebeca com a voz trêmula.
— Eu também sinto — respondeu Simone com sinceridade. A vulnerabilidade no olhar da amiga fez seu coração acelerar; era como se aquele momento pudesse curar tudo o que estava quebrado entre elas.
As duas começaram a se mover uma em direção à outra lentamente, como se o medo ainda estivesse presente. Mas ao mesmo tempo havia uma urgência crescente para finalmente enfrentar tudo o que ocultavam dentro delas – todas as palavras não ditas e os sentimentos guardados.
Quando estavam a poucos passos de distância uma da outra, Simone estendeu a mão como um convite silencioso. Rebeca hesitou mais uma vez antes de alcançar essa mão estendida – um gesto simples que carregava promessas imensas.
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Entre dores e amores- Rebeca Andrade e Simone Biles
RomanceEm 2018, no Catar, duas estrelas do esporte se cruzam pela primeira vez: Simone Biles, a prodígio da ginástica americana, e Rebeca Andrade, a promissora atleta brasileira. A conexão instantânea entre elas promete um amor que transcende fronteiras. N...