Priscila Barcella
A cada minuto naquele lugar, minha ansiedade aumentava, e o medo de Íris correr algum perigo só intensificava minha preocupação.
Enquanto nos aproximávamos do segundo corredor, escutamos a voz de Íris clamando para ser deixada em paz.
— Não encoste em mim! Eu quero ir para casa — sua voz ecoava, cheia de terror, fazendo com que minha adrenalina atingisse o pico. Não hesitamos em arrombar a porta imediatamente.
O garoto devia ter uns vinte e três anos, estava apenas de cueca e tentava beijá-la à força. Ela o afastava com as mãos, mas ele era mais forte e já tinha rasgado um pedaço do short dela.
Ao ver aquela cena, uma sensação de déjà vu passou pela minha cabeça, trazendo memórias que tento ocultar há anos. Em questão de segundos, arranquei ele de cima dela, enfiando minhas unhas em sua pele, fazendo-o sangrar.
— Quem são vocês? Por que estão fazendo isso? — Ele questionou confuso, enquanto eu o prensava contra a parede, com uma mão em seu pescoço, privando-o de ar. — Você é maluca — conseguiu articular com dificuldade.
Tomada por uma raiva avassaladora, senti que aquele homem merecia ser punido. Homens abomináveis como ele não deveriam sequer existir, foi o primeiro pensamento que permeou minha mente ao erguer seu corpo do chão.
Ele tentava falar, mas eu já estava decidida. Quem ele pensa que é para tirar a inocência e a liberdade da minha menina?
— Isso é pela minha filha — declarei, jogando-o ao chão e começando a agredi-lo. Mesmo quando ele já não tinha mais condições de se sustentar, continuei desferindo chutes. — Isso é pelo que você tentou fazer com ela.
Segurei-o pela gola e o forcei a ficar de pé.
— Nunca mais, entendeu? Nunca mais na sua vida se atreva a se aproximar da minha filha, senão arrancarei seu membro com minhas próprias mãos — pressionei-o contra a parede e o golpeei até ele começar a cuspir sangue. — Nunca mais se atreva a abusar de uma mulher, porque se o fizer, eu mesma mostrarei a você o que é ser abusado, o que é sentir medo até da própria sombra, seu verme repugnante — proferi, desferindo diversos chutes em seus genitais.
Liam me afastou dele, sabendo que, com a fúria que eu sentia, poderia facilmente acabar com a vida daquele homem com minhas próprias mãos.
— Priscila, acalme-se. Íris está bem — ele tentou me tranquilizar, e então me dirigi a ela.
— Ele te machucou? — questionei, procurando por qualquer sinal de ferimento. Íris me abraçou, tremendo de medo. — Estou aqui com você, e prometo que não deixarei ninguém te machucar — assegurei, apertando-a com força.
— Desculpa — ela soluçava, enlaçando-me ainda mais.
— Depois conversamos. Onde está a Ramona, querida? — indaguei.
— Ela me deixou com o Pulga, dizendo que eu já era velha demais para não conhecer diversões adequadas — Íris contou, sem se afastar de mim. — Pensei que seria algo como o jogo da garrafa, mas não era, e não sei onde ela está.
Olhei para Liam, que entendeu o recado.
— Pode ir, eu a encontro — ele assegurou. Segurei a mão de Íris e a retirei dali. A saída não foi fácil, mas empurrei qualquer um que ousasse cruzar nosso caminho, determinada a nos afastar o máximo possível daquele lugar.
No condomínio, há três praças. Perto da nossa casa, há uma delas, que estava meio vazia. Acredito que as pessoas estão incomodadas com o som alto, mas seria um bom lugar para esperar o Liam. Sentamos em um banco, e a Íris estava tão grudada em mim que se acomodou no meu colo como uma menininha, me abraçando com força. Eu retribuí o abraço, tentando passar uma certa segurança.
Eu sabia muito bem como ela estava se sentindo. E justamente por conhecer essa dor, eu não conseguia falar nenhuma palavra; apenas a abraçava e a cheirava. Depois de um tempo, criei coragem para falar.
— Eu fiquei tão preocupada. Nunca mais saia assim sem me avisar. Eu me preocupo com você — falei, com os olhos cheios de lágrimas, enquanto a cheirava.
Ela olhou para mim e limpou meu rosto com carinho.
— Desculpa. Eu juro que pensei que era só uma festinha. Eu nunca tinha ido a uma, a mamãe não deixava eu ir a lugar nenhum sem ela e o papai. Mas eu não queria ir com ele para aquele quarto, ele me levou à força. Ele tentou me dar uma bebida, mas a mamãe sempre disse para não aceitar bebidas ou qualquer coisa de ninguém.
— Ainda bem que você lembrou do que sua mãe falou. Íris, me escuta, eu só quero o seu bem. Por isso, às vezes, eu grito e não deixo você fazer o que quer. Eu não posso ser legal e colocar sua vida em perigo...
— Obrigada, tia. Desculpa por dizer que você não se importa com a gente...
— Claro que eu me importo com vocês. Eu só tenho meu jeito de mostrar essas coisas. Não sou boa com sentimentos, sabe? É tudo novo para mim — falei, e ela beijou minha bochecha.
— Eu sei. Eu não tenho mãe há pouco tempo e dói. Imagino como deve ser para você e a mainha, que perderam a mãe pequenas — ela falou, deitando a cabeça no meu ombro.
— Eu sinto saudades até hoje. Sei como é ruim não ter ninguém, mas vocês não estão sozinhos. Eu estou com você — falei, acariciando suas costas.
Ficamos assim por um tempo; ela precisava saber que estava segura.
— O Liam está demorando — falei, já preocupada. Podem tentar fazer algo com ele.
— Tia, por que você está toda molhada? — ela perguntou, só agora percebendo, mesmo eu já tendo deixado ela toda molhada.
— Eu caí na piscina, mas deixa isso para lá. Onde está o Liam? Ele está demorando. Será que está bem? — falei, realmente preocupada, e fiz movimento para me levantar. A Íris me abraçou mais forte.
— Não me deixe sozinha — ela falou, apertando-me ainda mais.
— Ei, não vou te deixar. Vem, vamos para a casa da tia Nat. O Ramon tem que vir ajudar o Liam — falei, e fomos andando até a casa da Natália.
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Continua...
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O babá
RomanceApós a trágica morte de sua irmã e cunhado em um acidente, Priscila, uma renomada empresária conhecida por sua dedicação implacável à carreira, se vê inesperadamente responsável pelos seus quatro sobrinhos órfãos. Acostumada a lidar com os desafios...