Priscila Barcella
Não dormi preocupada com as minhas meninas, sentindo o peso da responsabilidade esmagando meu peito. Era como se cada suspiro delas fosse um lembrete da minha necessidade de ser forte.
Ainda bem que comprei as fraldas para a Belinha, pois ela só não fez xixi na cama porque estava usando-as. Quando a Nina acordou, eu dei um banho nela e a arrumei.
A Belinha acordou com o barulho, e resolvi arrumá-la também com a roupa que estava no meu quarto. Coloquei uma calça e uma blusa de botão e saí com as meninas antes das 7 da manhã. O sol ainda estava nascendo, tingindo o céu com tons suaves de rosa e laranja, enquanto uma brisa fresca trazia o cheiro de terra molhada.
A Belinha ainda estava meio sonolenta; coloquei ela e a Nina nas cadeirinhas e fiquei esperando a Natália e o Henrique, que não demoraram a chegar.
— Não vai ser difícil para você me levar em casa? — ela perguntou enquanto eu colocava a bagagem dela no porta-malas do carro e, em seguida, o Henrique, que também estava sonolento.
— Eu quero ficar mais um tempo com a minha amiga — falei, puxando-a para um abraço.
— Você realmente não está bem — disse a Natália, abraçando-me de volta, um toque de preocupação na voz.
— Nós duas não estamos bem — falei, e ela concordou com a cabeça. Beijei sua bochecha.
— Mas vamos ficar bem juntas, como sempre fazemos. Sempre estamos aqui uma para a outra, não é?
— Sempre, amiga. Sempre juntas — ela respondeu com um sorriso.
Entramos no carro e fomos em silêncio por um tempo, vendo as crianças dormindo.
— Fico feliz que você trouxe as meninas — ela falou, sorrindo ao olhar para o banco de trás.
— Ontem, quando eu cheguei em casa, me senti um lixo. Estou confusa ainda, mas não posso deixar as minhas meninas. Elas precisam de alguém, não de babás ou funcionários; elas precisam de mim. E eu sinceramente ainda não sei como vou fazer, mas preciso equilibrar minha vida.
— Eu entendo, amiga. É difícil encontrar esse equilíbrio. Nem eu, que planejei o Henrique e me preparei de alguma forma para ser mãe, consigo equilibrar o profissional com o pessoal. Você, de repente, ganhou quatro filhos de idades totalmente diferentes, com pensamentos diferentes. É difícil, não se cobre tanto.
— Quando eu olhava para você, parecia ser tão fácil, mas sentindo na pele, ser mãe não é nada fácil — falei, e ela sorriu.
Fomos conversando por um tempo, até que a Nina acordou reclamando. Tentei acalmá-la enquanto dirigia, o que fez a Natália rir da minha cara. Mas, quando coloquei Elis Regina, ela se acalmou enquanto eu cantava.
— Ontem você viu o Max? — ela perguntou, quebrando o silêncio confortável que havia se instalado entre nós. Olhei para ela e voltei a prestar atenção ao trânsito. — Ele me ligou preocupado com você, e eu nem sabia que ele ainda tinha o meu número — ela falou, e fiquei confusa.
— Que horas ele ligou para você? — perguntei, querendo saber se era coincidência ou se ele sabia que eu estaria lá.
Ela pegou o celular e foi ver o horário da ligação dele, que coincidiu com o horário em que eu tinha ido deixar as meninas com o Liam.
— Me fala do Max — a Natália falou quando estávamos em um túnel.
— Se você não estivesse no carro, seria uma ótima hora para o sinal cair — falei, e ela riu.
— Não me enrola. O Max continua gato?
— Sim, ele é um homem muito bonito e também muito insistente, mas eu não tenho interesse nenhum em ter alguém na minha vida.
— Eu te amo muito, sabe, amiga, e me dói ver que, mesmo depois de tanto tempo, você não consegue esquecer — ela falou, referindo-se ao meu passado.
— Não dá para esquecer, Natália. Para mim, voltar para aquele lugar, mesmo que por pouco tempo, trouxe muitas memórias e medos que eu tinha perdido. Mas eu sei que você não entende, e fico feliz por isso — falei, tentando me concentrar para não me colocar naquele lugar de novo.
— Você é muito forte, você nunca desiste...
— Às vezes eu só queria ser uma vilã. Acho que teria menos trabalho.
— Que nada, os vilões são os que mais se esforçam. Sabe quantas vezes a rainha má bolou planos contra a Branca de Neve? E a Malévola, ela até virou um dragão. A Úrsula...
— Verdade, mesmo assim...
— Você é uma mistura da Elsa do Frozen com a Luíza de Encanto...
— Luíza?
— Eu sou forte, não vacilo. Qualquer coisa para mim é tranquilo. Vem com tudo, eu aguento, e ninguém vai negar meu talento. Não questiono se é pesado, meu corpo suporta o fardo... — Ela começou a cantar, e eu tive que rir.
— Neste filme eu com certeza seria o Bruno.
— Pior que é verdade, não falamos da Priscila — ela começou a cantar. — Sábado eu vou estar te esperando com as crianças, né amor da Dinda?
Ela falou com a Nina assim que entramos no condomínio onde ela mora, e quando estacionei na casa dela, logo uma funcionária apareceu para pegar o Henrique, que ainda dormia. Natália depositou um beijo na bochecha da Belinha, que abriu os olhos.
— Já chegamos? — ela perguntou ainda sonolenta.
— A tia Natália já vai — falei, e ela abraçou a Natália.
— Tchau, titia — ela falou, e a Natália sorriu toda boba.
— Não esqueça de sábado, viu Priscila — a Natália falou, me dando outro abraço.
— Eu vou pensar.
Ela revirou os olhos, e mandei beijo voltando para o carro.
— Eu estou com fome — a Belinha anunciou, e a Nina começou a reclamar.
— Entendi, minhas meninas estão com fome. Eu também estou. Tem um restaurante que eu amo muito que fica aqui perto, vamos lá — falei, colocando o cinto de segurança.
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Continua...
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O babá
RomanceApós a trágica morte de sua irmã e cunhado em um acidente, Priscila, uma renomada empresária conhecida por sua dedicação implacável à carreira, se vê inesperadamente responsável pelos seus quatro sobrinhos órfãos. Acostumada a lidar com os desafios...