Capítulo 36

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Priscila Barcella

— Vamos para o quintal? O Liam é só um, e não sei se os meus anjinhos sabem nadar — falei, enquanto tomava um gole de café, tentando conter o sorriso nervoso. Ainda estou aprendendo a equilibrar meu papel de mãe com a tia que sempre fui.

Ela concordou, e caminhamos até lá, onde Belinha e Ítalo brincavam no lado raso da piscina com Henrique. Ver os três juntos aquecia meu coração, embora uma parte de mim ainda questionasse se eles realmente se sentiam em casa comigo.

— Mamãe! — a voz de Belinha soou alta, chamando minha atenção. Cada vez que ela me chama assim, algo dentro de mim se ilumina, mas também surge uma sensação de que preciso provar para eles que estou à altura desse papel.

— Oi, minha princesa — respondi, com um sorriso suave.

— Nada, mamãe... é que o Henrique falou que você não era minha mãe — disse ela, com uma mistura de inocência e curiosidade no olhar.

Engoli em seco, sentindo uma pontada de tristeza e compreensão.

— Eu não sabia, Dinda... — Henrique pareceu desconcertado, mas sorri, tentando suavizar o momento.

— Está tudo bem, campeão. Todos nós estamos nos ajustando, não é?

— Dinda, você trouxe meu presente? — perguntou ele, animado.

— Não, mas depois podemos resolver isso — disse, percebendo a impaciência brilhar nos olhos dele.

— Ela está enrolando? — ouvi Ítalo cochichar para Belinha, como se planejassem algo.

— Não, ela me dá o dinheiro, e até prefiro. Sua mãe não é das melhores em escolher presentes — o Henrique falou contando um fato realmente sou péssima em escolher presentes.

— Não é verdade! — Belinha se apressou em me defender, e meu coração deu um salto. Vê-la me proteger, mesmo em uma brincadeira, era o tipo de coisa que me fazia sentir como parte da família deles, como se estivéssemos finalmente nos encontrando.

Sentei-me na sombra com minha bebê no colo, observando o riso dos outros. Do outro lado, vi Íris conversando com Ramona, e, mesmo de longe, senti algo na postura dela, uma leve rebeldia, como se estivesse ensaiando algum pedido.

Enquanto isso, Liam ajudava Ramon na churrasqueira, e Natália e eu ríamos das pequenas histórias do dia. Em meio a isso, não conseguia evitar o sorriso sempre que meu olhar pousava em Liam, a paz que sentia ao saber que ele estava ali.

Quando o sol começou a se pôr, tirei Belinha e Ítalo da piscina, e Liam se ofereceu para colocar Nina para dormir.

Depois de dar banho em Belinha e vesti-la, pedi para Ítalo fazer o mesmo. Ao terminar de secar o cabelo deles, Belinha se aconchegou em meus braços, enquanto Ítalo foi jogar videogame com Henrique.

— Tio Liam, olha como estou linda e cheirosa! — Belinha riu, encantada. Liam se aproximou, pegando-a do meu colo com a gentileza que só ele tem.

— A mamãe quer que eu durma agora, acredita? — ela disse a ele, com um olhar de cumplicidade.

— Acredito sim, princesa. E está linda e cheirosa — ele respondeu, com carinho na voz.

Nesse momento, Íris entrou na sala, sua expressão séria, como se estivesse se preparando para uma batalha.

— Priscila... os vizinhos estão dando uma festa e convidaram a mim e à Ramona. Posso ir, por favor?

Minha primeira reação foi hesitar, o impulso de protegê-la lutando com o medo de afastá-la.

— Primeiro, nada de me chamar pelo nome. E além disso, eu não conheço os vizinhos, nem sei quem são os pais deles, e nem se estarão lá.

— Mas, tia... por favor! Eu nunca fui a uma festa! — A frustração era evidente, e eu sentia a urgência dela em se encaixar, em sentir que tinha uma vida própria.

— A resposta é não, Íris. Você não conhece essas pessoas, e ainda é só uma menina. Quero que você entenda que eu só quero o seu bem.

— Eu te odeio! — ela gritou, antes de sair correndo.

— Eu também te amo — gritei para ela ouvir, e Natália sorriu ao meu lado, tentando me dar algum consolo.

— Que custa deixar a menina ir? Elas nem vão sair do condomínio — Ramon disse, tentando argumentar.

— E quem são esses vizinhos? Quantos anos têm? Quantas pessoas estarão na festa? Vai ter bebida? Os pais estarão em casa? Onde é essa casa? — perguntei, um pouco aflita. — Ela pode me odiar, mas prefiro que ela ache que sou a pior pessoa do mundo do que vê-la correndo algum risco.

— Viu, Ramon? É assim que os pais deveriam agir. E olha que ela está com esses filhos há menos de três meses — disse Natália, com um toque de admiração.

Precisei sair por um instante, para acalmar a mente e organizar os sentimentos. Fui para o quintal, tentando recuperar o equilíbrio, e logo senti a presença de Liam ao meu lado.

— Vai dizer que estou errada? — perguntei, enquanto caminhávamos à beira da piscina.

— Não, acho que fez certo. Só estou fugindo de lá. Já ouviu o ditado: briga de marido e mulher não se mete a colher? — brincou, rindo, até escorregar e cair na piscina.

— Liam! — gritei, o coração disparando ao vê-lo sumir na água. Em meio ao desespero, tirei os chinelos e mergulhei na piscina, sem hesitar, para encontrá-lo. No fundo, algo em mim sabia que não aguentaria vê-lo se ferir.

Quando finalmente o encontrei e o trouxe à superfície, ele respirou fundo, me olhando com um sorriso de alívio.

— Você está bem? — perguntei, e, em resposta, ele me puxou para um abraço apertado. Ficamos assim, apenas sentindo o calor um do outro, enquanto eu tentava processar o quanto aquele momento significava para mim.

— Você pulou para me salvar? — ele perguntou, surpreso.

— Claro! — respondi, mas minha atenção estava fixa em seus lábios.

Ele sorriu, e, desta vez, sem qualquer hesitação, me puxou para mais perto. Nosso beijo começou suave, cada toque transmitindo sentimentos que nenhuma palavra conseguiria expressar. Meu coração pulsava forte, e meu corpo parecia arrepiar-se em cada ponto onde ele me tocava.

Mesmo na água, sentia um calor indescritível que me envolvia e me prendia a ele, e com cada segundo, a certeza de que eu não queria que aquele momento acabasse. Quando finalmente nos afastamos, ofegantes, nossos olhares se encontraram. Naquele instante, não eram necessárias palavras. Tudo estava dito ali, no silêncio e na intensidade do nosso beijo.

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Continuar...

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