Capítulo 62/2

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Priscila Barcella

Tentei, a todo custo, focar apenas no trabalho enquanto observava Nina se divertir no tapete musical. Sua risada era como um bálsamo, mas meus pensamentos estavam a quilômetros de distância. Liam. Max. E um futuro que parecia uma incógnita.

Max tinha razão: eu merecia ser feliz. Já paguei pelos meus erros de tantas maneiras que perdi a conta. Talvez, só talvez, eu pudesse acreditar que um recomeço era possível. E Liam... Bem, ele era maravilhoso. O tipo de homem que parecia saído de um sonho bom.

Mas Max... Max era constante. Uma rocha firme. Sempre presente, mesmo quando eu não sabia que precisava dele.

Quando percebi, o tempo havia voado. Já passava das duas da tarde, e eu precisava voltar para casa. A ideia de encarar o caos — e Liam — me deixou nervosa, mas também curiosamente animada.

Assim que abri a porta, fui recebida por um mar de vozes e risadas. A casa estava uma bagunça, no melhor sentido da palavra.

Ítalo, rodeado por dois amiguinhos, Gabriel e Paulo, mal levantou os olhos do videogame. Íris conversava animadamente com uma menina, e no sofá, uma mulher parecia um pouco deslocada.

— Boa tarde — cumprimentei, forçando um sorriso para acompanhar o clima agitado.

— Boa tarde, tia! — Íris correu até mim, empolgada. — Tia, esta é a mãe da Katiuscia, minha amiga. Ela veio trazer a matéria.

— Muito prazer — falei, estendendo a mão à mulher, que parecia aliviada por eu não me importar com a visita inesperada.

— Desculpe aparecer assim. A Katiuscia insistiu para trazer o material...

— Sem problema algum. Fico grata por ela ajudar. Assim, Íris não se atrasa.

Beijei a cabeça de Íris e perguntei baixinho:

— Está tudo bem, meu amor?

— Sim, o tio Liam me ajudou. Mas hoje ninguém te viu saindo. Aconteceu algo?

— Não, só precisava resolver algumas coisas cedo — expliquei, acariciando o rosto dela.

— Mamãe, a Katiuscia pode ficar aqui hoje?

Olhei para a mãe da menina, que hesitou.

— Por mim, tudo bem. Agora a decisão é dela.

— Não quero incomodar...

— Não é incômodo nenhum. Podemos levá-la para casa mais tarde.

Depois de mais algumas trocas de palavras e despedidas, a mãe de Katiuscia foi embora, e Ítalo finalmente reparou na minha presença.

— Filho, esqueceu que tem mãe? — brinquei, toda dramática.

— Desculpa, mãe. É que estamos numa partida muito difícil...

— E oi pra vocês também, Gabriel e Paulo!

— Oi, tia! — os dois responderam em coro, sem desviar os olhos da tela.

Tentei conter uma risada.

— Escutem, vou receber uma visita importante. Será que podem ir para os quartos?

— Quem é? — Ítalo perguntou, pausando o jogo.

— O Afonso...

— O cara do encontro de ontem? — ele fez uma careta.

— Ele é nosso inimigo, mãe! — declarou, exagerando na indignação.

— Ele não é inimigo de ninguém, Ítalo. Pelo contrário, ele é um amigo.

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